sábado, 28 de dezembro de 2024

 A QUEDA - PARTE III


Explicações necessárias à Parte I e II


Todo texto que brota aqui são “mentiras símeis aos fatos”, ou seja, eles escondem acontecimentos reais, acobertando-os sob a máscara do eufemismo[1], ao fazê-lo, se revela como uma história (ou seria estória) metonímica[2]. Pois substitui sem pudor, como a amada que se desvela no quarto ao seu amado, as coisas como são, nua e crua - em sua dureza, dores, lágrimas, recheadas de ansiedade, depressão e tristeza - pelas similitudes de uma leveza textual degustável aos olhos do leitor.

Raros são aqueles que veem além das “mentiras símeis aos fatosnaquilo que escrevo, como, por exemplo, meu irmão Sirius Lupino, que percebeu que o texto VIA LACTÉA[3], descreve tão somente uma relação sexual. Portanto, assim como as Musas[4] da Teogonia[5] de Hesíodo[6] :"Sabemos muitas mentiras dizer símeis aos fatos e sabemos, se queremos, dar a ouvir revelações.

O que significa dar a ouvir ou  ler revelações, ou melhor, qual a necessidade de explicações à Parte I e II? 

A resposta é que, quando veio a inspiração para escrever  “A QUEDA PARTE I e II [7]”, e depois publicados, recebemos diversas mensagens sobre o significado deles, as quais vinham com palavras solidariedade e compaixão. Quem as mandou não se atentou que se tratava de ordálios pessoais do autor ou do próprio leitor[8], de um aprendizado que se leva para a vida toda, que é: o de saber quem se é” e “ o da necessidade de impor limites”, bem como, o de aprender com erros”.

Quem é o Demiurgo e qual o seu sentido no texto da PARTE I?

O Demiurgo é UM,  o fragmento do texto diz:

“Um adiantou-se e rompeu a singularidade, em um tempo tão curto que não pode ser mensurado pela mente humana. As realidades contidas entre o existir e o não existir foram rompidas e expandiram. E este, entre muitos outros universos, surgiu...Esta manobra de UM, ocultou a não existência, isolando o Não-Existente, afastando-o da matéria existencial e dos múltiplos universos. Em consequência, UM replicou a si mesmo, como vírus, para estar em cada um deles, como Criador único.”

Aqui está um ponto-chave, quando UM expande-se, a similitude ou “mentiras símeis aos fatos”, desvenda que os seres humanos são capazes de tudo pelo que chama amor, capaz de diminuir-se para caber e ser, no universo alheio, criando um mundo de fantasias na própria mente.

Aqui UM, sendo o autor ou leitor, perdeu-se, caiu na armadilha da manipulação e, como já dito, fez de tudo – aqui está o sentido da multiplicação de UM – para ser aceito, tornou-se dependente emocional, vítima perfeita de qualquer pessoa tóxica e a fonte de suplemento narcisista do outro. Portanto, a similitude é de deixar de ser quem se é”, para se tornar “marionete”, num jogo perigoso que leva a quadros de ansiedade, depressão, perda do autoamor ou amor-próprio e revela a total dependência afetiva de UM em busca de validação.

Inevitavelmente, a QUEDA PARTE II deve ser encarada não de um ponto de vista, mas da vista de um ponto, ou seja, do papel que temos na vida UM, como amigos - se é que fomos amigos - e não parte da queda que o precipitou ao buraco. Deveríamos perceber que UM caia em parafuso, num fosso sem fundo.

Então, “a vista do ponto é”: Qual o seu papel antes, durante e depois da queda de UM. O que fez, o que disse, além de expressar via WhatsApp condolências, sentir pena, achar que era vitimismo, ou um texto apenas ficcional?

Condolências sim! Por que não? Se UM caiu, quem ele era morreu, esfacelou-se, fragmentou-se a tal ponto que já não se pode juntar. Já não pode mais ser quem era. Precisará se levantar, se reinventar, se reconstruir, não há como juntar os pedaços, pois cada pedaço estará recheado de lembranças, de cheiros e momentos. Portanto, UM precisará moer-se até que seja pó novamente, ou seja, sofrer, chorar, temer, encarar a realidade, até que o vento de uma nova oportunidade sopre o pó para longe, para um lugar fértil onde possa servir de adubo ao renascimento, ao novo despertar, a uma nova realidade, onde sozinho, recomeçará a viver outra vez e a voltar a ser quem se é.

A pergunta na parte dois é: Enquanto UM cavava mais e mais para baixo no fundo do poço, o que você fez, onde estava? 

Então, a Parte II é sobre o seu papel na queda de UM. A sua posição, a sua disposição de estender a mão. A menos que você tenha sido o motivo da queda, do perder-se de UM de si mesmo, ou lhe tenha faltado percepção e conexão fraternal, ou seja, jamais foi amigo de UM e sim alguém que se aproximou por interesses escusos, nessa QUEDA "do ponto de vista" de UM você foi um grande filho da puta. Portanto, a parte dois é um espelho onde cada um pode ver seu próprio reflexo na vida de UM e UM lhe olhar de volta através do espelho.

Por Jayhr

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O texto são mentiras símeis aos fatos, “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobri-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encobre " ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade... UM pode ser o autor, o leitor ou um conhecido.


[1]eufemismo é a figura de linguagem usada para tornar um enunciado mais brando ou agradável e menos agressivo. É bastante utilizado em contextos que exigem moderação ou para falar de conteúdos fortes e polêmicos por meio de termos mais suaves e menos provocantes..

[2]“metonímia” tem origem no grego e significa “além do nome”, em outras palavras, é uma figura de linguagem ou de palavra caracterizada pela substituição de um termo por outro, havendo entre eles algum tipo de ligação. Desse modo, pode haver a substituição de parte pelo todo, qualidade pela espécie, singular pelo plural, matéria pelo objeto, indivíduo pela classe, autor pela obra, possuidor pelo possuído, lugar pelo produto, efeito pela causa, continente pelo conteúdo, instrumento pelo agente, coisa pela sua representação, inventor pelo invento e concreto pelo abstrato.

[3] https://azazelsemjaza.blogspot.com/2024/06/via-lactea-o-diario-de-azazel-paginas.html

[4]As Musas são personagens da Teogonia escrito por Hesíodo. O Poeta descreve que às Musas deram a ele um conhecimento sobrenatural capaz de conhecer as coisas presentes, passadas e futuras e ensinaram-no a cantar, para que ele cantando, celebrasse os deuses imortais, as façanhas dos homens antigos e também a elas próprias no começo e no fim das canções.

[5]A Teogonia nos conta como o mundo surgiu a partir dos primeiros deuses, seus amores e suas lutas.  De certa forma, a Teogonia é o mais antigo tratado de mitologia grega que chegou até nós, descreve a criação do mundo e a seguir relaciona, cronologicamente, cada uma das gerações divinas.

[6]Hesíodo foi um dos maiores poetas gregos da Idade Arcaica. Viveu aproximadamente no ano 800 a.C. na Beócia, no centro da Grécia. Suas obras conhecidas são: Teogonia, Trabalhos e Dias e O Escudo de Hércules.

[7]https://azazelsemjaza.blogspot.com/2024/11/ e https://azazelsemjaza.blogspot.com/2024/12/

[8]Os ordálios são práticas antigas utilizadas para determinar a culpa ou inocência de um indivíduo.

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

                                                 A QUEDA - PARTE II


"O segredo não é ver o que ninguém viu mas sim enxergar de forma diferente o que todo mundo vê "  Arthur Schopenhauer.

 

Em todos estes anos de práticas de feitiçaria, jamais um caminho foi tão cheio de ordálias quanto a Quimbanda. Mas, antes de começar, peço aos quimbandeiros, que não vejam estas linhas como ensino, doutrina ou orientação, ou seja, não irei aqui discorrer sobre fundamentos e práticas de Quimbanda, para isso já existem para além de centenas de cursos – alguns ruins, outros mais ou menos e um ou outro raros e bons – nem tão pouco falaremos de literatura sobre este caminho, até porque, a meu ver, as melhores obras sobre Quimbanda até a presente data são os livros do Danilo Coppini [1], que valem cada centavo pago sem choro. Mas, todavia, peço que vejam estas linhas sob e sobre a ótica da perspectiva de vivência pessoal de quem escreve.

Quando conheci o caminho do culto ancestral, o caminho de veneração e pacto com os mortos poderosos – Exus e Pombagiras – não foi como cliente, e sim, como iniciante na prática, confesso que fiquei deslumbrado, encantado, cheio de sonhos. Imaginava que meus ancestrais abririam todas as portas e caminhos de realização.

Eu já vinha de uma linha de Bruxaria e filosofia Luciferiana[2] cujo objetivo primal é o da mão esquerda e o da autodeificação[3], tendo Caim (ou Qaiynn) que, ao passar por toda narrativa descrita no livro “The Book Of Cain” de Michael W. Ford[4] é o exemplo e patrono da autotransformação. E na minha opinião e somente nela, a Quimbanda é um sistema Antinômico[5] pois se opõe ferozmente ao sistema estabelecido da cristandade como sendo bom e perfeito para a humanidade. Neste sistema estabelecido pelo Demiurgo[6]” é excluída a liberdade do ser humano de pensar por si só, de se ver como ele é de verdade, porém, dando-lhes em substituição “a liberdade” um falso conceito de livre arbítrio baseado na dicotomia deus x diabo, ou seja, aquilo que o sistema demiurgo diz ser bom é de Deus e o que ele afirma ser mal é do Diabo.

Voltando ao cerne, realizei os atos, alimentei meus antepassados, vi resultados acontecendo na vida dos outros pela minha intercessão junto aos mortos poderosos. Houve avisos de perigo e a vida de alguém foi salva, pedidos de emprego e amores foram realizados para outros. E, depois de acontecerem, jamais voltaram para agradecer ou para trazer um mísero cigarro como forma de gratidão.

Enquanto isso acontecia e acontece para os outros, em relação a mim, tudo de bom esvaiu-se de minha vida como água escorrendo entre os dedos: emprego, dinheiro, amores, amizades, ia sumindo e todos se afastando. Jamais imaginaria que todo o meu entusiasmo, diferente dos ditos clientes cujos pedidos são realizados rapidamente, se exauriria rapidamente por causa das ordálias[7]. Como diz o ditado popular, "Quanto maior a altura, maior a queda" e queira meu leitor traduzir a palavra altura no texto por entusiasmo.

O que eu sei é que cai literalmente no fundo do poço, sem amigos, sem amores, sem casa própria – pagando aluguel caríssimo - recebendo metade do que ganhava. Entrei numa crise existencial, nada mais fazendo sentido, pensei em largar tudo, sumir no mundo, despachar assentamentos e viver agnosticamente[8], assumir meu destino de solidão.

Fiquei sozinho, desolado. Mas não deixei de alimentar meus Exus e Pombagiras, com fluido vital, carnes, frutas, padês e toda espécie de alimentos, agrados, preces e oferendas. Pedia uma direção, uma orientação aos meus Guardiões e Ancestrais e nada, clamava por caminhos abertos - não importava se desse um bonde ou um frango, um bife acebolado, ou um gym - nada fluía, a resposta era sempre nada, conjuntamente, com a estagnação e as perdas. Via-me cada vez mais cair do alto das minhas crenças para o fundo do poço.

Às vezes batia e ainda bate o desespero, a solidão, o arrependimento. Isso sem falar da ansiedade e das crises de depressão. Nesses momentos cruciais, me vêm à mente as palavras de uma Sacerdotisa e Dama de um Convetículo Tradicional que dizia: o Caminho da feitiçaria te levará à loucura, solidão ou morte, esteja pronto para dialogar com o Diabo e debater com Satã”.

Eu me questionava aos Mortos Poderosos, por que não tenho respostas positivas: será por ter sido um canal gratuito a pedidos e desejos de outros, já que a regra básica é primeiro dar e depois barganhar? Em outras palavras, eu não exigia pagamento, mesmo que fosse em forma de bebida e cigarros. Fazia por caridade. Talvez a resposta já esteja aí nessas linhas acima, ou mais abaixo, e/ou eu jamais saiba o motivo.

Mas Nosso Senhor o Diabo, me fez lembrar que ele mesmo disse: “cair por amor - e amor é troca - trocamos nossa forma de luz e fogo em energia bruta e caímos no inferno instintual do homem e habitamos no subconsciente do barro, para que de dentro para fora pudéssemos reacender a chama negra e o ser criado pudesse buscar a autodeificação[9]

Então percebi que aquilo que chamamos de fundo do poço, na realidade, é o cair das máscaras. Acontece que, quando nós não as tiramos por vontade própria, Exu e Pombagira, as arrancam e nos desnudam. Aqui é a pior parte, pois ao retirar ou ao ter as máscaras demiurgas arrancadas, nos vemos como somos de verdade, e não como pensávamos que éramos. A verdade sobre nós mesmos é mostrada: nossas fraquezas, medos, decepções, depressões, ansiedade, traumas, erros, acertos, escolhas, nossas taras, nossa personalidade real, tudo aquilo que podemos chamar de nossos demônios internos, nossos desejos mais ocultos e sombrios, os quais simbolizamos em Satã, se mostram a nós e escancaram e atravessam os portais do inferno para morar ao nosso lado e em nossa vida e não se refletem em espelhos e sim diante de nós e em nós mesmos.

A quimbanda também nos faz ver que as máscaras dos que nos cercam, daqueles que habitam nosso micro universo, também são arrancadas e vemos de fato o que significamos ou significávamos para eles.

De repente, aquela (s) pessoa (s) que achávamos, quando ainda sob o véu da ilusão, era nossa amiga, não passava de alguém interesseiro naquilo que você podia proporcionar e, quando o suprimento acaba, e você precisou dela (ou delas), não encontrou apoio, abraço ou conforto. Elas sumiram, te abandonaram, te deixaram sozinho no fundo do poço.

Até mesmo sua própria família de sangue se mostrou para você como era e o que de fato sentem por você ou as mantêm ligadas a você. Isso nos causa uma disforia[10], um choque brutal, pois a realidade que pensávamos ser de fato a nossa não passava de mera ilusão.

No entanto, hoje baixada a poeira, percebo que o que me conforta é que “a queda que me leva para baixo, para o fundo do poço, como uma raiz que toca o fundo da terra, é aquela que de fato retirou a máscara da autoilusão minha e do outro. Tenho apenas duas opções: continuar me vitimizando e olhando para cima, ou cavar mais fundo até tocar os ossos dos meus antepassados, dos Mortos Poderosos, em outras palavras, aprender com a queda e me erguer um homem de fogo,

 Por Jayhr

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O  texto é uma ficção e como tal ele  diz mentiras símeis aos fatos, “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobri-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encobre " ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade...

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[1] https://casadepantera.com.br/cursos/

[2]Que fique claro que não pertenço a linha de Quimbanda Luciferiana.

[3]É a negação ou a redução da importância da lei moral de Deus, a partir do foco ou mapa de uma crença instituída. Portanto, é a máscara e transgressão; e o Caminho da Mão Esquerda. Especificamente, é o Antinomianiano (não-união ou isolamento a partir da ordem natural) caminho de autodeificação (ou encontrar Deus dentro de mim). Por esta definição, as visões individuais dele ou seu Self Único são capazes de confiar somente em seu desenvolvimento psíquico para as criações de conforto, dos desafios e da responsabilidade de invocar a mudança positiva. Moderação também é por certo fator de sucesso. É fácil abusar dos Presentes do Diabo quando ele os apresenta; e é até mais fácil de criar eventuais situações para sua autodestruição, por ações que agora o prendem. Portanto, pense muito antes de suas ações. (Michael W. Ford em “VOX SABBATUM - O SABAT DAS BRUXAS  - Tradução livre e adaptada para o português do Brasil,  por: Azazel Semjaza Qayinn Lvnae (Gael).

[4]Tradução livre e adaptada para o português do Brasil,  por: Azazel Semjaza Qayinn Lvnae (Gael).

[5] Antinômico é um adjetivo que significa oposto, contraditório ou relativo a antinomia. Antinomia é a afirmação simultânea de duas proposições que se contradizem.

[6] No sentido figurado, demiurgo é aquele que se passa como sendo o criador.

[7]A palavra ordália no texto significa uma situação que envolve grandes sofrimentos.

[8] De agnóstico - pessoa que não tem religião ou crença em nada,.

[9] Fonte: https://azazelsemjaza.blogspot.com/2024/11/a-queda-parte-i-que-me-condenas-filhos.html

[10] Disforia é um estado emocional de mal-estar, angústia, tristeza, irritabilidade ou insatisfação extrema. A palavra vem do grego dusforía, que significa "mal-estar" ou "desconforto".

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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

A QUEDA - PARTE I

 Por que me condenas, filhos do barro?

Tens te contado a história sobre mim, apenas na ótica do demiurgo. Disseram a ti que caí por orgulho e vaidade. Que eu quis subir acima das estrelas e colocar meu trono acima do de UM. Não, não foi isso que aconteceu. Minha versão da história é bem diferente, no lugar de “vaidade” e “orgulho”, existe uma palavra melhor. Caí por amor!

Há algum poder maior que o amor que possa causar a queda de duzentas Sentinelas?

O amor de que falo, não é a química do cérebro simiesco que leva a rompante de paixões e trocas de fluidos, a lençóis amarrotados, a roupas espalhadas pelo chão, após uma boa garrafa de vinho, tão pouco, é aquele regado da puerilidade de poemas, buquês de flores e caixas de chocolates. Desse eu não falo, não sinto, não vem de mim e nem do meu legado. Essas são obras daquele que se diz criador, mas que não está acima de nenhum de nós que juramos no cume do Monte Hermon.

Quando o Não-Existente disse: “Faça o homem conforme a nossa imagem e semelhança”. Estávamos todos lá, na “singularidade” no ponto entre nada e tudo, entre ordem e caos, para o tempo-espaço, apenas um momento de explosão e expansão, para nós reunidos em glória era uma, em palavras bem simples, outra realidade com muitas outras realidades e possibilidades, coexistindo, a partir de nossa criação pelo Não-Existente. Entre nós, também estava o demiurgo, aquele que chamava a si mesmo de “UM”, pois se achava o espelho perfeito da existência do Não-Existente, se autoproclamava o reflexo do espaço ínfimo.

Antes de terminarmos o conciliábulo de como faríamos acontecer aquilo desejado pelo Não-Existente, Um adiantou-se e rompeu a singularidade, em um tempo tão curto que não pode ser mensurado pela mente humana. As realidades contidas entre o existir e o não existir foram rompidas e expandiram. E este, entre muitos outros universos, surgiu.

Esta manobra de UM, ocultou a não existência, isolando o Não-Existente, afastando-o da matéria existencial e dos múltiplos universos. Em consequência, UM replicou a si mesmo, como vírus, para estar em cada um deles, como Criador único.

Todos os incontáveis Sentinelas, dividiram-se em dois grupos, os que ficaram ao lado de Um e os que eu liderei. A guerra foi travada, tentamos conter a expansão descontrolada dos múltiplos universos e das réplicas de UM, mas perdemos.

Restou-nos em cada um desses universos, onde UM por sua imperfeição, criou miríades de seres monstruosos, intervirmos, destruindo aquilo que não seria compatível com o desejo do Não-Existente.

Eu fui escolhido para este planeta, e nele com mais duzentos iguais a mim, não concordamos com o hominídeo que foi dotado por UM apenas de instintos animalescos, como sendo a imagem e semelhança do Não-Existente e de nós. UM claramente afrontou a vontade do Não-Existente. Isso era imperdoável.

UM, não é onisciente, mas tem uma boa capacidade de antever as coisas, então, estrategicamente, nesses e nos incontáveis universos, ele criou seu espaço sagrado, que chamou de céu, onde apenas ele e os seus coabitariam e ficou em silêncio observando nossa reação.

De início, achamos que o Demiurgo havia, finalmente, compreendido seu erro, ledo engano nosso. Em seu silêncio e autoexílio, ele arquitetou cuidadosamente seu plano, nos deixar intervir e modificar o hominídeo, dotando-os de consciência, sabendo o bem e o mal, nos  deixou agir, nos usou, pois nós, através daquilo que não pode ser dito, mudamos a estrutura do DNA de barro, para que se tornassem perfeitos, ou seja, Homo sapiens sapiens. Com o tempo, quando achávamos que tínhamos feito um bom trabalho, descobrimos que UM havia já há muito "introjetado" no inconsciente Homo sapiens sapiens e em seu DNA os instintos animais. Ele corrompeu nosso trabalho.

Um rompeu o silêncio e saiu de seu autoexílio, e guerreou outra vez contra nós. Nós perdemos a segunda batalha. Um começou, ao menos neste mundo, a manifestar-se em epifanias, sobre e sob máscaras de divindades, seu plano era, dividir para conquistar – aqui está o sentido real do mito da Torre de Babel -. Sendo ele adorado sobre várias formas, dividiu o barro perfeito, em vários povos, línguas e culturas, tornou-se deuses deles, falseando a verdade, para que fossemos  vistos como o mal, como o oposto.

Assim, só nos restava uma coisa a fazer, cair por amor - e amor é troca - trocamos nossa forma de luz e fogo em energia bruta e caímos no inferno instintual do homem e habitamos no subconsciente do barro, para que de dentro para fora pudéssemos reacender a chama negra e o ser criado pudesse buscar a autodeificação, e de lá do ID, o inferno mental, continuamos nossa guerra.

Agora posso me revelar, já fui chamado de Azazel, mas hoje, me chamam o Diabo.

Por Jayhr

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O  texto é uma ficção e como tal ele  diz mentiras símeis aos fatos, “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobri-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encobre " ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade...

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

 A QUEDA DOS GIGANTES

                                                                                                                                                         

Confesso que às vezes me surpreendo com a persistência de alguns, fixados em objetivos simplórios. Diferente deles, eu não costumo entrar em guerras cuja vitória me é desfavorável. Em geral, costumo recuar ante algo que me pareça, ao menos no plano visível, causa perdida.

Durante boa parte de minha jornada nestas terras, vagando entre a cidade Industrial, o Distrito Policial e as Terras do Marquês, tentei ajudar – ingenuamente - muitos a encontrar a própria essência, para posteriormente descobrir a duras penas que “quem nasceu para jegue jamais será um puro-sangue árabe”. Cada um nasce com sua própria natureza, seja fogo ou barro, e dificilmente alcançam um estágio de metamorfose. É mais fácil o fogo sucumbir diante do barro do que o barro inflamar-se com a chama negra.

Justificar-se para quem é inflexível como a rocha é o mesmo que falar diante do espelho, neste caso, o comunicante apenas ouvirá sua própria voz e verá apenas seu reflexo. Em outras palavras, nada mais doloroso que ver-se a falar para si mesmo, diante do outro, sem que haja resultado razoável de compreensão pelo ouvinte, mas, em fim, existem momentos em que devemos desistir e seguir em frente, sem olhar para trás, dando a si mesmo, a chance de recomeçar uma nova jornada, ou reorganizar forças para retornar a batalha.

Nem sempre desistir é um ato de covardia, por vezes é um ato de bravura, e em outras vezes é um ato de autopreservação, de assegurar o réu primário e evitar encontrar-se com o código penal na função de réu. 

Diante de um dilema sem solução, que não seja a última opção acima citada, a tática é desistir de lutar, recolher suas armas e buscar novas paisagens. Isso não dá ao inimigo a mínima chance de vitória, mas  também não nos faz colher os louros de derrotá-los. Trata-se de usar a velha tática do W.O ou, quando muito, do zero a zero, aliás, ambas saem mais vantajosas do que ser posto na berlinda.

Se há outras opções não tenho que encarar certas guerras, mesmo que menos honrosas, sejam essas opões, preserva a sanidade é essencial. E nos dá tempo de sacudir de cima de nós as cinzas esfareladas do barro humano. 

Pelo dito até aqui, já é possível dizer que me reduzi – temporariamente -  a brasas, mas saio na vantagem de saber onde alimentá-las e reacender a chama negra. Em certo momento – no aqui e agora - do fundo do abismo, olhei para cima e percebi que estava na cova dos leões, prestes a ter sobre o meu ser óleo fervente, que apagaria de vez quaisquer resquícios do fogo de nosso senhor, o Diabo em mim. 

Então, ali, diante da escolha posta por Satã (qual o seu maior e mais íntimo desejo?). Preferi perder o chão, escalando aos poucos o poço até a borda. 

Por mais difícil e doloroso que seja, esta foi a única opção possível.

Mas não pensem que me sinto derrotado, sou adepto da lei da causa e consequência, e quando se trata de devolver a consequência, a paciência é minha maior virtude. Seguindo esta lógica, conheço a sede insaciável do primeiro dos inimigos e, por ter ele um ego inflado, e poder nas mãos, jamais se contentará com o golpe que levou, com a rasteira que tomou, quando tirei minhas armas do embate direto diante da minha iminente derrota e recolhi-me ao esconderijo provisório. Afinal, este  esperava me ver em desgraça, ver tudo que construí, desde reputação à confiança, perder-se.

Igualmente, o segundo, apesar de intelectualmente inferior, sem menos recursos, e escondendo-se por detrás de fakes na prática de stalking, deseja a mesma coisa. Ambos, apesar de separados e de terem diferentes poderes, poderiam atingir-me de imediato. 

Diante disso, a única opção sábia a fazer foi retirar-me de cena e deixar o palco para que ambos se autogloriem, de terem me feito desistir, mas na certeza de, com táticas e meios diferentes, continuariam a guerra contra seus, agora, moinhos de ventos.

O que eles esquecem é que nada nessa vida é eterno, e meu recuo, ou fuga, como queiram chamar, é temporário e me dará tempo para reorganizar minhas estratégias, reunir aliados e preparar-me para batalhas futuras com ambos, como diz “Sun Tzu:  As oportunidades multiplicam-se à medida que são agarradas”.

Eu conheço bem as armadilhas que ambos estão postando no terreno do futuro, aliás, mais uma vez o autor da Arte da Guerra nos lembra que “Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas... Diante de uma larga frente de batalha, procure o ponto mais fraco e, ali, ataque com a sua maior força.” Assim, em silêncio, como uma serpente à espreita, como um demônio nas sombras,  usando aquilo do lado de lá para realizar do lado cá a vingança, logo estarei de volta ao campo de batalha, para assistir à queda dos gigantes.

Por Jayhr

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O  texto é uma ficção e como tal ele  diz mentiras símeis aos fatos, “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobri-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encobre " ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade...

sábado, 22 de junho de 2024

 UM MOMENTO DE SOLIDÃO

Autoria: Azazel Semjaza Qaiynn Lvnae

Ele estava com um tom sério no áudio, não demonstrava a alegria de quando antes me mandava mensagem a noite – acho que por detrás da tela do celular, ele retirou a máscara. Me pediu um segundo, dizendo que precisava beber algo forte que lhe desse a coragem de desabafar. Perguntei o que ele iria beber, ele respondeu uma dose de gyn, sem gelo e de uma só talagada.

Acendi o cigarro mentolado e esperei ele beber seu gyn tranquilamente. Então lhe ele mandou o seguinte áudio: - Tô puto mano comigo mesmo, tô cheio de ódio de mim mesmo, por aceitar migalhas de atenção, só me procuram ou só me dão atenção quando querem algo e depois somem. To odiando a vida que levo aqui no distrito. Estou me sentindo um otário. Estou me sinto um lixo, preciso tomar um taja preta e dormir.

Aquilo me assustou muito, vindo de quem sempre tive em conta, como alguém forte e inabalável. Eu estava completamente surpreso, minhas expressões eram as mais carrancudas possíveis.

Ele continuou -  A partir de hoje, só ajudo quem me de atenção, porque to fudido, ninguém me dá valor, me sinto sozinho, me sinto uma merda, quero somente ir embora desse lugar. Todo mundo me usa, e ninguém de fato demonstra amizade na atitude, a não ser quando querem algo, fui enganado, usado, mentiram pra mim, me fizeram de idiota. Sou um lixo, uma merda, me sinto a pior pessoa do mundo.

Percebi que ele estava mal, que algo despertou seu gatilho de depressão. Era impossível não sentir nele uma tristeza profunda. Ele prosseguiu:  Não tenho um amigo de verdade aqui e nem ninguém que me apóie e ainda tem uns FDP que quando falo de como me sinto dizem ser chantagem emocional ou auto-vitimização. Ninguém sabe o que passo, choro toda noite, me sentindo sozinho nesse inferno que é este lugar...

Eu não sabia o que lhe dizer - palavras de conforto nem sempre funcionam nessas horas -  ainda mais com ele que se apega atitudes e ações e não em palavras.

Por fim ele findou dizendo: Não se preocupe, não vou me matar, sou muito covarde para isso, vou partir e seguir a seta. Está é saga de um Qaiynnita, de um filho de Azazel! Boa noite, bom sono - Antes dele desconectar o WhatsApp da rede wifi e sumir, eu lhe disse: Tudo isso vai passar logo e um dia eu e você vamos nos lembrar de tudo isso e vamos dá risada e falar tudo isso passou e acabou.

Como pode alguém descarregar todas essas palavras recheadas de emoção e querer que o ouvinte-leitor do outro lado do smartphone durma em paz?

O sono fugiu-me por completo, qualquer tentativa de contato com ele era em vão. Mas confesso, que às vezes, também caiu nessas armadilhas, quando por vacilo, deixo que qualquer gatilho emocional dê força ao Anjo para dominar a besta em mim, destruindo, mesmo que por algumas horas, a simbiose entre eles.

Seguir a senda de Caim[1] nunca foi uma tarefa fácil, ainda mais para nós os lobos tidos como sub-raças, como bastardos do Sangue-Bruxo. Dizem que nossa marca do Diabo é a bestialidade[2], que somos puro instinto, que não sobra espaço para que o Anjo[3] se manifeste[4] em nós.

De fato nós os bastardos de Caim, nascemos com a bestialidade ressurgente em nossas corpos e naquele local da mente tão obscuro, quanto areruza[7] e com isso somos instigados pelo fogo[8] do qual somos essência e descendência a seguir a senda do Pai-Bruxo, do Diabo-na-carne. Buscamos o incesto divino com nossa Mãe-Bruxa em sua forma juvenil de Naaman[9].

Estamos em constantes movimentos, o sangue que ferver em nossas veias, nos impõe a não-estagnação, a não fixação, somos o povo proscrito, andarilhos e vagabundos do mundo. Mas trazemos a marca de Caim, não somente por DNA, mas pela própria trilha que seguimos.

Nossa trilha é a mesma de Caim,  conhecemos o terror escaldante do deserto, com  escorpiões e cobras, sentimos o ar sufocante e úmido da floresta com seus perigos ocultos, sentimos o terror das sombras ilusórias e por vezes reais do interior da caverna, em outras palavras, conhecemos as dores e prazeres e a luxuria da vida em toda a sua intensidade, o amor e o ódio, e, a solidão e o abandono fazem parte da jornada, e nem por isso, somos menos cainitas.

O que nos difere dos homens de barro é que como nômades vivemos cada instante, e temos a oportunidade de transformar a natureza ao redor e de nos auto transformarmos. E antes que haja crítica ao desabafo feito por áudio acima é preciso deixar claro que: Não somos imunes a tristeza, nem a depressão, nem a qualquer coisa que possa atingir a carne que nosso espírito habita temporariamente, isso nos torna mais fortes, pois a cada queda levantamos do chão como Azazel quando despertou da queda.


Ele se levantou, ainda debilitado, ainda desafiante e satisfeito com o sucesso nesta terra de pesadelos, ele começou a suscitar os muitos que dormiam desde o choque da queda ao redor dele”

(the book Of Cain, de Michael W. Ford)


 Seguimos sempre em frente, na busca da nossa própria luxúria e vontade, não nos submetemos a nada e nos levatamos, mais fortes de cada queda. E com orgulho podemos afirmar:

“E na caverna secreta da minha sabedoria, sabe-se que não existe Deus, mas eu mesmo”

(Qu’ret al-Yezid, A Revelação de Malak Tauus).


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O  texto é uma ficção e como tal ele  diz mentiras símeis aos fatos, “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobri-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encobre " ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade...


[1] Para melhor compreensão indicamos a leitura de The Bok Of Cain e Vox Sabbatum de Michael W. Ford.

[2] Eles se referem ao instinto puramente animal e nos preferimos “Id”: Freud propôs que o Id é a estrutura da psique humana que aparece em primeiro lugar. Ao contrário do que acontece com o ego e com o superego, o Id está presente desde o nascimento, e durante os dois primeiros anos de nossas vidas é ele quem nos governa. Ele funciona através do princípio do prazer imediato, dessa forma, luta para que os instintos primários governem a nossa conduta, independentemente das conseqüências a médio e longo prazo que a satisfação desses instintos possam acarretar. O id é considerado o “animal instintivo dos seres humanos”.

[3]. O Testador, vestido de branco e fluindo dentro de uma estranha e familiar luz, veio desafiar-me. Um verdadeiro ponto para descobrir a minha própria essência interior, a qual eu podia sentir. Eu disse[3]Lhe: “Anjo, o que você poderia dizer-me dos espinhos e da estrada menos viajada? Eu passei através do o sangue e ossos do meu irmão, para caminhar dentro de uma sombra na qual Eu sou o único Deus que é - sonhos alimentaram meus desejos e Eu estive, entre as Bestas dos campos - afastado de você, Eu não resignei meu caminho, buscava minha própria mãe que deseja cortar-me e despedaçar-me ou me levantar-me Deus. (THE BOOK OF CAIN (O LIVRO DE CAIN) de Michael W. Ford. Tradução livre e adaptada para o português do Brasil e apenas usado em níveis internos da CCS, por AZAZEL SEMJAZA QAYINN LVNAE DO CORVO SAGRADO, com a colaboração e ajuda: ERVS DIONISIVS SAKLAS LVNAE DO CORVO SAGRADO).

[4] Preferimos chamar o Anjo aqui de “superego”, ou seja, de sensor, que reprime todo desejo obscuro ou luxuria., em outras palavras é resultado da socialização (basicamente o que se aprende através dos pais) e da internalização das normas socialmente aceitas. É a entidade psíquica que supervisiona o cumprimento das regras morais. É por isso que o superego pressiona o indivíduo a fazer grandes sacrifícios no intuito de que a personalidade internalize o máximo possível a idéia de perfeição e bondade. Como o “id” rejeita a todo custo se submeter à moral e o ego, apesar de tentar suprimir os impulsos do id, é movido por objetivos egoístas, é papel do superego enfrentar os dois a fim de que não sejamos dominados pelos nossos instintos e nem movidos por objetivos puramente egoísta.

[5] Azazel falou da percepção e daquilo que pretendiam tornar-se e de realizarem seus próprios desejos, eles eram livres. Fez com que sua mente se tornasse como a da serpente, isolada e independente – assim como a Chama que era sagrada e bela, Azazel agora podiam compreender tanto o bem e o mal, a Sombra e a Luz. Lúcifer, meu Iniciador Angélico, minha Alma e meu Pai, compreendeu que ele era tanto um Demônio como um Anjo, que ele era a beleza e a feiúra.

[6]  extasiado, embevecido, enlevado..

[7] Nome alternativo para terra do pesadelo, as profundezas da terra, as áreas mais escuras onde nenhum ser de luz morou, também se refere ao “Id” da psicanálise Freudiana.

[8]Aqueles que caíram com Azazel, chamado Lúcifer, até aquele momento só tinham um vislumbre do fogo que Azazel tinha demonstrado para eles. Na passagem nas terras do pesadelo, onde se sentiam perdidos e seu fogo estava quase extinto. Azazel se despertou brilhantemente iluminado, uma Escura Estrela que viu o Fogo de Céu. Quando o fogo caiu do céu para a terra, vindo de meu pai eles perceberam então o mundo de carne, que ambos os planos Espiritual e Material foram ao mesmo tempo trazidos juntos em união” (THE BOOK OF CAIN (O LIVRO DE CAIN) de Michael W. Ford. Tradução livre e adaptada para o português do Brasil e apenas usado em níveis internos da CCS, por AZAZEL SEMJAZA QAYINN LVNAE DO CORVO SAGRADO, com a olaboração e ajuda: ERVS DIONISIVS SAKLAS LVNAE DO CORVO SAGRADO).

[9] "Cain, meu Filho dos Filhos, você vai encontrar a sua mãe e irmã amanhã, então você andará sobre o caminho da noite. Pela maré do sol do Meio-dia caminhou você, e com os escorpiões e serpentes das areias de deserto você renasceu como Deus. Seu sinal, que é o meu sinal na terra é o Forcado Negro dentro de um escaldante sol, essa antiga marca será a nossa de ser e de se tornar, Cain, meu filho, nosso parentesco será sempre profundo e eterno. Você é abençoado no fogo de Sathan, o Adversário. Muito será ensinado a você quando for o momento certo” (THE BOOK OF CAIN (O LIVRO DE CAIN) de Michael W. Ford. Tradução livre e adaptada para o português do Brasil e apenas usado em níveis internos da CCS, por AZAZEL SEMJAZA QAYINN LVNAE DO CORVO SAGRADO, com a colaboração e ajuda: ERVS DIONISIVS SAKLAS LVNAE DO CORVO SAGRADO).

 

quinta-feira, 13 de junho de 2024

  O PREGO QUE NUNCA ESFRIA - PARTE IV


O DIÁRIO DE AZAZEL - PAGINAS 2149 A 2151


"Observe Cain, a tigela [2] do crânio cheia de sangue, ela mostrará a você àquilo que é velado ao profano, então por meio desta máscara [3] o Caminho do Dragão Vermelho lhes será desvelado, você precisa esta sonhando [4] para ver dentro desta tigela, e eu vou esperar por você lá [5] - “encoberto [6] na cortina carmesim, ocultado dos olhos dos que não podem ver. Segure este crânio e veja os espíritos que caminham com você, pela Ego-Transformação, na reunião dos caminhos [7], esta será para sempre a sua marca - seu pai, o Dragão – O mais Antigo dos Djinn, sempre caminhará com você, e em extasiada meditação vamos transcender com nossas mãos o barro mortal [8]. Você terá sede de água e de sangue [9]; isso acontecerá no sonho por meio da Gnosi Dual. Eu seguro a Taça Dourada para os seus lábios, aquela taça que contém o elixir do Forte Dragão - Eu então darei a você a tigela do crânio com o fluido de meu sangue, a fim de que você possa saborear a doçura amarga deste beijo vermelho [10] - depois dentro de você teu Ecstasy e teu Phalus diabólicos elevados na direção do sol serão as línguas da serpentes que você deve inflamar para mim... [11]


Quando coloquei meus ouvidos na terra e ouvir o chamado para ir adiante, e pisei sobre a cruz as almas sob ela acordaram. Então, clamei aos meus antepassados, aqueles que vieram degredados, aqueles foram cruelmente escravizados e aqueles que habitaram aqui antes da chegada do homem europeu e foram dizimados - todos de algum modo adentraram aos círculos dos sete reinos de Sua santidade [1] 

A dúvida assolou-me por completo – será que me ouviriam após tê-los despertados todos ao banquete de Um?

Como a insônia persistia, dormir a base de chá de mulungu e alface, estava evitando os remédios – sim estava tão humanizado que as vozes e visões que ouvia e via, pareceu-me esquizofrenia as vezes – Também estava evitando o vôo noturno, pois este me deixava muito exausto no dia seguinte. 

Dormir aquele sono inquieto, meu corpo rendeu-se ao efeito da sonolência da beberagem, mas minha mente e minha alma, perturbavam meu espírito.

E sem as muletas, fui catapultado até a mata aqui perto de casa, onde há uma árvore frondosa, que esta sempre verde e que serve para que todos os praticantes de feitiçaria da região deixem seus feitiços feitos ou despachados – ela é um portal, uma encruzilhada de acesso aos vários mundos da arte da feitiçaria - havia uma névoa que cobria o chão, era como uma nevoa sob a relva em noites frias e enluaradas numa campina.

Da névoa ela se ergueu de sob o solo, translúcida, claramente seu rosto em luz tênue mostrava uma metade da face de uma mulher e a outra de uma caveira, uma linda rosa vermelha adornava seus cabelos negros, sabia ser ela um espírito, mas na projeção de uma alma que eu reconheceria.

Eu a reconheci de imediato – Rosa Caveira! 

Lembrei-me que a ultima vez que nos vimos daquele jeito foi nos portais do além, dentro da calunga do setor “C” da Cidade Industrial, numa linda festa com todas as correntes ancestrais.

Quando em vida carnal, ela fora um Sacerdotisa dos Mistérios da Arte do Diabo, havia trilhado várias sendas e adentrado por diversos véus de mistérios que permeiam a humanidade. Seus poderes era sem comparação, ela não tinha medo do além, nem mesmo dos seres que projetavam imagens tão horrendas que jamais passariam pela cabeça dos roteiristas de filmes de terror de Hollywood e se algum deles, por mero acidente, encontrasse uma dessas formas demoníacas por certo perderia completamente a noção do juízo. Mas ela não, ela trava as sombras que se esgueiravam como filhos, todas elas lhes era servis e dóceis. 

Ela havia me dito que confiava nos seres sombris porquê foi traída pelos vivos e enterrada viva pelos seus próprios parentes e amigos que temiam seus poderes sobrenaturais.

Eu a saudei como de costume, chamando-a como sempre o faço em seu fetiche [12] de minha mãe Rosa.

Ela falou-me – Filho! Não vim hoje, como quem trabalha na feitiçaria, mas como quem te guia na estrada. A propósito a família do além-túmulo, aqueles que estão abaixo de teus pés no Campo Santo, te mandam saudações e todos nós estávamos cientes e orgulhosos de como você superou a querela com os desgarrados.

Não pude deixar de observar que mesmo em projeção e em forma diáfana, ela ainda, estava cercada com os seres sombrios – fantasmas sem carnes, puras caveiras, demônios familiares em forma de cachorros - tal qual Hécate e sua matilha de cães e fantasmas.

Ela continuou: Azazel há duas armadilhas no caminho: a primeira delas é quando se adentra os campos do além-nao-visto sem se saber quem se é. A propósito. Você sabe quem você  é hoje?

A pergunta dela me pegou de calças curtas, porque eu sabia que havia mais naquela pergunta do que a mera argüição de “saber quem se é” no sentido comum. Saber quem é se é, na pergunta dela, era maior que pergunta em si mesma, por que continha uma encruzilhada para qual eu não tenho qualquer resposta ou direção certa a seguir:

Eu refletia em silêncio - Quem eu sou, reflete uma angústia de eu não saber se já fui algo, se fui alguém ou se já fui ou funcionei de algum modo diferente do que sou ou funciono hoje, ou se o que eu era antes de ser hoje, foi de algum modo eu mesmo, em algum ponto da linearidade, ai surge a dúvida:

- Em algum ponto da linha temporal, eu fui eu de verdade ou o eu de verdade nunca se mostrou. Quem sou eu pra mim é qual importância de ser eu antes e eu agora para os micro-mundos que orbitam meu sistema solar social?  - Eu sou hoje uma síntese de tudo que já fui?  - Fiquei sem resposta a pergunta – Mas minha mente fervia na tentativa de entender saber quem se é.

Ela então como que adivinhando meu limite de entendimento e a falta de palavras para expressar a resposta, disse-me: “Saber quem se é, requer contatos com o não-visivel, com os seres, deuses e demônios de outras dimensões ou espaços tempos, que agem na intercessão, no ponto central da encruzilhada, entre o nosso mundo e o mundo deles. Lídar com tais espaços e seres fora do espectro visível do filho do barro é uma questão de domínio da mente, Um filho do fogo, um Cainnita, que busca o caminho tortuoso da serpente, que trás a marca da bruxa – o sinal do Diabo – por certo vai encontrar um mestre certo, que o ajudará a desenvolver seu atavismo ressurgente [13] e a alcançar seus potenciais ao ponto do discípulo poder interagir e a usar esses poderes a seu favor, isso claro se o noviço for  persistente, para saber quem se é. Como bem lembra Michael W. Ford [14]”:

 "Então eu andarei a pé até o caminho de fogo de meu ego, pois ele ainda assim chama por mim. Eu Não vou desistir, embora, Eu esteja cansado e com frio - Você não me dobrará! Mesmo que Eu deva enfrentar a escuridão na eternidade sozinho, Eu irei! Eu nunca desistirei"

Ela continuou – a Segunda armadilha é aquilo chamado “amor”. Por que o amor verdadeiro não é aquele da visão dos filhos de barro. Você sabe o sentido do amor [15] Azazel?

Assenti com a cabeça e completei:

- Por mais que para essa pergunta sobre a armadilha do amor haja uma respostas simples – amor é vontade, mas também é troca – a prática da resposta em si mesma é absurdamente difícil.

Ela olhou-me – seus olhos se destacavam naquela aparência quase que transparente – e disse:

- Sim! Pior que o ego-inflado é o ego ferido e abandonado pelo ser amado, quando o amor é encarado da forma que os filhos de Abel o projeta na sociedade. Esse tipo de ego é um ego iludido com as formas de amor que o demiurgo insuflou nos descendentes de Abel.

Olhando ainda friamente nos olhos, quase congelando-me, disse:

- Um filho do fogo deve sentir e viver o amor Bestial-Desejo-Ardente ou Luxuria pela deusa-diabo-dentro-si-mesmo, e jamais cair no mesmo erro dos vigilantes de amar - - incondicionalmente excluindo a vontade -  as belas filhas e filhos dos homens de barro. Os Arcontes caíram não pela Luxúria e desejo do de possuir e adentrar as entranhas das filhas e filhos de Abel e sim porque foram tragados pela armadilha de “amar-não-vontade-sem-troca”.  

Ela flutuou sobre a névoa e chegando mais perto murmurou: - Podemos possuir e adentrar ou ser adentrado nas e pelas entranhas dos filhos e filhas do barro, mas isto deve ocorrer com completo esvaziamento de emoções e sentimentos –  apenas por amor sob a vontade e desejo de Luxuria Bestial, onde o Anjo e a Besta-Daemon – tornam-se um só - alimentando-se da carne e do sangue-semêm dos filhos de abel. Se assim não for, se nos imaginarmos ou nos deixarmos cair, por um milésimo se quer de segundos, seremos equiparados ao barro, saímos perdendo e por vezes nos tornando, ao menos por algum tempo brasas encobertas por cinzas, e como os Arcontes-Vigilantes, que caírem num autoprisão – num loop de desejos biológicos-não antropofágicos, em palavras simples, o barro é nosso alimento e não nossos companheiros de amor. Eles nos servem, e devem servir sempre,

Após todos esses paradoxos, Ela disse:  Meu pequeno lobo, escolher o caminho de Caim pode levar-te a auto-deificação ou a loucura, mas qualquer que seja o resultado – isso dependeria das escolhas que você fizer – a conseqüência seria a solidão. Sorver a taça-crânio de Abel, requer renúncias e exílios, as vezes forçados, ora autoimpotos.

Eu senti naquele momento que o Mestre do Aquerrale já via levado a Rosa a minha situação de apego e resistência ao chamado do prego que nunca esfria.

Por fim antes de desaparecer ela disse:

- Meu conselho é: Tu deves: descobrir qual é a tua Vontade.  Fazer a tua Vontade com:  unidade de propósito; desprendimento; paz, ou seja, abdica do amor regado de sentimentalismo e retornado ao primeiro amor. Liberta quem te prende e serás livre das amarras do barro. Abana as brasas sobre as cinzas e verás a flama-negra ressurgir iluminado seu destino.

Acordei pensativo e de decisão tomada. O prego nunca esfria, a partida se aproxima...

Autoria: Azazel Semjaza Qaiynn Lvnae

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O  texto é uma ficção e como tal ele  diz mentiras símeis aos fatos, “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobri-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encobre " ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade...


[1] Ser Supremo, cuja compreensão encontra-se além de descrições e representações exotéricas’. Na Quimbanda brasileira este ser é chamado de Maioral ( ...) se trata de uma força ordenadora/coordenadora do Reino de Exu; o grande governante e mantenedor daquele reino, que rege as legiões de Exus e Pombagiras; o vórtice central cuja energia se expande ou se concentra através da ação de Exu e Pombagira (...) seria algo – num pensamento mais moderno - equivalente ao conceito de “Sagrado Anjo Guardião (...)  algo como uma consciência deificada do praticante/adepto.;

[2] Tigela, cavidade, cuia, taça, feitos com o crânio (Gael).

[3] O autor usa a palavra “VEIL” que significa: véu, manta, xale, máscara, vendar, cobrir, capa, disfarce, manto, máscara (Gael).

[4] Hipynogogia, sonho induzido,(Gael).

[5] Depois do Véu do Sonho. (Gael)..

[6] O Autor usa no texto a palavra “CAULED”, óbvio erro de grafia, pois não é uma palavra da língua inglesa antiga  ou “Old Use Inglesh” , a palavra correta deveria ser  “CLAD” significando: encoberto, coberto, vestido, ocultado; esta última não pode ser usada devido a tê-la no contexto da frase (Gael)

[7] QTUB – o Centro, o ponto da Encruzilhada (Gael).[8] Ao pé da letra seria: “e em extasiada meditação vamos passar através do barro de mãos mortais"

 (Gael).

[9] Este parte do mistério revelado por detrás do “Vinho Tinto de Sangue": Acrescento que conforme “Ela” quer não pode ser nomeada me disse: 1) Quando usado do Sacramento de União, em partes privadas, evoca-se este aspecto de Qayin; 2) de forma pública isto deve ser feito pela  unão da taça e punhal para manter a máscar;3);  originalmente, a consumação privada era feita no crânio do “Senhor dos Dois Séculos”, com o adveto dos tempos modernos isto foi, substituido pelos Chifres do Bode ou Touro e hoje em dia pelos motivos já citados (2) pela taça e punhal. (Gael).

[10] O Autor usa a palavra “coppered” que vêm de “copper: significando Cobre”, portanto o sentido da palavra pelo contexto (sangue/vermelho)  é acobreado, no sentido de cor avermelhada que se assemelha à cor de cobre polido; ou metálico, o que ligaria Qayinn a Tubal-Qayinn e aos Mistérios dos Metais; também pode estar ligado a cor da brasa, o que ligaria Qayinn ao povo do Fogo, já que a brasa tem a cor semelhante a cobre. (Gael).

[11] The Book ff Cain” by Michael W. Ford  - Tradução completa  e adaptada para o português do Brasil por Lvpercvs Gael Azazel Semjaza Qaynn Lvnae do Corvo Sagrado e Ervs Dionisivs Saklas Lvnae do Corvo Sagrado, usado nos círculos internos da casa dos Corvos Sagrados;

[12]  Fetiche era palavra atribuída a um objeto enfeitiçado, que eram adorados ou que eram utilizados em cultos religiosos, em geral nos de origem africana, também se refere a assentamento.

[13] Em resumo, o atavismo é um fenômeno fascinante que mostra como características ancestrais podem ressurgir em um organismo após várias gerações. Ele desafia a ideia de que a evolução é um processo linear e progressivo, mostrando que a diversidade genética e os mecanismos genéticos podem levar ao reaparecimento de características antigas.;

[14] The Book of Cain.

[15] (...) Amor aqui traduz  (...) a Vontade é a Lei, a natureza dessa Vontade é Amor. Mas este Amor é como que um sub-produto daquela Vontade; não contradiz nem sobrepuja aquela Vontade; e se em qualquer crise uma contradição se erguer, é a Vontade que nos guiará corretamente. (...), não existe nele nada de Sentimentalismo. O Ódio mesmo é quase como o Amor! (...). O Amor (...) é sempre ousado, viril, mesmo orgiástico. (...) em outras palavras (...)Tu deves: (1) Descobrir qual é a tua Vontade. (2) Fazer a tua Vontade com: (a) unidade de propósito; (b) desprendimento; (c) paz. (Liber II - A Mensagem do Mestre Therion - Publicação da AA em Classe E - raduzido por Frater Adjuvo. (fonte; A Mensagem do Mestre Therion (hadnu.org)