sábado, 22 de junho de 2024

 UM MOMENTO DE SOLIDÃO

Autoria: Azazel Semjaza Qaiynn Lvnae

Ele estava com um tom sério no áudio, não demonstrava a alegria de quando antes me mandava mensagem a noite – acho que por detrás da tela do celular, ele retirou a máscara. Me pediu um segundo, dizendo que precisava beber algo forte que lhe desse a coragem de desabafar. Perguntei o que ele iria beber, ele respondeu uma dose de gyn, sem gelo e de uma só talagada.

Acendi o cigarro mentolado e esperei ele beber seu gyn tranquilamente. Então lhe ele mandou o seguinte áudio: - Tô puto mano comigo mesmo, tô cheio de ódio de mim mesmo, por aceitar migalhas de atenção, só me procuram ou só me dão atenção quando querem algo e depois somem. To odiando a vida que levo aqui no distrito. Estou me sentindo um otário. Estou me sinto um lixo, preciso tomar um taja preta e dormir.

Aquilo me assustou muito, vindo de quem sempre tive em conta, como alguém forte e inabalável. Eu estava completamente surpreso, minhas expressões eram as mais carrancudas possíveis.

Ele continuou -  A partir de hoje, só ajudo quem me de atenção, porque to fudido, ninguém me dá valor, me sinto sozinho, me sinto uma merda, quero somente ir embora desse lugar. Todo mundo me usa, e ninguém de fato demonstra amizade na atitude, a não ser quando querem algo, fui enganado, usado, mentiram pra mim, me fizeram de idiota. Sou um lixo, uma merda, me sinto a pior pessoa do mundo.

Percebi que ele estava mal, que algo despertou seu gatilho de depressão. Era impossível não sentir nele uma tristeza profunda. Ele prosseguiu:  Não tenho um amigo de verdade aqui e nem ninguém que me apóie e ainda tem uns FDP que quando falo de como me sinto dizem ser chantagem emocional ou auto-vitimização. Ninguém sabe o que passo, choro toda noite, me sentindo sozinho nesse inferno que é este lugar...

Eu não sabia o que lhe dizer - palavras de conforto nem sempre funcionam nessas horas -  ainda mais com ele que se apega atitudes e ações e não em palavras.

Por fim ele findou dizendo: Não se preocupe, não vou me matar, sou muito covarde para isso, vou partir e seguir a seta. Está é saga de um Qaiynnita, de um filho de Azazel! Boa noite, bom sono - Antes dele desconectar o WhatsApp da rede wifi e sumir, eu lhe disse: Tudo isso vai passar logo e um dia eu e você vamos nos lembrar de tudo isso e vamos dá risada e falar tudo isso passou e acabou.

Como pode alguém descarregar todas essas palavras recheadas de emoção e querer que o ouvinte-leitor do outro lado do smartphone durma em paz?

O sono fugiu-me por completo, qualquer tentativa de contato com ele era em vão. Mas confesso, que às vezes, também caiu nessas armadilhas, quando por vacilo, deixo que qualquer gatilho emocional dê força ao Anjo para dominar a besta em mim, destruindo, mesmo que por algumas horas, a simbiose entre eles.

Seguir a senda de Caim[1] nunca foi uma tarefa fácil, ainda mais para nós os lobos tidos como sub-raças, como bastardos do Sangue-Bruxo. Dizem que nossa marca do Diabo é a bestialidade[2], que somos puro instinto, que não sobra espaço para que o Anjo[3] se manifeste[4] em nós.

De fato nós os bastardos de Caim, nascemos com a bestialidade ressurgente em nossas corpos e naquele local da mente tão obscuro, quanto areruza[7] e com isso somos instigados pelo fogo[8] do qual somos essência e descendência a seguir a senda do Pai-Bruxo, do Diabo-na-carne. Buscamos o incesto divino com nossa Mãe-Bruxa em sua forma juvenil de Naaman[9].

Estamos em constantes movimentos, o sangue que ferver em nossas veias, nos impõe a não-estagnação, a não fixação, somos o povo proscrito, andarilhos e vagabundos do mundo. Mas trazemos a marca de Caim, não somente por DNA, mas pela própria trilha que seguimos.

Nossa trilha é a mesma de Caim,  conhecemos o terror escaldante do deserto, com  escorpiões e cobras, sentimos o ar sufocante e úmido da floresta com seus perigos ocultos, sentimos o terror das sombras ilusórias e por vezes reais do interior da caverna, em outras palavras, conhecemos as dores e prazeres e a luxuria da vida em toda a sua intensidade, o amor e o ódio, e, a solidão e o abandono fazem parte da jornada, e nem por isso, somos menos cainitas.

O que nos difere dos homens de barro é que como nômades vivemos cada instante, e temos a oportunidade de transformar a natureza ao redor e de nos auto transformarmos. E antes que haja crítica ao desabafo feito por áudio acima é preciso deixar claro que: Não somos imunes a tristeza, nem a depressão, nem a qualquer coisa que possa atingir a carne que nosso espírito habita temporariamente, isso nos torna mais fortes, pois a cada queda levantamos do chão como Azazel quando despertou da queda.


Ele se levantou, ainda debilitado, ainda desafiante e satisfeito com o sucesso nesta terra de pesadelos, ele começou a suscitar os muitos que dormiam desde o choque da queda ao redor dele”

(the book Of Cain, de Michael W. Ford)


 Seguimos sempre em frente, na busca da nossa própria luxúria e vontade, não nos submetemos a nada e nos levatamos, mais fortes de cada queda. E com orgulho podemos afirmar:

“E na caverna secreta da minha sabedoria, sabe-se que não existe Deus, mas eu mesmo”

(Qu’ret al-Yezid, A Revelação de Malak Tauus).


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O  texto é uma ficção e como tal ele  diz mentiras símeis aos fatos, “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobri-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encobre " ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade...


[1] Para melhor compreensão indicamos a leitura de The Bok Of Cain e Vox Sabbatum de Michael W. Ford.

[2] Eles se referem ao instinto puramente animal e nos preferimos “Id”: Freud propôs que o Id é a estrutura da psique humana que aparece em primeiro lugar. Ao contrário do que acontece com o ego e com o superego, o Id está presente desde o nascimento, e durante os dois primeiros anos de nossas vidas é ele quem nos governa. Ele funciona através do princípio do prazer imediato, dessa forma, luta para que os instintos primários governem a nossa conduta, independentemente das conseqüências a médio e longo prazo que a satisfação desses instintos possam acarretar. O id é considerado o “animal instintivo dos seres humanos”.

[3]. O Testador, vestido de branco e fluindo dentro de uma estranha e familiar luz, veio desafiar-me. Um verdadeiro ponto para descobrir a minha própria essência interior, a qual eu podia sentir. Eu disse[3]Lhe: “Anjo, o que você poderia dizer-me dos espinhos e da estrada menos viajada? Eu passei através do o sangue e ossos do meu irmão, para caminhar dentro de uma sombra na qual Eu sou o único Deus que é - sonhos alimentaram meus desejos e Eu estive, entre as Bestas dos campos - afastado de você, Eu não resignei meu caminho, buscava minha própria mãe que deseja cortar-me e despedaçar-me ou me levantar-me Deus. (THE BOOK OF CAIN (O LIVRO DE CAIN) de Michael W. Ford. Tradução livre e adaptada para o português do Brasil e apenas usado em níveis internos da CCS, por AZAZEL SEMJAZA QAYINN LVNAE DO CORVO SAGRADO, com a colaboração e ajuda: ERVS DIONISIVS SAKLAS LVNAE DO CORVO SAGRADO).

[4] Preferimos chamar o Anjo aqui de “superego”, ou seja, de sensor, que reprime todo desejo obscuro ou luxuria., em outras palavras é resultado da socialização (basicamente o que se aprende através dos pais) e da internalização das normas socialmente aceitas. É a entidade psíquica que supervisiona o cumprimento das regras morais. É por isso que o superego pressiona o indivíduo a fazer grandes sacrifícios no intuito de que a personalidade internalize o máximo possível a idéia de perfeição e bondade. Como o “id” rejeita a todo custo se submeter à moral e o ego, apesar de tentar suprimir os impulsos do id, é movido por objetivos egoístas, é papel do superego enfrentar os dois a fim de que não sejamos dominados pelos nossos instintos e nem movidos por objetivos puramente egoísta.

[5] Azazel falou da percepção e daquilo que pretendiam tornar-se e de realizarem seus próprios desejos, eles eram livres. Fez com que sua mente se tornasse como a da serpente, isolada e independente – assim como a Chama que era sagrada e bela, Azazel agora podiam compreender tanto o bem e o mal, a Sombra e a Luz. Lúcifer, meu Iniciador Angélico, minha Alma e meu Pai, compreendeu que ele era tanto um Demônio como um Anjo, que ele era a beleza e a feiúra.

[6]  extasiado, embevecido, enlevado..

[7] Nome alternativo para terra do pesadelo, as profundezas da terra, as áreas mais escuras onde nenhum ser de luz morou, também se refere ao “Id” da psicanálise Freudiana.

[8]Aqueles que caíram com Azazel, chamado Lúcifer, até aquele momento só tinham um vislumbre do fogo que Azazel tinha demonstrado para eles. Na passagem nas terras do pesadelo, onde se sentiam perdidos e seu fogo estava quase extinto. Azazel se despertou brilhantemente iluminado, uma Escura Estrela que viu o Fogo de Céu. Quando o fogo caiu do céu para a terra, vindo de meu pai eles perceberam então o mundo de carne, que ambos os planos Espiritual e Material foram ao mesmo tempo trazidos juntos em união” (THE BOOK OF CAIN (O LIVRO DE CAIN) de Michael W. Ford. Tradução livre e adaptada para o português do Brasil e apenas usado em níveis internos da CCS, por AZAZEL SEMJAZA QAYINN LVNAE DO CORVO SAGRADO, com a olaboração e ajuda: ERVS DIONISIVS SAKLAS LVNAE DO CORVO SAGRADO).

[9] "Cain, meu Filho dos Filhos, você vai encontrar a sua mãe e irmã amanhã, então você andará sobre o caminho da noite. Pela maré do sol do Meio-dia caminhou você, e com os escorpiões e serpentes das areias de deserto você renasceu como Deus. Seu sinal, que é o meu sinal na terra é o Forcado Negro dentro de um escaldante sol, essa antiga marca será a nossa de ser e de se tornar, Cain, meu filho, nosso parentesco será sempre profundo e eterno. Você é abençoado no fogo de Sathan, o Adversário. Muito será ensinado a você quando for o momento certo” (THE BOOK OF CAIN (O LIVRO DE CAIN) de Michael W. Ford. Tradução livre e adaptada para o português do Brasil e apenas usado em níveis internos da CCS, por AZAZEL SEMJAZA QAYINN LVNAE DO CORVO SAGRADO, com a colaboração e ajuda: ERVS DIONISIVS SAKLAS LVNAE DO CORVO SAGRADO).

 

11 comentários:

Anônimo disse...

Bravo 👏🏽

Anônimo disse...

Ótimo texto. Estou passando por um momento da minha vida difícil parace que isso nunca vai ter fim. Esse texto veio no momento certo para eu refletir sobre a solidão, estou entre a escuridão e luz todos os dias só quero dormir para isso acabar vc tenta ser forte o tempo todo mais tem hora que desabamos ,vc olha para lado e não ver ninguém que vc possa confiar . A única saída é a sua fé em Deus e nos orixas.

ANTINOMIAS DE AZAZEL disse...

Te agradeço pelo toque do aplicativo e por ler.

ANTINOMIAS DE AZAZEL disse...

Não devemos permanecer no mesmo lugar que adoecemos, as vezes temos de mudar de casa, as vezes de cidade, mas o mais importante de atitudes, ser recíproco.

Anônimo disse...

Não são sementes palavras bonitas, mas sim, uma realidade de que muitas pessoas se encontram hoje. Parabéns, ótimo texto....👏👏

ANTINOMIAS DE AZAZEL disse...

Eu bem sei disso, acho que você reconhece parte do diálogo, pois são símeis aos fatos.

Áxis disse...

Consigo sentir a dor que o eu lírico carrega em suas palavras, é de um peso descomunal, como Atlas a segurar o peso do mundo nas costas.

ANTINOMIAS DE AZAZEL disse...

E acredite, o fato descriro não é somente algo meramente ficcional, trás um carga de vivencia real e dramatica.

Anônimo disse...

O texto é fantástico. ,traz uma reflexão muito íntima,acolhedora e possível de soluções rápidas.

ANTINOMIAS DE AZAZEL disse...

A solução mais viável é seguir em frente e recomeçar...obrigado

Lins disse...

👏 show