domingo, 9 de agosto de 2020

BRUXARIA , CAMINHO DA TORMENTA

          O DIÁRIO DE AZAZEL - PAGINAS 2042 A 2046 

Enganam-se, os que pensam que o caminho da Bruxaria é um caminho belo, iluminado ou romantizado pela banalização e propagação de uma “ciranda curandeira” que proliferou através dos tempos e foi revestida da falsa moralidade católica, para corromper, e pregar o fundamentalismo que compactua com conceitos e fórmulas prontas deturpando assim conhecimentos a troco de uma reprodução irresponsável, rasa e mercadológica. Do contrário, Bruxaria é um caminho tortuoso, gélido, sombrio de muita coragem e força para sustentação. 

Um caminho onde é preciso despir-se e perder-se tal qual a própria Deusa quando desce ao submundo.

Bruxaria não representa ganhos, Bruxaria é perda! Perda de tudo aquilo que é fútil, obsoleto, imposto e reproduzido, para o encontro da Consciência através de uma Vida Iniciática e não de uma Iniciação vendida em troca de um certificado. Antes de tudo, ser Bruxo ou Bruxa é viver esta vida Iniciática através da busca da Sabedoria junto ao Sagrado. As ritualísticas, respeitadas para que sem mantenham os Mistérios e as formalidades por respeito às Tradições, representam em si mesmas o Renascimento do Buscador(a) Caminhante, que assume a responsabilidade de vivenciar o Sagrado tornando-se ele(a) uma expressão desta força que alimenta-se de si mesmo. 

Descobri a duras penas que o Caminho da Bruxaria é Autofágico, foram exatos 14 anos para chegasse até aqui, na saída deste Labirinto de Hécate, onde não apenas vi as fatalidades do mundo material como encontrei em cada curva uma falsa porta. Quantas delas eu tentei adentrar e após ser recepcionado com pompas, descobri mares e mares de ilusões, teias de mentiras e hipocrisias infinitas, cujo a finalidade jamais foi o encontro com a Sabedoria através do Sagrado. Escrevo portanto este ensaio por respeito e honras “aos que vieram antes de mim e aos que virão depois de mim” pois é preciso manter a roda girando, e mais do que nunca é preciso deixar registros sob um olhar responsável e ético. Assim, a roda não somente gira como existe através de nós e por meio de nós. 

Ser LVNAE não é ser um aprendiz que compactua, porém é ser um caminhante que faz o caminho caminhando, tornando-se o próprio caminho. LVNAE, com toda intimidade e apropriação que me cabe está para além das tradições. É uma Ordem, uma Família, e como já disse Lvpercvs, “LVNAE é um conceito de extremo Amor pela Liberdade.” E assim, neste espaço-tempo cada um, segue o que lhe é afim e promissor, no presente, sem negar os aprendizados do passado, mas com olhos no futuro. Como Hécate Trívia, Senhora de muitos caminhos, temos muitas faces. Hécate, a Deusa que põe à prova quem com ela deseja estar e a qual tenho extrema afinidade, identificação, honro-a pois ela permitiu que eu pudesse honrá-la .   

Foi através de Lvpercvs, nosso precursor e Professor nesta jornada na Bruxaria, que aprendi que nenhum conhecimento me seria dado sem que eu o buscasse por mim mesmo e que estar ali além de ser uma escolha pessoal era antes de tudo um compromisso de responsabilidade comigo.

E assim, LVNAE, caminhante vestido com o véu da dúvida em busca de compreensão, provei tanto do veneno capaz de ferir e matar, quando do antídoto que cura encontrando na Bruxaria aquilo que já estava comigo o tempo todo. Eu, Phibivs Samech LVNAE, enquanto proposto, entendo a vida como a necessidade de existência de almas que acabam por existir em planos mais densos de diversas formas. Muitas delas, com finalidades específicas, e com possibilidades múltiplas de construções. Não há para existência um caminho único ou específico a não ser aquele que nos afinizamos. Por isso, bebo de muitas águas, sem temer secar as fontes. Abraço diversos pensamentos e não me dobro diante da opressão coletiva que busca dizimar a Bruxaria, rotulando-a como simples ritualística de afinidades que sustentam o estigma antropofágico caracterizado pela hierarquização e idolatria.

De fato, talvez, seja também um processo que diz muito sobre nós os LVNAES, pois sempre estivemos à margem, nunca nos ludibriamos pela busca da fama, sucesso ou glória senão a da conquista interior. Esta sempre foi a nossa escolha. E na medida em que me exponho neste ensaio, vejo a importância de não me calar e não permitir que a demagogia se instale por completo no mundo, sustentada pela força da maioria que abre as suas portas de papel enquanto finge reluzir vendendo curas e enganando mentes com seu charlatanismo criminoso.

Eu, Phibivs, entendo e respeito que existam linguagens e sistemas diversos, cada um com suas particularidades e métodos para o encontro com a verdade. O princípio da Oralidade, respeitado é o que converte o Neófito em receptor de Energia e Poder através da Sabedoria do Mestre, na Ritualística isto se estabelece e funde-se, mas é no romper com o rito, no romper com o símbolo que somos capazes de encontrar o que sempre buscamos dentro de nós. Este é o maior mistério do Caminho da Bruxaria que ao ser revelado destrói qualquer possibilidade escravização libertando a alma que é de Natureza Indomável. 

O “GREGIS FAMILIAE ORBIS LVNAE” foi e é para mim uma Grande Ordem Iniciática nos Mistérios da Bruxaria Tradicional, que com seriedade, compromisso, aprendizado e exercício da liberdade para pensar e agir nos auxiliou a compreender que as escolhas individuais sempre implicam em resultados coletivos, aprendendo, a saber, escolher, pois, todo este conhecimento que implicava em Extremo Amor pela Liberdade, trazia consigo o seu revés que é a Responsabilidade. 

O “GREGIS FAMILIAE ORBIS LVNAE” nunca formatou Bruxos ou Bruxas. Porém, despertou-nos como quem levanta os mortos para a vida, e nos levou ao Renascimento que nós mesmos conquistamos através da fagulha que queima e destrói a ilusão para dar espaço ao movimento mais belo da existência. Isto é vida, isto é a verdadeira Iniciação.   

Eu, Phbivs, caminhei ao longo destes 14 anos por muitos caminhos, encontrei-me no Axé da Umbanda e trilho o Caminho da Magia, voltando-me ao início de tudo em um eterno retorno tal qual o Ourobouros, a “Cobra que Morde a própria cauda”, para honrar os aprendizados e reconhecer em mim o território germinado com o insumo dos Mistérios da Bruxaria que me foram revelados através do “Coven Círculo da Lua” e do “GREGIS FAMILIAE ORBIS LVNAE[1]” ou para os íntimos “Os LVNAES”.

Agradeço e honro aqui a busca do meu irmão Lvpercvs Gael Semjaza Qayiin Lvnae, o espaço para expor minhas reflexões e como eu, lhe disse, reafirmo publicamente e peço que guarde com carinho esta frase para todo o sempre: “A sua coragem é a minha coragem.” E é através dela que escrevo essas palavras, isto, jamais ninguém ousará questionar: “VERE LVNAE SANGVIS MEVS, SEMEL LVNAE SEMPER LVNAE[2]  

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Texto de autoria de Phibivs Samech Lvnae, ao meu ver inspirado pelo chama lucifera que arde no sangue Lvnae. No texto ele  diz mentiras símeis aos fatos, “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobri-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encobre " ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade...

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[1 Clã da Família do Circulo da Lua. Ele ultrapassa a manifestação física habita no sangue de cada um que provou o gosto do sangue e os bolos de luz.

[2] Verdadeiramente meu sangue é Lvnae, uma vez Lvnae sempre Lvnae. Significa que não importa qual caminho siga - pois ser Lvnae te da a liberdade de escolher - jamais deixará de ser Lvnae, não se abdica do sangue bebido na coifa de Lilith.  Ser Lvnae é imutável. Até porque Um Lvnae. Nunca  nos atrasamos para o encontro com o Diabo, o Chifrudo das Encruzilhadas, não importa a máscara que ele use, seja de um romance, trabalho, decepção, qualquer que seja a mascara de satã, ela terá sempre ele, Nosso Senhor o Diabo,  com luz entre os Chifres.

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4 comentários:

Sírius L. Lupino disse...

Falar de Bruxaria publicamente no cenário em que nos encontramos, onde há muita certeza na boca de quem pouco sabe, e estes que pouco sabem em sua maioria adoram ter razão e atirar pedras e julgar, é uma tarefa audaciosa que necessita de coragem. A Coragem deste irmão é fruto do espelhamento no Jair, que serve de Farol e Norte para todos nós, quando digo nós, não me refiro apenas à este grupo, mas à nós como buscadores da sapiência divina - então isso se abrange à todos que carregam este intento. Inflamado por esta coragem, inspirado por seus Daimons e sua Musa, movido pelo ardor do Sangue Lvnae que carrega o fogo dos Antigos, vejo um irmão surgir em meio às brumas dos Egos e Vaidades públicos, em meio aos Magos Todo Poderosos que tanto ostentam seus Cajados forjados de títulos vazios e linhagens imaginárias, para lembrar-nos à todos nós, dos valores e fundamentos que compõe a nossa busca, da marca, e da sinuosidade do caminho! Esse lembrete serve-nos para não nos deixarmos ludibriar pelos engodos externos, na figura de imagens públicas de notoriedade, mas que de igual notoriedade é o vazio de essência e saber que externam. Igualmente os engodos internos, são armadilhas perigosas que nos levam às certezas absolutas e faz-nos cheios de nós mesmos e distantes da sabedoria dos antigos, forjados em fogo frio, em água morna, sem resistência, sem coragem, sem valor, sem a Marca.

Num momento em que se tornou comum Ovelhas ditando e pregando a Bruxaria, sob a Égide de seus Pastores Todo-Magos. É louvável o surgimento de textos inflamados pela essência do Buscador, pela essência da Arte. Vejo Essência, uma busca sincera. E que encontre terras férteis para prosperar e crescer. Feliz pelo texto! Que venham outros!

Phibivs Samech Lvnae disse...

Salve irmão. sinto-me agraciado e contemplado em suas palavras. É confortante a mim, como Buscador receber estas palavras lúcidas. Agradeço-te pelo apreço e que a prosperidade se faça através de todos nós. Att. Phibivs Samech Lvnae

Alex disse...

Quando uma porta é aberta deixe-se infundir em si a vida e os mistérios que chegam pelas chamas sagradas do arcano 15. A porta aberta pela chave do caminho bruxo.

Fae disse...

Eu amo esse texto. É a terceira vez que o leio, e é sempre perfeito e atemporal. É sempre sobre estar só e sobre ser minoria (para mim). Grata irmão!