quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A CONFISSÃO DE UM JUREMEIRO

Jair Gael Lvnae em prática de Jurema Sagrada Catimbó
(Vilas de Abrantes-Bahia)

Sempre me pedem para que eu defina meu caminho..Há uma insistência para que eu diga  de uma vez por todas que crença eu sigo. No que acredito. No que sou e porque sou... Defina-se!!!!!, dizem..

...Mas, qual ser humano tem facilidade de definir a si mesmo sem cair no pieguismos ou sem está compromissado com os padrões exigidos pela sociedade ou pelo grupo (ou tribo) que esteja inserido ou queira se inserir?

“Cada qual que seja feliz com suas escolhas...”

Aos que buscam compreender quem eu sou, saiba que não me defino, eu mim  reinvento e sempre que for preciso torno novas todas as coisas dentro e  ao redor de mim mesmo. Abandono quem e o que para seguir a sabedoria  da Ciência Sagrada...

Nos caminhos que percorri deixei pessoas que amei, lugares que me apaixonei, crenças e práticas que vivi para “vir a ser. Eu abandonei caminhos dantes trilhados com militância xiita, para trilhar novos caminhos já antes trilhados num tempo em que essa consciência de hoje não era nem projeto de “vir a ser”.



Lumiel , Santa Edwirgens, Nossa Senhora da Conceição 
São Cosme e São Damião, São Judas Tadeu


Intercâmbio entre o que fui ontem e o que sou hoje.
Eterna ciranda da vai e vem, morrer e renascer.

Amo o solo que me recebeu no dia que nasci e que hoje me dá sua dádiva e ciência sagrada, por meio dos espiritos do caminho que jazem debaixo de meus pés, com eles aprendi a sorver  raiz, caule, folha, flor, fruto e semente da árvore que é cidade, reinos e estados, com Mestres e Mestras por guia que acosta e tratam dos problemas além da medicina e da igreja.

Tenho aprendido com velhos caboclos da terra o segredo da fumaça, não para ser um arcano secretissimo de um seleto grupo de escolhidos e iluminados, mas sim, para ser disseminado entre os que com sinceridade e respeito buscam...

Por isso abre-te portais do sagrado, há um Rei Coberto de Penas com chaves  e preaca na mão, a ele peço licença e permissão.

Abre-te para cá, daí-me licença meus Padrinhos, a benção meu antepassados, pois estou aquí de volta, voltei e cá estou pra ficar, para ser pioneiro na terra dos orixás daquilo que está aqui antes de mim e por mim há de voltar aqui...

Finco a cruz e rezo credo da liberdade de todas as crenças, transcedo o ícone de todos ethos, essa é, condição indispenásavel para chegar a “ser juremeiro”. 


Não tenho vergonha dos Caminhos que trilhei lá atrás para chegar até aqui na frente, não nego ou renego, nem cuspo no prato que comi, sei o que fui e o que sou, e sei que sem esses caminhos que dantes andei, o meu caminho hoje seria panas pranto. 


Foram eles, esses caminhos dantes percorridos nessa consciência, que me levaram de voltam aqueles velhos caminhos trilhados na consciência passada...


Contradições e Reinicios.

Eu sou o que sou, mudar sempre, nunca ser o mesmo... processos de renovação constante. 
A terra me chama e eu ouço: no canto do pássaro, no farfalhar do vento nas folhas, no cair de cada pingo de chuva que fertiliza solo e enche corregos, lagoas, lagos, rios e mares; no rastejar da serpente sobre a relva queimada de sol; no brilho da lua e das estrelas; em tudo ao redor de mim mesmo.

Mas a voz que mais grita, é aquela que no silêncio de dentro de mim ecoa, tão alto que é capaz de intercambiar minha consciência com a  consciência de Meu Mestre do reino encatado...
Ouça o grito do mato..
Kio!!!! kio!!!! Caboclo!!!!!
Então cante Salve os Mestres!!!!
Seu José Pilintra

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As imagens do texto são do Peji (Altar) pessoal de Jair Gael Lvnae 
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