domingo, 13 de março de 2016

ALEA JACTA EST - PARTE VI


O DIÁRIO DE AZAZEL – PÁGINAS 1766-1770


“O que escrevo, pode ser visto como fragmentos de verdade, ou, como a mais pura e deslavada mentira, pouco importa a mim, a não ser o fato que lhe suscite a duvida” (Jayhr Gael Lvnae).


Sentei-me a mesa para escrever no meu diário, como faço diariamente - Bom dia meu Diário, sentiu minha falta? Hoje vou lhe contar mais uma história

Em meu ouvido uma voz metálica respondeu: Pare de escrever!!! Hoje a história é minhaParei para ouvir - Irei falar sobre fragmentos de verdade, ou será fragmento da mais desvelada mentira? Pouca importa desde que lhe suscite a duvida para mim já será ótimo. Sua voz na minha mente calou-se de pronto.

Envergonhado, e surpreso, levantei da cadeira, acendi meu cigarro mentolado, e comecei a fumar, e pude de fato refletir... Algum tempo depois, como se ouvisse meus pensamentos – afinal meu diário não perde a mania de curiar meus pensamentos.

Ele perguntou: Você sabe por que praticar a magia e a feitiçaria com e sob a influência dos Espíritos do Caminho que habitam nas sombras das Cavernas é um “Focus” Iniciático?

 Como assim?  Esclareça-me - o Magistellus, respirou fundo – era a primeira vez que sua manifestação saia da esfera da intuição psíquica e tornava-se praticamente física, quase que ectoplasmatica. Sim já o havia encontrado várias vezes nos campos da hipnagogia, e sua aparecia não me era desconhecida, porém, jamais havia ido além disso, ou seja, da invasão mental dele no lado de cá do véu.

Ele continuou - o dia hoje parece que te encontrou mais pensativo e disposto, esteve ontem em mais um  “Congressus Cum Daemone”? 

Sim respondi.

E como foi?argüiu ele.



De pronto respondi – Novamente  o Sabá foi na Encruzada dentro da Calunga do Setor “C” da Cidade Industrial, vários Espíritos de todos os graus e níveis estavam lá, danças, musicas, bebidas, cigarros, uma verdadeira Kimbanda e a  anfitriã do Sabá, como sempre foi Rosa Caveira, e ela estava particularmente mais linda, pálida e diabólica...

Ele ali fluídico, quase que tocável, teve uma espécie de Déjà vuComo nos velhos tempos - e murmurou - Lilith......

Porque chamas pela Mãe Bruxa Guardião do Diário? – perguntei na lata e em resposta ele disse: isso foi muito antes de minha degradação para as terras de Pindorama no ventre de fétidos navios Ibéricos – deixemos isto de lado - logo recuperou a compostura, disfarçando bem seu saudosismo e continuou – O que você sabe sobre o significado da “Jornada do Andarilho Solitário”?

Sentei-me ao chão. Confesso que ainda estava sobre o impacto da aparição dele, afinal, ele estava humilde, sem a arrogância e petulância características de suas manifestações na minha mente e isso é o que me causava mais temor. Acostumado com seu jeito brusco como eu estava, aquela forma e paciência com que falava, e, sua voz metálica pausada, quase que explicativa me deixava, de certo modo, com medo. Ali via meu Professor das Artes Proibidas, em sua forma natural e não o meu amigo Guardião do Diário. Eu o havia evocado através de cerimônias secretas de um dos muitos livros raros de “Magistas de Tradições da Arte Sem Nome da Europa.

Pouca coisa - eu disse embaraçado - Ele então falou: Desde a primeira queda até Cain, foram sete, mas é a jornada do Andarilho o que mais nos importa hoje, ela nos mostra não a Jornada do Homem de Carne, mais a Jornada do homem na Carne, ou seja, da Alma do Homem em busca da sua origem

Interrompendo sua fala perguntei - A Alma começa sua Jornada, no além tumulo, mas deve se preparar no limite de cá?

Com sua atual e não peculiar paciência, calmamente respondeu -  morte filho, é Destino, Iku é apenas o guia.  Como se vive aqui é que determina quem se é para onde se vai no lado de lá.

Entendo - disse eu: A condição ou condicionamento, na maioria das vezes, oriunda de nossas crenças, após se fechar o ataúde funeral são as moedas ao barqueiro, para se saber quem se é ou para inconsciência do mundo físico de quem se foi ?

Como resposta ouvir: a escolha é simples ou você acredita em Morte ou Acredita em Vida após morte.

Então é uma questão de crença? Perguntei.

Ele respondeu: Não, meu Filho, é uma questão de consciência, ou seja, não é acreditar somente, é viver. Ele me olhou ternamente e me bombardeou de perguntas: Há quem diga que a vida verdadeira é a vida no lado de lá...,Mas já reparou que sempre enfeitam o lado de lá, com coisas do lado de cá?.... Já se deu o trabalho de perceber que nos mitos os Deuses, Semi-Deuses e Heróis, praticam atos humanos ou já viveram no plano físico aqui ou num lugar atemporal dentro de um plano físico e que neles existem a semelhança do que há aqui?....Você acha que nós imitamos estes seres sagrados e míticos ao reatualizar os seus mitos ou que apenas refletimos nossa crença inconsciente do que nos espera do lado de lá?

Nem deu tempo responder, pois ele prosseguiu: Filho pense, se a vida real e verdadeira, é  do lado de lá, porque diabos “UM” criou o lado de cá? .... Não seria mais lógico, a criação desenvolver-se pura e simplesmente do lado de lá. 

Realmente este era um novo ângulo da manifestação e incorporação dos Espíritos e Guias que ainda não havia percebido. 

Ele falou então:  Cain, é o exemplo da Alma na busca de si mesma, de sua origem e de seu destino e é isto  ensinado, nos mistérios da Feitiçaria..... evocar os Espíritos e um sinal, um “Arcano”, que vai além das práticas e objetivos da evocação ou invocação, eles vêem, respondem, incorporam e lembram-se exatamente quem são, quem fora e o que fizeram, quem eram os seus, não perderam suas índoles ou desejos,  seus trajetos e nomes. Eles sabem quem são, eles sabem sua origem e sabem escolher, de forma individual e amoral o que e como fazer.  Você percebeu o que digo nas entrelinhas?




Então eu disse: Evocar Cain, nos ritos da Bruxaria Européia é um simbolismo, evocar ou invocar um Espírito da Terra - não importando a finalidade – através das diversas práticas, é um muito mais que isso em si mesmo, é a desvelação de que há um mistério, uma revelação da permanência da consciência após a vida física, é o confirmação da certeza de se saber quem se é - a decretação da não existência do Céu ou do inferno - A morte de todos os Deuses e Demônios. E a conseqüência disso é a liberdade.

É o que estou dizendo – disse ele e completou - É o dardo lançado pela mão de Saklas-Lumiel que atinge o alvo. Ele desejou que fossemos semelhantes ao Altíssimo em menos tempo do que o engendrado na evolução por “UM”, por isso, ele preside as invocações e evocações dos portais infernais. 

Acendi outro cigarro, ele olhou para a fumaça que exalava de minha boca e senti que ele desejou muito reviver outra vez aquele ato mortal em seus pulmões. Respirou forte, como se exalasse a fumaça e disse – Quer saber outro segredo meu Filho? – Claro, respondi de sobressalto Estes Espíritos, de fato é que são teus Ancestrais. Não importa qual vibração (ou linha, ou crença) você esteja, não importa que nomes eles assumam ou que tipos de sacrifícios ou ritos compactuem, ou como sejam chamados. São sempre seus parentes - sangue por sangue, alma por alma - que se aproxima e trabalham por e com você, em simbiose, é simples assim. Pois quando se atravessa para o lado de lá mantendo a consciência de quem se é, a Alma escolhe praticar livremente - amoralmente - o que desejar: ou seja, ajudar seus parentes e assim passa existir nos dois mundos individualmente, consciente, livre, escolhendo entre o bem e o mal, Como “UM”. Você agora entende o que é o Homem de Preto do Sabá?



Então Feitiçaria, Bruxaria não é uma religião? Perguntei.


O Magistellus então respondeu: Nunca foi, Bruxaria é Ofício, é a pratica que os Caídos trouxeram como dádiva aos humanos, embutindo nela o mistério da sobrevivência da consciência de quem se é - após a travessia para o lado de lá de véu - Todos os credos, ethos e aethus são teus por direitos sagrado, pois neles, há sempre este mistério, mas, deves antes, sentir o sangue de tua Terra, as almas dos mortes sob teus pés, este é o segredo, deves ouvir tua própria raça, pois quando os Vigilantes Caíram eles não inventaram culto novo, mas aproveitaram os cultos que nasciam e perverteram com esta heresia os já estatizados... Por isso se diz, se és Bruxa deves saber chamar um Espírito e ele se manifestar, ou deves saber trazer um a Alma de um morto ao Círculo e consultar..... Se não sabes fazer isso, não te chames Praticante do Oficio, ou da Arte, te chame de reconstrucionista.... Dance, cante, celebre, mas não chame isso de sabá... E se não sabes compreender o Arcano e o Mistério contido na comunicação com os Espíritos do Caminho cruzado, e se não sabes ao menos resolver os problemas cotidianos e dos que estão te seguindo como Líder – emprego, amor e amarrações, abrir caminhos, causar danos, expulsar e ou dominar um Espírito perturbador, etc...- se não sabes os segredos dos cultos feiticeiros de tua própria Terra – banhos, oferendas, deidades e guias, ebós e mandingas – para poder desfazer algo contra alguém teu....Para que te chamas de Bruxo? Engoli e seco... virei-me, ele sumiu e ouvir na mente: .........ALEA JACTA EST......


========================================

Este texto não fala da verdade, mas apenas de mentiras símeis aos fatos... “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobri-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encobre " ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade.....
========================================

 Dedicado a Raven Draak Lupercus Lvnae