sexta-feira, 11 de outubro de 2019

SER LVNAE – PARTE I e II


SER LVNAE – PARTE I
Entregar os cabelos pra Terra simbolicamente representa o desapego. Um ritual que de tempos em tempos eu faço para lembrar que renascer é parte da Jornada. Esqueço as vaidades e retomo o foco no que há de melhor em mim. Há tanto a aprender, tanto há para descobrir... Há tanto para ser.

Quero falar pro meu sangue. Pro meu clã.  Quero recitar uma Ode ao Gregis Familiae Orbis Lvnae:

Entre os lodos e luares, me espalhei pelo mundo cantando canções de amor e ódio. Sem me explicar. Todas elas, em completa sintonia com meu coração. 
Experimentei e bebi das mais diversas fontes. Nenhuma secou, transbordaram.
Encarei os demônios para conhecer os anjos. Céu e Inferno, todos eles em mim. Nesse caminho solitário que escolhi, somente a busca por mim mesmo me levará à algum lugar. E na encruzilhada que eu sou quem me leva sou eu.
Só eu.
Tudo passa e as respostas já não importam, tenho as perguntas e sei: A busca é eterna.
Sou indomável, sou livre.
Sou Lvnae
Semel Lvnae Semper Lvnae.
Vere Lvnae Sangvis Mevs

Por: Phibivs Samech Lvnae.

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SER LVNAE – PARTE II
O Caminho Tortuoso às vezes nos surpreende, mesmo que achemos que já o percorremos o bastante para conhecê-lo ou para não se deixar sermos surpreendido pelos percalços que ele apresenta. 

A “Via Tenebris” e como uma velha serpente, se renova, muda de pele. Este Caminho Sinuoso trás seus perigos, suas ordálias. Nele Satã espreita e busca nos conduzir aos braços de Lúcifer, e, para que nossa alma possa ser tragada para o fosso da danação eterna – o inferno.

Quantas vezes fui chamado de louco nos meados da primeira década de Século XXI, por falar no Diabo como iniciador, em Satã como nosso tentador e em Lúcifer como modelo de perfeição, e, que a conexão a eles, destruiria a alma por completo – destruir a adoração de si-mesmo - pois na expressão visível tudo tem começo, meio  e fim - da grande obra.

Céu ou inferno – Satanás ou Jesus – medos e mapas enraizados, usados com maestria, pelos sábios e sábias como linguagem da Arte do Demônio para afastar o conhecimento das estrelas daqueles que não possuam a “ notam et sanguis maleficarum” e nem sabiam, e por isso, não tinha "inversa ad osculum oris et anulus". 

Aliás, a inversão do beijo  -  de santo à infame - é algo que precisa ser encarado, entendido e feito pelo peregrino "Lvnae" que trilha o caminho das artes do Diabo. Neste sentido, temos que perder nossa alma, e perdê-la, significa invocar o Diabo e com ele fazer o pacto na encruzilhada da meia-noite atemporal, ou seja, temos que vender nossa alma aos demônios em troca de prazeres momentâneos sobre a terra e a perdição eterna dela no pós-vida.

Se você ainda continua acreditando piamente que estamos a falar acima de mitologia da cristandade - de uma entidade rival ao deus dos cristãos - quer dizer que não está apto para perder sua alma e ser mais que mônada ou faísca acumuladora de dados de cada novo nascimento e morte. 

Se continua sem entender a linguagem simbólica e inconsciente usada neste texto - e porque você ainda, que se declara Lvnae - não galgou o grau de sabedoria - e de conhecimento que ultrapasse a inércia de ser simples acumulador de experiência -  de vida em vida  - a cada segunda morte - de quem foi e de quem deixou de ser nas ultimas existências.

Quantas vezes é preciso dizer que as máscaras se encaixam até mesmo sob e sobre a via qyainnita: mascarar, esconder, revelando e usando medo como escada para ascensão aos archotes do arconte caído. Assim, alguns que passaram na “Via Corvus” precisarão percorrer por mil vias - como eu próprio – sobre a calda do dragão negro - para entender afinal o sentido real de "saber quem se é" e "qual a sua origem".

Por isso, quando há no sangue Lvnae um despertar para entender seu próprio caminho meu irmão Samech - pois ser Lvnae é ser livre, e liberdade tem preço. Ser Lvnae é não ter amararas, é percorrer todos os caminhos que quiser e arcar com as conseqüências, sorvendo cada experiência com dor e prazer que lhe for própria e com isso elevar-se acima do barro mortal -  não mais usamos simbologia. 

Mas ainda há  no nosso sangue "Lvnae" alguns que não entederem que nasceram da coifa de Lilith, e neste caso, o símbolo é a chave usada por nós em palavras, signos, sinais e dramas rituais para revelar e ocultar aquilo que no dizer das Musas à Hesíodo: "sabemos muitas mentiras dizer símeis aos fatos e sabemos, se queremos, dar a ouvir revelações”,  ou seja, é preciso revelar pela ocultação e ocultar pela revelação – pois o medo, construído pela moral dominante é a chave que abre e revela os mapas enraizadas e também são a melhor forma de separar as ovelhas de barro, dos bodes de fogo.

Azazel Semjaza Qayinn Lvnae 
(inspirado pelo sopro lucifero de Phibivs Samech Lvnae)


segunda-feira, 22 de abril de 2019

O PREGO QUE NUNCA ESFRIA - PARTE II


O DIÁRIO DE AZAZEL - PAGINAS 2035 A 2041



...Voz rouca, quase ronronante, falada pausadamente, como se houvesse dificuldade de respirar, e por isso, o som saia pela narinas: Gael.... amigo...!!! Era impossível não ligar aquela voz, a imagem do menino alto, pele branca quase beirando a palidez, de rosto recheadas de espinhas, com sorriso largo que iluminava sua face, cabelos encaracolados e olhos cor de multicolorido...

Lembrei-me que alguns anos mais tarde - vi uma imagem dele numa rede social - como todos de sua raça, ele assumiu uma aparência quase élfica, estava mais alto, seus cabelos longos e dourados cai-lhes nas costa e parte repousava sobre seus ombros, o corpo tatuado, porém, não havia perdido o sorriso de luz....

Novamente....minha mente era arrastada para a zona fora da zona da consciência no meu próprio sono... Fui sugado pelo caminho contrário ao meu estado hipnogógico [1], e o sonho sonhado na carne, voltava em sorvedouros ao sonho sonhado na mente e dormido no corpo.

Já não estava mais acordado na consciência, já não mais sonhava um sonho-feito-carne, mas um simples sonho comum, experiências de imaginação do inconsciente.

Mesmo no estado do sonho-comum, as imagens geradas no sonho-feito-carne acompanhou minha consciência  pelos caminhos de retorno a tal ponto que veio reverberar no sonho-comum como conjunto de imagens e pensamentos. A verdade é que eu fui tão impactado por aquela voz que mesmo estando dentro do campo daquilo que “Jung” dizia ser “um produto psíquico como qualquer outro ... uma revelação do inconsciente sob a forma de imagem, metáfora e símbolo” [2], fui capaz de ouvi-la e de associá-la as imagens vista no sonho-feito-carne.

Acordei sobressalto, afinal havia muito mais que quinze anos que não tinha noticias dele lembrei-me que fui chamado pelos Anciões da Cidade dos Santos para servir de tutor por um ano, eles acreditavam -  por eu ser um mestiço – que eu saberia lidar com a rebeldia daquele garoto de dezesseis anos, cujos hormônios estimulavam seus desejos e agressividades.

Estávamos naquela época no final dos anos 90, então não havia a tecnologias que há hoje - de inicio, os Anciões providenciaram minha mudança para o Centro da Cidade dos Santos, assim, seria fácil para eles promoverem aproximação entre nós, sem que “J” notasse. 

Alias, havia neles uma preocupação – mais tarde confirmada – que ânsia de viver a vida, pudesse desviar “J” de seu destino, o que de fato aconteceu por alguns anos.

Eu deveria como tutor - ensiná-lo controlar seus instintos, a domá-los e direcioná-los. 

Achei a missão estranha - afinal eu sempre vivi por instinto, na lógica predador x presa - na minha lógica os apegos são prisões e pontos fracos do predador que qualquer adversário poderia explorar, por isso não há nada e nem ninguém que me prenda ou não havia até aquele momento.

Os Anciões de algum modo sabiam que eu me ligaria a “J” e ele a mim, com maestria eles – os Anciões - pretendia que nossa união nos tornasse vulneráveis e controláveis por eles - matariam dois coelhos com uma só cajadada – manteriam um sangue-puro e um mestiço sob sua égide.

De inicio o plano dos velhos pálidos parecia ir bem, quando eu e “J” nos encontramos naquela intercessão do caminho, um elo se formou e como previsto pelos ambrogios [3] de pele pálida, nossas almas se ligaram,  ele trazia na veia o mais puro sangue ambrogino e nas minhas veias corria o sangue mestiço das duas raças – desprezadas – inimigas entre si e entre os pálidos. “J” deveria me desprezar e eu o odiar pelos que somos e pelo que representamos – ele a (pseudo) pureza de sua raça e eu a vergonha das minhas – sempre errante, sempre andarilho, nunca aceito nem pela raça dos lobos e nem pela raça dos homens, imagine pelos soberbos de pele pálida, que se alvoroçam sempre em proclamarem-se os puros de sangue – o verdadeiro fruto e a descendência única  - da maldição de “UM” sobre “Qayinn” - depois que o sangue de Abel manchou de vermelho o chão de barro do Éden.

Para mim, era estranho que um daqueles velhos soberbos e arrogantes, me oferecesse tão missão – certo que por obrigações de manter a paz - eu não poderia esquivar-me de ser tutor de um seu parente puro sangue.

Mas, “Destino” não cria subjugados, ela não gera domesticados – na forma de  Az-Jeh, ela gera Daemons-Djinn, as rebeldes criaturas de ar, fogo e luz – indomados e selvagens, livres para serem quem devem e querem ser – em suas milhares de forma de ser e manifestar. Para AZ suas crias não se limitam a serem apenas aquilo que sua forma de barro manda ser, mas devem transcender.

Eu e “J” nos ligamos quase que de imediato, eu sentia que algo a mais nos unia – como eu poderia saber naquele momento, que ele não era 100% puro [4] o explicaria a rebeldia que somente um hibrido possuía

Eu deveria entender que aquele pálido soberbo ancião não poderia arriscar um tutor de puro sangue – a falta de submissão e de importância as regras, as etiquetas e normas de “J” o faria notar a que raça de fato ele pertencia -  por isso, eu era o escolhido, afinal sendo ingênuo - tinha saído de um lugarzinho no interior, não tinha conhecimento total da história das raças que habitam os mundos e entre os mundos.

Levantei da Cama fui direto para a cozinha, coloquei a panela com água no fogo, depois de alguns minutos estava tomando uma xícara com café bem forte. Meus pensamentos ainda estavam ancorando naquela voz e nas imagens que ela remetia .

Nós começamos a trilhar os caminhos da antiga-arte da sabedoria, a principio, usando como máscaras de Nosso Senhor a forma de Pã e Nossa Senhora a forma Hécate – eu não sabia até que ponte ele havia sido instruído na nas verdades das Artes do Diabo. Então eu estava conduzido nos vários ritos de indução à Gnose - tanto angelical quanto bestial – mas sempre sob o véu da forma dos deuses mortos – assim era mais fácil fazê-lo alcançar os resultados usando a linguagem do símbolo. 

Em relação a natureza de seu comportamento, sempre comigo foi gentil, calmo, sereno, atencioso, jamais o via levantar a voz – apesar de achar que ele, as vezes parecia um barril de pólvora preste a explodir – nem se quer uma única vez.

Eu o amei mais que amei qualquer um – eu não o desejei – eu amei como uma extensão de mim e estranhamente ele correspondia esse amor de igual modo - não havia desejo e luxuria no sentido humano, mas ambas existiam na forma, sentido e manifestação do caminho tortuoso. 

Ele progrediu tão bem – terminado o prazo fomos separados abruptamente. Eu recebi dentro das Artes do Diabo - como recompensa – aprendizados profundos e conhecimento relevantes e segredos que poucos da minha espécie-mestiça de proscritos tiveram acesso -  ultrapassei o véu da forma dos deuses mortos e decaídos para aquilo que palavras não traduzem.

Terminei meu café, voltei a realidade – outubro de 2017 - eu precisa ir para o trabalho - afinal a Cidade Industrial distava cerca de uma hora do Distrito Policial. 

Cheguei ao Distrito e passei o dia pensando no sonho, as pessoas notavam que eu estava estranho, diferente, distante, calado. No fim do expediente retornei para casa.

Em casa aquilo não saia da minha cabeça -  Derrepente fui tomado por aquela velha sensação de que algo estava por acontecer – eu sentia que alguém estava vindo – e a vibração me era estranhamente familiar, era como a sensação de ter ouvido aquela voz no sonho-feito-carne ao ponto de fazer retornar ao sonho-feito-mente.

Fui retirado desse estupor [5] pelo som insistente da campainha, ainda em sobressalto e ofegante, olhei por cima do muro – já que a parte de dentro ficava muito mais elevada que a do nível da rua – haviam dois homens lá,  eu disse  -  boa noite -  e ambos levantaram a cabeça.

Um deles reconheci de imediato, mesmo tendo agora cabelos curtos e negros – era impossível para ele esconder aquele sorriso - que ao me ver iluminou seu rosto e deixou seus olhos a mostra – a depender da luz seus olhos variam de um castanho claro, passando por um verde água-marinha à um azul claro. 

“J”  já não era mais o jovem surfista rebelde de longos cabelos dourados – cuja foto havia visto no antigo Orkut a mais de dez anos - mais um homem feito.

Ele já havia assumido seu papel entre os da raça puro – apesar dela saber, assim como, a sua origem – estava se preparando para no futuro ser um Ancião.

Pausadamente,  respirado sempre entre cada palavra, falando um pouco pelo nariz, mas com a voz sempre rouca  disse -  se arrume e vamos ali - abri o portão e ambos entraram, arrumei-me e fomos uma pizzaria na parte social da Cidade Industrial.

Colocamos o papo em dia, falamos por mais de uma hora – sempre sob o perscrutante olhar do outro homem que parecia um segurança – como que adivinhado meus pensamentos ‘J” disse, naquele forma peculiar de falar e sempre com aquele sorriso que me deixava impactado – “ele é  um cuidado à mais e uma desculpa aos Anciões para eu poder sair com um pouco de folga”.

Comemos, ele tomou duas cervejas e disse – não é sempre que posso me dar ao desplante de tomar um cerva bem gelada com um velho amigo – depois de algum tempo, ele tornou a falar:  Você deve sair da Cidade Industrial e ir para o Distrito Policial – aqui já não é mais segura, eles não pode mais garantir a sua segurança, muitos não gostaram de você ter tido acesso aos segredos além da forma e além do véu – por isso parta antes que ano vire – segundo informações alguns desgarrados estão sendo enviados para vigiar seus passos.Eu quando soube disso - na verdade, eles mandaria outro e por meio do portal da hipnogogia -  me ofereci em nome da gratidão que me consome. Quando penso em ti desejo que o tempo volte e que fôssemos nós outra vez - não duas almas, mas uma só, não duas pessoas estranhas, mas dois irmãos vindo de uma mesma mãe “Destino”.  

Levantou-se, e, logo outro carro se aproximou para levar-me de volta para casa, mas antes de entramos nos respectivos carros, ele novamente me abraçou e sussurrou - "EGO DABO, SEMPER ITA LOQUI TECUM...  ALEA JACTA EST”. – entrou no seu carro, sorriu pela janela, fechou o vidro e o motorista arrastou.

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Este texto e a continuação de: O PREGO QUE NUNCA ESFRIA - PARTE I -  encontrado em 

https://azazelsemjaza.blogspot.com/2017/11/o-prego-que-nunca-esfria-parte-i.html. 


Ambos construídos a partir da reflexão de um sonho, por isso ele, assim como seu antecessor, é uma mentira símel a um fato... “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobri-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encobre " ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade.....


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[1] Hipnogógico: Adjetivo derivado de Hipnogogia. Relativo ao estado alterado de consciência, intermediário entre o estado de Vigília e o de Sono, durante o qual o indivíduo fica receptivo à percepção de sons e visões.


[3]   Imortais.

[4]  Sua bisavó amou um humano, sua avó-mestiça amou um puro sangue e sua mãe amou outra da raça de seu pai – isso faz dele de certa forma, mesmo que distante, um mestiço – mas isso era um passado que sua família escondia.


[5] Estupor: Medicina - estado de inconsciência profunda de origem orgânica, com desaparecimento da sensibilidade ao meio ambiente e da faculdade de exibir reações motoras. No texto tem o sentido de EXTENSÃO FIGURADO: imobilidade súbita diante de algo que não se espera; grande surpresa, espanto, assombro.