quinta-feira, 13 de março de 2014

ALEA JACTA EST.

O DIÁRIO DE AZAZEL – PÁGINAS 1451 - 1457


"Sabemos muitas mentiras dizer símeis aos fatos, e sabemos, se queremos, dar a ouvir revelações”

Teogonia de Hesíodo vv 27-28.


I
A noite estava particularmente estranha, havia um silêncio ensurdecedor pairando no ar, nem mesmo um minúsculo lufar de brisa se atrevia a passear por aquela noite, aliás, para não ser pego em contradições, é preciso afirmar que apenas uivos eram ouvidos ao longe, na fronteira entre os mundos, e, isso era aterrorizador... O ambiente escurecido do quarto, onde malmente via-se a penumbra do guardada-roupas de seis portas, tendo em cada uma um espelho, devidamente selado, o contorno da mesa de escrivaninha com uma cadeira plástica encostada a direita dela, e um cinzeiro de retangular de mármore branco, contendo um cigarro acesso, a ponta vermelha era o único ponto real de luz ali, fumaça dos vários cigarros completavam a sena.... Eu, assustado com o aquela noite atípica, pensava:

As terríveis experiências nas naus nos forçaram a selarmos um pacto para o bem de todos nós e desde que aportamos como degredados na terra de Pindorama há mais de quatro séculos, vivemos em paz e sob a máscara...

Hum!!!! Há tempos que a paz foi selada entre nossas raças, só assim pudemos fugir das fogueiras e dos autos que assolava a Ibéria... fomos forçados a dividir as mesmas naus por meses e meses, atravessando os vastos mares, padecendo das mesmas necessidades e correndo os mesmos perigos.... tudo isso, pois fim, a essa guerra nefanda que nos matava e fortalecia os filhos do Barro... a União garantiu nossa sobrevivência....

E mesmo depois de aportamos aqui, os poucos que se arriscaram a praticarem abertamente as artes do diabo foram mandandos de volta para as masmorras de além mar ou para algum lugar nas costas Africanas, e destes, raros foram os que não perderam a vida pelas chamas ou dos quais tivemos qualquer tipo de noticias nos séculos seguintes.

Há até quem diga, que por isso, vários ramos de ambas as raças foram totalmente aniquiladas... Eu particularmente, não creio no extermino, afinal, os oráculos milenares, falam que qualquer marcado pelo sinal da queda, não pode deixar o mundo dos vivos, sem passar adiante o legado...

                                                   III
Aqueles uivos me assustaram... Porque será que Alcatéia local está tão nervosa? – Me perguntava sem obter respostas conclusivas... Cheguei a imaginar que talvez alguns filhos de Abel, os tivessem descobertos e os estavam perseguindo... Mas a realidade era outra, eu sabia, no fundo eu sabia que a paz na área havia sido quebrada por algum grupo desgarrado, afinal, eles são animais-semi- humanos... em outras partes nas poucas vezes que ocorrerá a quebra da trégua, eles foram caçados por nós ou por aqueles de sua própria raça que fariam de tudo manter a paz em pleno vigor.

III
Na penumbra fervilhando em divagações, minha mente buscava entender o que se passava naquela noite insólita, e com rápidos movimentos de pupilas ora para cima, ora para baixo, onde por vezes as órbitas oculares voltavam-se momentaneamente para direita e para esquerda, fazendo minhas sombracelhas franzirem ligeiramente - isto era um claro sinal de que estava buscando respostas – Eu continuava a perscrutar a mente em buscas de porquês... 

Derrepente!!! um clarão azul eclode da parede norte do quarto espantando a escuridão e por ali alguém adentra furtivamente meu quarto, eu me espantei, pois a porta estava fechada e selada, e somente um descendente Lvnae da linhagem de Alucah[1] ou de Lilitu, saberia contornar os encantos Robetz[2] - as chaves para poder quebrar o encanto...

De sobressalto meu coração disparara, meus pelos se ouriçaram, tremores assolaram meu ser. Gotas frias de suor escorreram pelo meu corpo, preparei-me para batalha terrível com um ou vários dos desafetos naturais, porém, uma voz familiar freia meus pensamentos, instintos e ações - mas ainda tive tempo de planejar uma fuga rápida, caso fosse necessário...

Pronunciando a palavra passe, reconheci o Mordomo, ele era um dos remanescentes da linhagem do sangue puro, mas ele não estava só, imediatamente um odor canino se fez sentir fortemente, impregnando o ambiente, era o cheiro de um grande cão molhado, que agredia minhas narinas, sabia do que se trata, pois sempre fui capaz de sentir a presença deles pelo odor a quilômetros de distância, mesmo que estivessem sob a máscara...

Naquele momento achei que nossos eternos inimigos haviam quebrado pacto de sangue selado há séculos, e aquele em questão  estava esgueirando-se pela passagem aberta entre os mundos pelo Mordomo para atacar-nos...

Mas o Mordomo antevendo minhas possíveis ações, disse-me: Acalme-se, ele está comigo, e, é nosso convidado, e esta autorizado pelo  Dhulqarnen[3],  para dar-lhe um recado....

IV
A luminosidade tornou-se opaca-azulada, era como se estivéssemos envoltos em fumaça azulada – se é que a luz não estava apenas refletindo ou reagindo com a densa fumaça dos cigarros que eu havia fumado - então, pude vê-lo saindo por detrás do Mordomo, era ele mesmo, Uriel, um híbrido criado dos genes das três linhagens de Iblis[4], metade humana, metade lobo e metade seirim[5], uma raça feita para servir aos de sangue puro....

........ Ele estava ali parado na minha frente, patas fendidas, pêlos eriçados, orelhas bicudas e dispostas na cabeça como as dos animais, dois chifres na testa e pernas de bode - eu reconheci aquela besta bastarda não só pelo odor fétido, mas por aquela marca negra na orelha esquerda... Sim, ele despertara em mim os mais contraditórios sentimentos – um amor incondicional e um ódio eterno........

Aquela besta, com chifres e patas de bode, aquela verdadeira aberração genética, aquela brincadeira grosseira da Mãe Natureza, estava ali parada e salivando... Seu aspecto bestial era uma verdadeira visão dantesteca, os olhos vermelhos como a lua de sangue, não deixavam dúvidas, a aberração genética que formou aquela raça degenerada havia deixado suas marcas bem visíveis...

.........toda uma descendência gerada sob e sobre o pecado da bestialidade genética, mistura de mistura de raças, refugo de refugo, gerada a partir de crianças não nascidas, feitos sem vontade própria, criados para que fossem escravos e servidores das outras raças puras de Saklas[6]... e o tempo lhe fez surgir lampejos de consciência de “eu - individual” e eles queriam mais que escravidão,  queriam igualdade e liberdade e se rebelaram contra seus criadores... E tivemos que caçá-los e domesticá-los outra vez à força... Porém, a doutrinação foi tão perfeita, que mesmo quando desenvolveram o self -pleno e lhe demos alforria, eles nunca perderam o gosto de servir as castas superiores........

Uriel era um belo exemplo dos erros cometidos no passado pelos de sangue puro, uma aberração genética.... Em sua forma humana, era belo como Anjo, sua pele branca, quase beirando a palidez, seus imensos olhos castanhos e seus cabelos lisos, castanhos claros, lhe emprestava uma beleza medieval...  Mas, em sua forma bestial, era algo aterrorizante... Eu o tinha como meu cão de estimação, e mesmo na forma humana, ele me era submisso como um poodle, certa vez expliquei a ele as origens das raças...

...... a Primeira Raça, Uriel, descende diretamente de Qayinn e de sua Irmã, a Feiticeira Qamena, ambos descendentes diretos dos Benê-Haelohim[7], por meio Lilith e Samael, a segunda foi gerada através das Artes e da Luxuria: “certa Bruxa apaixonada pelo Pai Qayinn, não suportando a rejeição que dele tinha, o enganou, fazendo-se passar por uma pobre anciã na floresta em perigo, pediu ajuda a Qayinn, que a salvou das bestas da floresta e em gratidão, ela lhe ofereceu um fruto que nosso pai comeu e não sabia tratar-se de um fruto encantado e através dessas malditas artes ela transformou nosso Primeiro-Pai em Lobo, e após isso ela, também comeu do fruto mudando sua forma para a de uma loba e sua paixão por Qayinn tornou-se cio e ele sob o instinto animal consumou com ela o pecado da bestialidade [8], Assim fora unida no ventre da Loba genes de lobos e homens, nascendo daí a primeira criança da segunda raça...

Uriel viveu comigo, aprendeu o segredo que controla sua a transformação, sua vontade, seu foco e a sua luxuria.... Mas ele detestava sua própria origem, ele queria ser um de nós, queria que mudássemos o Destino.... Neguei a ele possibilidade de ser um de nós, não porque não quis ajudá-lo, afinal eu padecia do mesmo pecado dos Anjos Caídos - a paixão e desejo pela carne e sangue inferior - e sim porque não havia como, afinal tratava-se de sua genética e não de Artes Diabólicas pura e simples, ele deveria se contentar em ser o que é, e não fazer as vezes de Pinóquio querendo ser gente de carne e osso, ele não se contentou e se vingou na primeira oportunidade...

....... em nosso ultimo encontro, quando desgarrados me atacaram Uriel nada fez, a não ser fugir como  um filhote de lobo amedrontado.. Por isso, o ódio por Uriel era maior em mim que o amor que um dia sentir...

Quando penso que abriguei sob meu teto aquela Besta, aquele ser de origens duvidosas, aquele bastardo, e lhe ensinei parte dos segredos e arcanos da Arte, quando penso que amei-o, quase ao ponto da paixão dos Caídos pelas belas filhas dos homens, tenho vontade de jogar-me do alto de do Monte Hermon, ou melhor, e mais prudente, de cortar-lhe a cabeça e pendurá-la na parede da sala de estar....

V
Adivinhando meus pensamentos, o Mordomo mais uma vez, interfere e me pede calma, seguro toda ira, respiro fundo, apenas meu olhar me traí, pois deixa claro toda repugnância que sinto para com a presença infecta de Uriel...O Mordomo com um olhar frio que lhe enrugara a testa disse-me: Uriel veio avisar-me que você e o Clã correm perigo, Shamad, filho da  linhagem de Aeshma-Daeva[9], está de volta, e juntos com  os desgarrados, estão lançando outra vez o feitiço da forja que aquece o quarto prego. E você sabe Azazel o que acontece quando o prego é aquecido em brasa, não temos maneira de deter esse feitiço até que os de seu clã estejam todos seguros...Nesse momento meus sentimentos para com Uriel foram relegados à segundo plano, eu sabia o que aquilo significava...

Evidente que eu sabia sim, pois, apesar de ser um da raça de Alucah ... Eu não era sangue puro, é verdade, nunca fui e nunca reivindiquei isso - eu carrego sangue Gitano[10] - aliás, sempre fui um excelente  leitor de cartas e mãos eu era e sou também mestiço, não como Uriel, há diferenças, e é verdade, que vim depois a descobrir traços comuns com ele, o que me aproxima sempre dos lobos e cães...

Eu herdei o gene-lobo, meu próprio bisavô-paterno era um descendente da segunda raça, mas, nem meu pai e nem eu, herdamos a dom da licantropia... Meu pai tinha sangue gitano... Portanto, a mutação genética em nós é inerte... Talvez algum descendente meu possa manifestar a mutação – preferi não tê-los.

.........inconstância, mudança, movimento, são palavras que perseguem meu sangue desde o ano 26, quando o quarto prego da cruz, não foi entregue no devido tempo, pois parte de meus antepassados por parte de pai tiveram que fugir as pressas de Jerusalém, e desde então padecem a maldição de não ter um lugar no mundo onde possam descansar por muito tempo, e volta e meia, são forçados a fugir e a mudar.. e uma de minhas antepassadas se deitou com um Gitano, desta forma, ela gerou filhas e filhos a quem passou os segredos das artes proibidas, mas estes também herdaram a maldição do quarto prego e a passaram adiante.... então sou atingido pela maldição da raça de meu bisavô.......

VI
Os nascidos sob o signo de Aeshma-Daeva são Bruxos Poderosos, todas as vezes que os gitanos tiveram que lutar contra eles, foram obrigados a bater em retirada, pois sabiam como manipular os filhos do barro vermelho....  


..............Muitas vezes foram expulsos das aldeias e cidades, e por vezes as escorias dos filhos de Abel os perseguiam, sem contar que por alguns séculos, o Clero dominante ficava muito feliz em colocar, as suas ávidas mãos santas, nas riquezas terrenas de nossa gente, condenando alegremente muitos deles as chamas e ao degredo............ 


Nos tempos modernos, não são à força da lei e nem a da fé que tememos, mais justamente, as forças às margens da sociedade - aqueles que através de e dos desgarrados distorceram os segredos dos jardins de delicias e sombras, abrindo portas para opara as regiões dos abismos da mente -  armadas  e perigosas que são facilmente manipuladas por “feitiços” antigos adaptados à nova realidade... Portanto, aquecer o quarto prego, significava que Shamad, usaria o não-limite para atiçar as massas escravas contra nosso clã outra vez... 

...............Eu o havia subestimado.... Retornei ao conforto do meu lar, cedo demais, porque pensei que eu o tinha derrotado, mas eu apenas o tinha vencido uma batalha e sua guerra pessoal contra mim estava apenas começando... O poder de Shamad era maior do que eu imaginava................

VII
Perguntei ao mordomo ainda meio atônito: Como conseguiram o arcano?

Não sei – respondeu o Mordomo e continuou – só sei que esta noite estarão sobre as areias a aquecer o prego na forja e não haverá água para esfriá-lo... Fez uma pausa, suspirou fundo e contiguou – a Governanta e a Dama, só poderemos agir para nos ajudar a esfriar o prego, quando você estiver em segurança, você precisa sair agora, depois providenciaremos a mudança das coisas, pegue algumas peças de roupas e coisas extremamente necessárias, acorde o humano que você cria e vamos, o Valete, está nos aguardando além do limite.....

Evidente que eu estava ciente do perigo que eu corria, pois aquecer o prego significava que eles me cassariam outra vez até conseguirem atravessar meu coração com uma estaca, cortarem minha cabeça ou me atingirem com uma bala de prata... 

O prego aquecido é uma formula de expulsar alguém, que está sob a maldição, de certo território atiçando o ódio das massas... Porque Shamad e os desgarrados querem me ver bem longe desse território, o que há demais nesta terra sem graças e sem grandes novidades, que tesouros estão oculto sob este solo? 

VIII
Uriel, finalmente, abriu sua boca enorme, mostrando os dentes pontiagudos, e disse, em som que mais se assemelhava a latidos caninos de um cão de grande portel: Azazel!!..

Quando ele pronunciou meu nome, um tremor subiu pelo meu corpo, e mais uma vez fui assolado por sentimentos contrários;

Ele continuou: Shamad nunca lhe perdoou pela derrota e pela humilhação por tê-lo ridicularizado diante dos de sangue-puro, você quase destruiu toda linhagem dele ao revelar o que ele pretendia fazer com os Anciões da primeira e da segunda raça.... quando você se negou a prestar os juramentos sob a árvore de fogo que ele havia plantando no além, ele jurou vingança... Não sabia se ouvia atentamente ou me lançava sobre aquela coisa para matá-la... Contive-me, o perigo para a Família era maior que eu....

Uriel continuou-: Ele sente que há mais que amizade entre você e a Criança[11] de olhos verdes – fez mais uma pausa – essa criança é um lobo.... E ele sabe que há mais unindo você e ela, ele vai usar isso... ele vai usar as massas para destruir tudo que você ama... -Senti um ponta de ciumes em Uriel quando pronunciou as onde últimas palavras, confesso que gostei, pelo menos sei que estou vivo dentro dele em todo os sentidos 

Uriel parou suspirou e continuou: Segundo soube, várias serão as frentes erguidas para combater contra você... Os chefes das gangues da área já foram arregimentado por Shamad que usou feitiços de submissão escrava, assim, ele semeou a guerra e jogará seu nome no meio disso... Ele sabe que os cabeças das gangues são filhos do barro vermelho, controlados por desgarrados, ele compactuou com os desgarrados e juntou-se a eles, e como herdeiro da Linhagem de Aeshma-Daeva, no final, ele usará todos para se vingar de você e dos de sangue puro das duas raças...

IX
Por um instante divaguei enquanto Uriel falava:  
Shamad havia proposto permutar e mesclar conhecimentos, desta forma, dois grandes ramos da Arte - o Clã dos Aeshma e o Clã Lvnae - se uniriam, fazendo nascer um Poderoso Clã das Artes, unidos em prol de um mundo melhor.
Ledo engano, Ele queria apena me usar para derrotar os Anciões das Raças Mães e seus descendentes nascidos pelo pecado queda de Semjaza, assim se proclamar o Grande Senhor de todos os Clãs.... 


E eu não tive outra opção, se não lutar com ele, além dos limites do que é visto; uma luta tão violenta, que seus efeitos e conseqüências vazou para o mundo visto e acabou interferindo no clima da região, exércitos as raças e clãs, e seus filhos semi-humanos, de cada lado, numa guerra infernal, fazendo daquela noite uma das piores noites de tempestades da histórias - raios, trovões, ventos e inundações, centenas de feridos humanos - Por fim, depois de muita luta e quase esgotados, conseguimos ferir Shamad severamente, e levá-lo a julgamento diante dos Anciões, que decretaram seu banimento e o fim de suas Artes... Soube que ele curou-se e ficou coxo, mais jamais perdeu a soberba de querer colocar os humanos de barro acima dos Daevas, dos Djinns e de seus descendentes...
                                  Não tive tempo de mais nada...
Uma grande explosão foi ouvida, Ofídia, abalara sua espinha, e, sob o seu dorso marchava um exercito de não-humanos agora controlados pela magia e sobre a terra homens armados tocavam o horror pelas ruas da pequena cidade....
Olhei pela janela do atemporal e pude ver Shamad liderando a dança da caçada contra nós.......
O prego foi esquentado...
Lembrei-me dos tempos das Aldeias e só tive tempo de lançar um feitiço para proteger minhas crianças geradas....
Não tive mais opção...acordei a criança-humana...
.................Ele ganhou essa batalha................
                               .....Mais a guerra estava recomeçando...
                                                         ...Alea Jacta Est”....

(continua?)

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P.S:  O texto é composto de mentiras símeis aos fatos... “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobrí-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encombre[12].”..  ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade.....

                                          




[1]Alucah é um demônio feminino, aparece em Provérbios 30:15. Apesar de se traduzir a palavra vulgarmente por sanguessuga, a tradição hebraica via naquele nome a designação de um gênio maléfico. Segundo a interpretação do Targum, trata-se de uma espécie de vampiro feminino que anda a espreita para sugar o sangue dos homens.
[2]Robetz é a palavra que se lê em Gn 4:7 a designar uma personificação do pecado que está deitado à porta para apanhar Caim. Chamou-se-lhe por isso o «demônio da porta»: “..Porventura se procederes bem, não se há-de levantar o teu semblante? e senão procederes bem, o pecado jaz (Robetz) à porta, e sobre ti será o seu desejo; mas sobre ele tu deves dominar”.. Parece não haver dificuldade quanto à relação de Robetz com Rabitsu, demônio babilônico que ataca os homens. Esta personificação do mal permite também uma ligação com a expressão «espírito mau da parte de Yavé» que se lê por exemplo em I Sm 16:14.
[3]O Lord dos dois Séculos, ou o Líder das Assembléias, foi chamado dessa forma num jogo de palavras, pois estava literalmente entre duas gerações,numa como Guia Espiritual e noutra como carne, ou seja, também, se atribui ao Espírito Guardião do Clã, o Homem de Preto, o Corvo Pai, o Líder Espírito ou Pequeno Demônio Coventicular, Ou Deus Coventicular, alguém que viveu na terra como Líder do Clã e que do outro lado, continua liderando o Coventículo,
[4]Forma Mulçumana para qualificar e nomear Lúcifer, Satã, Azazel ou Diabo.
[5]Seirim (ou se'îrîm – traduzido normalmente como «sátiros» - Is 13:21; 34:14), os velus, que dançavam nos lugares desertos onde habitavam e a quem se ofereciam sacrifícios. Em Lv 17:1-7 declara-se esse culto proibido, pois os seirim eram demônios: «nunca mais oferecerão os seus sacrifícios aos demônios, aos quais prestam cultos». Is 34:14 apresenta os seirim (= peludos), seres demoníacos a viverem nos desertos e entre ruínas, uma espécie de bodes, que parecem ter semelhanças com os «sátiros» gregos (divindades secundárias, companheiros de Dionísio, representados com os cabelos eriçados, as orelhas bicudas e dispostas na cabeça como as dos animais, dois chifres na testa e pernas de bode) e com os «faunos» romanos (divindades campestres representadas com chavelhos, pés de cabra e o corpo coberto de pêlos). Presta-se culto a esses seres, apesar da proibição, no reino do Norte na época do Rei Jeroboão I (II Cr 11:15) e no reino de Judá no tempo do rei Manassés (II Rs 23:8).
[6]Sakla uma das formas para denominar Satã, o Príncipe ou Arconte das Trevas, em aramaico é  um epíteto para Samael .  No Apócrifo de João, Sakla é um dos Arcontes ("alto oficial", "chefe", "magistrado") criado juntamente como mundo material por uma divindade chamada o Demiurgo ou Yaldabaoth (Criador). O Livro de Enoque (vi. 3, 7; viii. 1) menciona 20 "arcontes dentre os" 200 anjos "vigilantes" que pecaram com as "filhas dos homens", como aparece em um fragmentos gregos.
[7]Os Benê-Haelohim, os filhos de Elohim ou filhos dos deuses encontram-se nas seguintes passagens: Gn 6:2-4; Dt 32:4-43; Jb 1:6; 2:1; 38:7; Sl 29:1; 89:7; Sb 2:18; 5:5; 18:13; Ec 4:10; Os 2:1; Dn 3:25.  O texto de Gn 6:13 faz eco a uma  lenda de Ugarit sobre os Benê-Il. A lenda atribui a origem da corrupção humana à união ilegítima de seres de um mundo superior  (Benê-Haelohim, os filhos de Elohim , Vigilantes) com as filhas dos homens. Os Benê-Haelohim, são seres pertencentes ao mundo de Elohim (Deuses), são dotados de um poder sobre-humano de vida. Apesar disso, não são mortais, pois Deus não permite que se sobreponham ao simples poder humano, pois permanecem «carne», isto é, do mundo mortal.
[8]Caim, nosso Pai foi liberto pelas Artes de Camena, e a Bruxa para não ser morta fugiu e continuou o resto de sua existência miserável na forma licantropica, jamais voltou a ser humana, jamais iria distorcer as Artes outra vez, nem ela e nem sua semente, pois segundo dizem os antigos sua consciência humana foi absorvida pela da Loba – a quem diga que essa é base histórica do mito do Rômulo e Remulo.
[9]Shamad, literalmente “o destruir”...  Aeshma-Daeva um dos sete espíritos malignos, responsável da cólera.  Aeshma-Daeva, se refere, a “Asmodeu” que é o espírito maléfico que surge no livro de Tobias. Enamorado de Sara era ele quem lhe matou sucessivamente sete maridos na noite de núpcias. Para o espantar, Tobias recorreu à fumigação, queimando o fígado de peixe pescado no rio Tigre.  Os hebreus preferiram ligar a palavra Aeshma-Daeva ou Asmodeu) à raiz da palavra “shamad,  destruir. Assim, para eles, Asmodeu era o destruidor, o exterminador
[10]Gitano ou Gitana é uma palavra atual usada como sinônimo de Ciganos, mas, no texto em si, não se referem aos ciganos propriamente ditos, mas um grupo de degredados expulsos de sua pátria pelos motivos já ditos no texto e que num certo momento do período colonial, se uniu aos ciganos andarilhos, mesclou-se com eles, gerando filhas e filhas com sangue das raças mães (vampiros e lobisomens) e que depois, ao chegarem ao Brasil,  se apartarem da vida e modos ciganos e passaram a viver como pessoas não ciganas.
[11]Criança aqui não tem conotação de menor de idade, mais se refere a um adulto jovem, filho, descendente de uma das raças...
[12]TORRANO JAA - Teogonia, a origem dos deuses, pag. 24. 2ª edição. Iluminuras. 1992.