A QUEDA DOS GIGANTES
Confesso que às vezes me surpreendo com a persistência de alguns, fixados em objetivos simplórios. Diferente deles, eu não costumo entrar em guerras cuja vitória me é desfavorável. Em geral, costumo recuar ante algo que me pareça, ao menos no plano visível, causa perdida.
Durante boa parte de minha jornada nestas terras, vagando entre a cidade Industrial, o Distrito Policial e as Terras do Marquês, tentei ajudar – ingenuamente - muitos a encontrar a própria essência, para posteriormente descobrir a duras penas que “quem nasceu para jegue jamais será um puro-sangue árabe”. Cada um nasce com sua própria natureza, seja fogo ou barro, e dificilmente alcançam um estágio de metamorfose. É mais fácil o fogo sucumbir diante do barro do que o barro inflamar-se com a chama negra.
Justificar-se para quem é inflexível como a rocha é o mesmo que falar diante do espelho, neste caso, o comunicante apenas ouvirá sua própria voz e verá apenas seu reflexo. Em outras palavras, nada mais doloroso que ver-se a falar para si mesmo, diante do outro, sem que haja resultado razoável de compreensão pelo ouvinte, mas, em fim, existem momentos em que devemos desistir e seguir em frente, sem olhar para trás, dando a si mesmo, a chance de recomeçar uma nova jornada, ou reorganizar forças para retornar a batalha.
Nem sempre desistir é um ato de covardia, por vezes é um ato de bravura, e em outras vezes é um ato de autopreservação, de assegurar o réu primário e evitar encontrar-se com o código penal na função de réu.
Diante de um dilema sem solução, que não seja a última opção acima citada, a tática é desistir de lutar, recolher suas armas e buscar novas paisagens. Isso não dá ao inimigo a mínima chance de vitória, mas também não nos faz colher os louros de derrotá-los. Trata-se de usar a velha tática do W.O ou, quando muito, do zero a zero, aliás, ambas saem mais vantajosas do que ser posto na berlinda.
Se há outras opções não tenho que encarar certas guerras, mesmo que menos honrosas, sejam essas opões, preserva a sanidade é essencial. E nos dá tempo de sacudir de cima de nós as cinzas esfareladas do barro humano.
Pelo dito até aqui, já é possível dizer que me reduzi – temporariamente - a brasas, mas saio na vantagem de saber onde alimentá-las e reacender a chama negra. Em certo momento – no aqui e agora - do fundo do abismo, olhei para cima e percebi que estava na cova dos leões, prestes a ter sobre o meu ser óleo fervente, que apagaria de vez quaisquer resquícios do fogo de nosso senhor, o Diabo em mim.
Então, ali, diante da escolha posta por Satã (qual o seu maior e mais íntimo desejo?). Preferi perder o chão, escalando aos poucos o poço até a borda.
Por mais difícil e doloroso que seja, esta foi a única opção possível.
Mas não pensem que me sinto derrotado, sou adepto da lei da causa e consequência, e quando se trata de devolver a consequência, a paciência é minha maior virtude. Seguindo esta lógica, conheço a sede insaciável do primeiro dos inimigos e, por ter ele um ego inflado, e poder nas mãos, jamais se contentará com o golpe que levou, com a rasteira que tomou, quando tirei minhas armas do embate direto diante da minha iminente derrota e recolhi-me ao esconderijo provisório. Afinal, este esperava me ver em desgraça, ver tudo que construí, desde reputação à confiança, perder-se.
Igualmente, o segundo, apesar de intelectualmente inferior, sem menos recursos, e escondendo-se por detrás de fakes na prática de stalking, deseja a mesma coisa. Ambos, apesar de separados e de terem diferentes poderes, poderiam atingir-me de imediato.
Diante disso, a única opção sábia a fazer foi retirar-me de cena e deixar o palco para que ambos se autogloriem, de terem me feito desistir, mas na certeza de, com táticas e meios diferentes, continuariam a guerra contra seus, agora, moinhos de ventos.
O que eles esquecem é que nada nessa vida é eterno, e meu recuo, ou fuga, como queiram chamar, é temporário e me dará tempo para reorganizar minhas estratégias, reunir aliados e preparar-me para batalhas futuras com ambos, como diz “Sun Tzu: As oportunidades multiplicam-se à medida que são agarradas”.
Eu conheço bem as armadilhas que ambos estão postando no terreno do futuro, aliás, mais uma vez o autor da Arte da Guerra nos lembra que “Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas... Diante de uma larga frente de batalha, procure o ponto mais fraco e, ali, ataque com a sua maior força.” Assim, em silêncio, como uma serpente à espreita, como um demônio nas sombras, usando aquilo do lado de lá para realizar do lado cá a vingança, logo estarei de volta ao campo de batalha, para assistir à queda dos gigantes.
Por Jayhr
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O texto é uma ficção e como tal ele diz mentiras símeis aos fatos, “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobri-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encobre " ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade...