BEATRICE
Junho é o mês de Santo Antônio, Santo Casamenteiro, Aquele cujo
ícone fora do limite é o segredo que casa o céu com a terra. Sincretismo
de Ogum, Ferreiro, Guerreiro solitário, cuja lâmina é o símbolo do caminho de
fogo que divide aqui de lá.
Nos terreiros há
feijoada, Na Igreja trezena, Na Arte o segredo de casar o divino e o herético
sob o signo da cruz de Cristo e, debaixo da Gameleira com gosto de vinho de
fogo romper os limites e saber lamber a rã e beijar o sapo.... Então em noite
turva e tumultuada, com saudade do gosto e do efeito do álcool, você Sonhou e entendeu
o que dizia o ícone de amarração e o sentido da queima pelo fogo que o Mestre
mostrou.
Percebeu que não havia
nada e nem ninguém, além de ti mesma, que te impedia de seguir, tu obstáculo e
trave de teu próprio caminho.
Ogum lhe disse no reflexo
da lâmina que é o tinir do martelo de Caim que precisas ser transformada e
transmutar o apego em estrada para ir além daqui, viu no calor da chama do
dendê, que precisa ter o arcano que está além do signo e do rito, e ao mesmo
tempo dentro dele, e, nisto consiste a tua ancestralidade, aqui há um segredo
para ti: o que importa é saber quem se é qual a tua origem.
Por isso na liberdade que
a mente alça fora e dentro do limite, louve a Exu que abre-te as portas em cada
encruzilhada, te ensina a livrar-se de teus próprios medos e apegos, desta
forma há espaço para que se realize a epifânia de um epô;
Não deixe que nada e nem
ninguém seja empecilho as tuas conquistas, somente você pode impedir a você
mesma.
Que você possa entender
que esse é o momento do exílio, sim!!!, guardadas as proporções, é um exílio
qayinnita, terás de que deixar a segurança da caverna, as sombras refletidas
pelas chamas da fogueira do comodismo devem ficar para trás, deve quebrar os
grilhões e vê o sol e a cruz que forma o tal da serpente, sim prepara teu “Eu e
quem és” para o lugar onde vai enfrentar a solidão escaldante e o frio do vazio
da noite (deserto), onde nem mesmo o céu estrelado e a luz da lua cheia
confortam o estranho espaço a ser preenchido dentro de tu mesma. Lá é o lugar
onde há sempre escorpiões e chacais à espreita em cada esquina, a fim de
devorar-te com sonho e tudo, e se ainda sobreviver a isso, há que enfrentar o
abafado estado de vazio dentro do coração, ele é quente e úmido (como a
floresta), empesteado de animais e insetos mortais. Nada será confiável, uma
simples flor pode carregar um veneno mortal, valei-me meu São
Jorge!!! Empreste-me suas armas e sua armadura, pois haverá até dragões
pra lutar.
Valei-me Santa Luzia!!!,
clareia os olhos para que eu veja com gratidão no mais profundo de mim, se vale
apena abraçar a dor da separação e seguir a estrada tortuosa.
Que lhe seja sagrado este
demoníaco-divino momento de exílio, que ali aos pés da árvore da vida, você
reflita nas muitas faces que Nossa Senhora se apresentou a você, e finalmente
possa encontrar tua mãe e libertar o espírito dela para o além sem consciência
de onde todos que não sabem e não lutam pra saber quem se é devem ir.
Gratidão pelo teu teste
do limiar, gratidão pelo exílio e viva-o com intensidade, faça como Qayinn
construa uma nova cidade (vida) e faça-a prosperar, pois, assim como Iavé
colocou a marca em Qayinn para que ninguém o fira, você foi marcada pelo fogo e
pelo ferro, o prego que nunca esfria, o quarto prego da cruz há que perseguir
cada lugar em que montar tua barraca de cigana. Que o este prego-archote esteja
contigo, que Os Mestres do além de tuas crenças e o meu Mestre esteja ao seu
lado e lhe faça forte.
O exílio dói, mas no fim
você estará saindo da caverna, atravessando o deserto, chegando à floresta, lé
encontrará o vale fértil, onde aprenderá o segredo de lamber a rã e beijar o
sapo. Ali plante a semente do manhã e lembre-se sempre de quem é, de onde veio,
qual a sua origem...
Desça com dignidade e cabeça erguida, demonstrado sua honra, as escadas do inferno, entregue-se ao homem desnudo, para poder levantar-se rumo ao paraíso perdido como um Anjo, isso é tudo, e nisso há coisas ditas nas entrelinhas que a compreensão comum não percebe.... Aprenda não há mistérios em ritos onde o coração não está e onde a crença é duplamente praticada aquém do limite.
Saiba que o verdadeiro sabá é o sonho-desejo- feito carne, por isso transforme seu sonho-desejo em realidade na carne. Lute como Jacó na escada com o Anjo de Deus e Seja Rainha de seu reino (vida-destino).
O Amanhã está agora sendo construindo por você, toda jornada começa com o primeiro passo, o que havia deixou de ser continua sendo, a árvore que dá a semente não é ela mesma renascida, mas contudo ela continua na semente, portanto, continuará sendo árvore nova e semente nova, trazendo em si toda árvore velha que foi semente velha.
Nunca desista.
Nunca peça o que não pode
suportar;
Nunca prometa o que não
pode cumprir;
A honra deve ser
preservada a qualquer custo.
Palavra dada, palavra
cumprida.
Não há meio termo.
Este é o lema do dia 13
de junho de 2013.l
ARTUR
A beleza
da fé é o coração, se não há coração, a fé não faz a ligação entre o céu e a
terra e os Mistérios da Deusa Mãe de Todos não são revelados ao que
busca a ciência.
Para que o coração esteja firme é preciso saber amar a Deus, a amar a sua Mãe Maria, amar os Guardiões dos portais e amar os doadores da sabedoria e da ciência sagrada.
Amor não é sentimento
apenas, é entrega, é troca, é reciprocidade, mas acima de tudo é sacrifício
pelo outro.
"O Amor é à base da
sabedoria e o caminho para a ciência dos Encantados".
Por isso sobre o ícone de qualquer fé o amor pode ser praticado. Somente quem ama a si mesmo, pode compreender e doar o amor, porque só doamos aquilo que temos.
O amor não é essa coisa
pueril dos filmes e novelas, amor é algo além, que se revela na fé sem nome.
Amar-se é a forma de expressar o amor a Deus sobre todas as coisas, amar-se ao
ponto de apaixonar-se por si mesmo e assim no ápice do ego, transcender a si
mesmo e explodir em amor, e doar-se ao poder do amor que é Deus.
Para aqueles que
ultrapassaram o limite da fé mortal dos deuses mortais, Deus está em todos
ícone de qualquer fé, pois vários são os nomes e forma do ícone-amor que Deus
se reflete.
Assim dependendo do pais,
da região, do credo e dos atos litúrgicos as terminologias do ícone vão mudar,
mas o poder ou coisas que eles representam permanecem como era no princípio, os
nomes dos ícones mudam o amor-poder-Deus que eles refletem ou representam não
muda jamais.
O que importa é o que
está por trás do símbolo do ícone. Quando você romper o véu do apego ao passado
e atravessar o limite estabelecido, saberá que nas várias formas da Arte os
ícones sempre foram usados aquém e além do muro ou limite, e compreenderá o poder
contido no ícone, pois ele foi corretamente e também popularmente preenchido
com as preces dos fiéis, e muitos destes fiéis, repousam no sangue que corre
nas veias de teu próprio corpo, aqui está o segredo da ancestralidade.
Os mortos de teu sangue vivo
reconhecem no íntimo de ti mesmo o reflexo do que foram e são, ou seja, o
sentido de terem vivido dentro do limite antes da morte e depois por meio da
morte e de ti o de viverem posteriormente fora do limite estabelecido pela morte e pela moral.
Cabe a ti a missão de
preencher o ícone com os poderes dos silentes. Desta forma o ícone quando
corretamente usado fora e dentro da heresia, torna-se junto com o beijo no sapo
e a lambida nas costa da rã a formula secreta da Deusa Mãe de Todos e dos mistérios que
separam e unem os mundos dos vivos e dos mortos.
Sua mente deve saber atravessar e voltar da travessia ao limite em segurança e se ela souber separar os dois mundos na carne, aprenderá abrir a porta de cá para o além, e do além para cá depois da morte, ou como diria na minha crença, abrir os portais para o reino dos encantados.
O intercâmbio entre os mundos na carne é o caminho correto para cruzar o limiar e comungar com os Mortos Poderosos e a com a legião que reside na Necrópole debaixo de teus pés e o contrário também é verdade, pois há que se fazer de lá para cá.
Por isso "SABER QUEM SE É" é poder manter a consciência de si mesmo quando atravessar o portal que divide os vivos e os mortos, SEJA EM VIDA ou DEPOIS DA MORTE de teu corpo.
No rito ao receber o
corpo-espiritual do morto do além em seu corpo (pois o sangue chama pelo sangue),
o vivo está comungando com a morte e os mortos ao virem seus corpos refletidos
e trabalhando no corpo material do vivo estarão reciprocamente comungando
conscientemente com a vida, afirmando QUEM
FORAM e QUEM CONTINUAM SENDO, deste
modo eles confirmam por tabela QUEM
TU É, por isso o intercâmbio se faz necessário e o limiar é atravessado
sempre de um lado para outro.
Para isso há que haver a
entrega total, confiança e amor mútuos, ter a certeza que quando do
arrebatamento de teus sentidos da terra para o além, haverá quem cuide de teu
corpo aqui, que agora é um reflexo e a voz do túmulo dos falecidos de teu
próprio sangue e origem.
Santifica e sacraliza teu
sangue e tua carne, não o despreze nem mesmo o mais humilde de teus entes
falecidos do passado, pois muita sabedoria e ciência tem se perdido, porque a
maioria só aceita servir de intercambio com os mortos famosos em detrimento dos
mais simples e humildes dos mortos do sangue, nisto temos visto muitas
mistificações.
De mesmo modo quando somos arrebatados para o mundo do além, nos tornamos
reflexo dos corpos espirituais do que estão em permuta de consciência com nosso
próprio corpo, ou seja, aqui eles terão plena certeza e confiança que há quem
cuide do corpo deles no outro mundo e a recíproca é verdadeira. Este é o
segredo do beijo no sapo e da língua nas costa da rã.
O que isso quer dizer?
Apenas que o culto que
vivo é uma forma nacional de Bruxaria sim, verdadeira herdeira da Bruxaria
Ibérica, e quem diz isso não sou eu é o “Câmara Cascudo em seu livro
Meleagro”, então, por esse ângulo não preciso transliterar ou agregar nada
de minha crença antiga (Bruxaria) para a minha crença atual (Catimbó), pois
dentro da minha fé vivo a mesma coisa de minha antiga fé, ou seja, tudo
da antiga fé existe na nova fé, apenas a suas formas e expressão visível
diferem.
O que quero dizer é que
evidente que existe a diferença em nível palpável e louvo aos Senhores Mestres
por isso, mais em um nível além do que é compreendido pelo vulgo, não há mais
divisão, e mesmo assim cada uma é uma, e são a mesma coisa, praticada de modos
diferentes, o que me deixa livre para não misturar as crenças e seguir em paz.
Também existem coisas que
faço que não pertencem nem a minha antiga crença e nem a minha atual crença,
mas que acordam com o que é dito acima sobre o ícone, ancestralidade, liberdade
e amor...
Agora se eu continuasse
praticando minha velha crença e a nova ao mesmo tempo, mesmo que em espaços
separados, minha mente também as veriam de forma separadas e desta forma elas
seriam antagônicas, ou seja, estarei com apego ou a uma ou a outra, mas quando
me entrego a uma e deixo que outra siga seu próprio curso sem que eu esteja
nela, ai sim consigo me desapegar do passado e continuar praticando os mesmo
atos de forma diferente, e assim existirá o respeito por cada caminho já
trilhado por mim. Não preciso renegar o velho em detrimento do novo, mas
sim, praticar o novo com amor, pois mesmo de forma diferente, mesmo
de credo e ícones diferentes, ambas tem em si, tudo que a outra contém.
Não é difícil entender o
que digo, veja bem na encruzilhada material ou física, há quatros caminhos e a
menos que eu tenha o dom sagrado de multiplicar-me e viver cada parte do
múltiplo caminho ao mesmo tempo, eu não poderia escolher mais de uma dos quatro
caminhos de cada vez pra seguir. Lembre-se que cada caminho leva ao fim da
jornada, mas cada um desenha essa rota com suas próprias peculiaridades.
Caim escolheu deixar o
passado para trás e você?