quarta-feira, 13 de julho de 2016

ALEA JACTA EST - PARTE VII

O DIÁRIO DE AZAZEL – PÁGINAS 1874-1878


Querido Diário....
Hoje recebi a visita de meu Mestre, ele parecia meio inquieto, sendo além de amigo pessoal, quem havia me indicado ao ingresso à Loja, não passaria despercebido a mim que algo o incomodava.
Ele sabia disso e foi direto ao ponto, - em certo meio andou circulava uma história bizarra a seu respeito - logo suspeitei tratar-se dos fatos ocorridos nas terras do Marquês das Torres, lendo minhas feições ele disse - não se preocupe os fatos ocorridos com os desgarrados estão sob o sigilo da Ordem e como decretado pelos Anciões, nenhum filho do barro vermelho tomou consciência da realidade revelada na ocultação da similitude, eles não estão preparados para tais fatos – fez uma pausa, tomou um gole do conhaque barato que eu tinha lhe oferecido, andou calmamente pela pequena sala de decoração simples, olhou pacientemente minhas fotos antigas tiradas à época em que estava na ativa militar, suspirou e disse – Não somos mais meninos –  calou-se.
Bebeu outro gole da bebida, ato que repeti com meu próprio copo e então ele disse – já não está na hora de por fim a este exílio? Até quando você vai ficar assistindo de camarote e alheio ao que ocorre? – Ele me pegou de surpresa, de fato nenhum dos Guardiões havia indicado que sua visita ocorria e que o assunto a se tratar seria eu e meu auto-exílio. Ouvir rumores – prosseguiu ele - de que certa pessoa havia se vangloriado, entre os que ela supostamente inicia, com seu desaparecimento, alardeando que havia derrotado você e lhe banido do meio da Bruxaria, que suas novas práticas religiosas, era a prova cabal que você não era um Bruxo,

– Não tive como evitar uma explosão de gargalhada ao ver o rosto do Mestre sério, rígido, quase duro, sem mover um músculo da face, como se tivera sido tratado com botox ao falar sobre o caso. Ri incontrolavelmente por alguns minutos, chegando às lágrimas, enquanto ele com seu rosto quase como um pedaço de pedra de mármore, não compreendia meu riso descontrolado, com muito esforço, me controlei, e quase soluçando, tentei explicar a ele o motivo das risadas – veja bem meu irmão, imaginei a cena, a pessoa toda montada com imitações baratas das roupas da antiga nobreza de Veneza, como se fora um personagem de contos infantis dos filmes da Disney, empunhado um cajado enrolado de fitas, lantejoulas e areia prateada, diante de uma platéia atônita de neófitos proclamando sua vitória sob mim e decretando meu banimento da Bruxaria.
Por um instante, achei que ele havia se irritado com minha visão do conto de fadas, mais logo seu rosto de estatua se desfez em um estrondoso riso.
Ele já havia presenciado de alguns ritos liderados pela pessoa, e estes eram e ainda são: cansativos, enfadonhos e cheios de vaidades, com um “q” de roupas e maquiagens extravagante, regado com um ritual encenado sem sentido algum para consciência de quem se é. Na verdade, como a maioria das celebrações, erradamente chamadas de sabá, aquela também era desprovida de antinomia luciferiana.
Após boas risadas e recordações não muito éticas sobre tal pessoa, eu precisava da a minha versão, afinal se meu irmão se deu ao trabalho de vir até mim, sei que não o fez só por saudades, havia de certa forma implícito uma determinação da Ordem ou dos Anciões para ouvir minha parte da história ou testar meu aprendido.
Pacientemente, lembrei a ele que - quando os Anciões concordaram em que eu permanecesse da cidade industrial, havia a condição de que eu mantivesse minhas Artes Proibidas em segredo e só às praticasse sob a Máscara, naquele momento eu fiquei revoltado, porém, como acertado entre eles e o Guardião eu cumpri.
Dei uma pausa e então de súbito prossegui - Hoje, compreendo que na verdade, os sábios estavam não me proibindo, mas, me impulsionando a subir degraus de compreensão nos Caminhos de Caim e na prática das Artes do Diabo. Eu precisava ser esvaziado da minhas pseudo-verdades, eu precisava da dúvida para chegar à certeza, e só assim, eu poderia sorver o vinho tinto de sangue na Taça-Crânio de Abel.
Bebi mais um gole do conhaque e dei prosseguimento - Ao beber de meu próprio sangue e comer da minha própria carne, pude começar a ter vislumbres das faíscas que o Martelo de Nosso Pai produz ao bater o ferro em brasa sobre a bigorna. Compreendo que a Bruxaria, é de fato a herança de Lumiel e dos Caídos, e se revela na ocultação da máscara.
Parei e lembrei de meu Iniciador e plagiei suas palavras - Hoje de fato a afirmação de que a Bruxaria é Toponímica, ou seja, do lugar em que se vive, com fortes ligações com a história, arqueologia, cultura e a geografia da terra onde se está habitando, faz sentido. Minha visão mudou totalmente.
Apanhei meu cigarro mentolado, acendi e passei a fumar, apesar do Mestre está usando adesivos de nicotina no braço, não resistiu e incontinente acendeu um dos meus que apanhou na carteira e fumou vagarosamente, eu lhe ofereci uma cerveja gelada e ele aceitou-a e bebeu na lata mesmo e eu imitei sua ação.
Prosseguir minha versão – Nesta jornada, longe das luzes e holofotes das redes sociais, encontrei o exílio, solidão, abandono, esquecimento, meu ego quase sucumbe ao desejo de ser notado. Decepções, angústia, solidão, muitas noites chorei sobre minha própria sorte. Insônia, ansiedade, vazio, um caminho solitário e frio, que somente quem já adentrou a estrada tortuosa que conduz ao inferno sabe o que é. Eu estive no abismo entre a sanidade a loucura, e como diz a musica do Legião Urbana, fui “vilipendiado, incompreendido e descartável” pelos que amei e estendi à mão. Eu queria morrer, dar cabo a minha própria vida, não havia solução, e no limiar entre querer e tentar morrer, a Morte, sob o nome de Iku, se apresentou como o primeiro Guardião de Portal, eu me rendi a Ikú, e aceitei seus desígnios e seus mistérios na carne, ele tem sido um dos muitos Guias que me ensina sobre além do véu. Com Ikú, aprendi a reverenciar os mortos Poderosos debaixo de meus Pés e aceitei meu próprio sangue miscigenado e tudo que ele contém – inclusive um Corpus Pratico de Feitiçaria de minha própria terra e raça - como minha herança e como os Espíritos das Sombras que ensinaram a Caim, os mortos de meu sangue vieram em meu exílio – sob a mascara da ocultação dos ethus e aethus dos todos os credos que me trouxeram aqui – Deuses, Santos, Orixás, Mestres, Caboclos, Exús, Pombagiras, Eguns e Demônios, se mostraram sob e sobre a mascara da ocultação que os revela e tive a certeza de quem EU sou quando falei com aqueles que se foram antes de mim e lembram quem são – Isto é mistério, e nisto se resume minha prática e minha busca: Saber quem eu fui, quem eu sou e quem serei depois que Ikú vier me conduzir para além do véu.
Parei por uns instantes, e arrematei - Mestre, para a decepção de quem acha que me baniu ou que não pratico mais, eu continuo sim minha prático, sou e serei um buscador da Arte sem Nome, apenas abdiquei das luzes do palco e do estrelismos. Para quem falou quem não prático mais as Artes do Diabo, só posso dizer o seguinte: Sou Bruxo da TI, sou Luciferiano e Cainnita – e para poder falar de mim ou que me baniu da Bruxaria tem de fazer subir - pelas Artes do Diabo - o Espírito de suas avós celtas monomasquetomizadas que os iniciaram na Bruxaria para poder falar diretamente a assembléia Coventicular, até que isso aconteça, apenas são tolos iludindo tolos e cegos guiando cegos. Para desgosto deles - contínuo sim minha prática de Bruxaria....sem alarde... sem títulos...sem precisar reconhecimento de FDP algum... Não parei de praticar minha arte... E nem de treinar os meus... Apenas sair dos holofotes... para estar longe de muitas das besteiras e mimimis que vejo por ai....Eu nunca perdi a rota...Apenas encontrei o caminho do silêncio...
O Mestre estava pensativo, parou, acendeu outro cigarro e disse - ALEA JACTA EST.

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Este texto não fala da verdade e nem é dirigido a ninguém, mas apenas fala de mentiras símeis aos fatos... “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobri-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encobre " ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade.....

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