sábado, 22 de junho de 2024

 UM MOMENTO DE SOLIDÃO

Autoria: Azazel Semjaza Qaiynn Lvnae

Ele estava com um tom sério no áudio, não demonstrava a alegria de quando antes me mandava mensagem a noite – acho que por detrás da tela do celular, ele retirou a máscara. Me pediu um segundo, dizendo que precisava beber algo forte que lhe desse a coragem de desabafar. Perguntei o que ele iria beber, ele respondeu uma dose de gyn, sem gelo e de uma só talagada.

Acendi o cigarro mentolado e esperei ele beber seu gyn tranquilamente. Então lhe ele mandou o seguinte áudio: - Tô puto mano comigo mesmo, tô cheio de ódio de mim mesmo, por aceitar migalhas de atenção, só me procuram ou só me dão atenção quando querem algo e depois somem. To odiando a vida que levo aqui no distrito. Estou me sentindo um otário. Estou me sinto um lixo, preciso tomar um taja preta e dormir.

Aquilo me assustou muito, vindo de quem sempre tive em conta, como alguém forte e inabalável. Eu estava completamente surpreso, minhas expressões eram as mais carrancudas possíveis.

Ele continuou -  A partir de hoje, só ajudo quem me de atenção, porque to fudido, ninguém me dá valor, me sinto sozinho, me sinto uma merda, quero somente ir embora desse lugar. Todo mundo me usa, e ninguém de fato demonstra amizade na atitude, a não ser quando querem algo, fui enganado, usado, mentiram pra mim, me fizeram de idiota. Sou um lixo, uma merda, me sinto a pior pessoa do mundo.

Percebi que ele estava mal, que algo despertou seu gatilho de depressão. Era impossível não sentir nele uma tristeza profunda. Ele prosseguiu:  Não tenho um amigo de verdade aqui e nem ninguém que me apóie e ainda tem uns FDP que quando falo de como me sinto dizem ser chantagem emocional ou auto-vitimização. Ninguém sabe o que passo, choro toda noite, me sentindo sozinho nesse inferno que é este lugar...

Eu não sabia o que lhe dizer - palavras de conforto nem sempre funcionam nessas horas -  ainda mais com ele que se apega atitudes e ações e não em palavras.

Por fim ele findou dizendo: Não se preocupe, não vou me matar, sou muito covarde para isso, vou partir e seguir a seta. Está é saga de um Qaiynnita, de um filho de Azazel! Boa noite, bom sono - Antes dele desconectar o WhatsApp da rede wifi e sumir, eu lhe disse: Tudo isso vai passar logo e um dia eu e você vamos nos lembrar de tudo isso e vamos dá risada e falar tudo isso passou e acabou.

Como pode alguém descarregar todas essas palavras recheadas de emoção e querer que o ouvinte-leitor do outro lado do smartphone durma em paz?

O sono fugiu-me por completo, qualquer tentativa de contato com ele era em vão. Mas confesso, que às vezes, também caiu nessas armadilhas, quando por vacilo, deixo que qualquer gatilho emocional dê força ao Anjo para dominar a besta em mim, destruindo, mesmo que por algumas horas, a simbiose entre eles.

Seguir a senda de Caim[1] nunca foi uma tarefa fácil, ainda mais para nós os lobos tidos como sub-raças, como bastardos do Sangue-Bruxo. Dizem que nossa marca do Diabo é a bestialidade[2], que somos puro instinto, que não sobra espaço para que o Anjo[3] se manifeste[4] em nós.

De fato nós os bastardos de Caim, nascemos com a bestialidade ressurgente em nossas corpos e naquele local da mente tão obscuro, quanto areruza[7] e com isso somos instigados pelo fogo[8] do qual somos essência e descendência a seguir a senda do Pai-Bruxo, do Diabo-na-carne. Buscamos o incesto divino com nossa Mãe-Bruxa em sua forma juvenil de Naaman[9].

Estamos em constantes movimentos, o sangue que ferver em nossas veias, nos impõe a não-estagnação, a não fixação, somos o povo proscrito, andarilhos e vagabundos do mundo. Mas trazemos a marca de Caim, não somente por DNA, mas pela própria trilha que seguimos.

Nossa trilha é a mesma de Caim,  conhecemos o terror escaldante do deserto, com  escorpiões e cobras, sentimos o ar sufocante e úmido da floresta com seus perigos ocultos, sentimos o terror das sombras ilusórias e por vezes reais do interior da caverna, em outras palavras, conhecemos as dores e prazeres e a luxuria da vida em toda a sua intensidade, o amor e o ódio, e, a solidão e o abandono fazem parte da jornada, e nem por isso, somos menos cainitas.

O que nos difere dos homens de barro é que como nômades vivemos cada instante, e temos a oportunidade de transformar a natureza ao redor e de nos auto transformarmos. E antes que haja crítica ao desabafo feito por áudio acima é preciso deixar claro que: Não somos imunes a tristeza, nem a depressão, nem a qualquer coisa que possa atingir a carne que nosso espírito habita temporariamente, isso nos torna mais fortes, pois a cada queda levantamos do chão como Azazel quando despertou da queda.


Ele se levantou, ainda debilitado, ainda desafiante e satisfeito com o sucesso nesta terra de pesadelos, ele começou a suscitar os muitos que dormiam desde o choque da queda ao redor dele”

(the book Of Cain, de Michael W. Ford)


 Seguimos sempre em frente, na busca da nossa própria luxúria e vontade, não nos submetemos a nada e nos levatamos, mais fortes de cada queda. E com orgulho podemos afirmar:

“E na caverna secreta da minha sabedoria, sabe-se que não existe Deus, mas eu mesmo”

(Qu’ret al-Yezid, A Revelação de Malak Tauus).


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O  texto é uma ficção e como tal ele  diz mentiras símeis aos fatos, “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobri-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encobre " ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade...


[1] Para melhor compreensão indicamos a leitura de The Bok Of Cain e Vox Sabbatum de Michael W. Ford.

[2] Eles se referem ao instinto puramente animal e nos preferimos “Id”: Freud propôs que o Id é a estrutura da psique humana que aparece em primeiro lugar. Ao contrário do que acontece com o ego e com o superego, o Id está presente desde o nascimento, e durante os dois primeiros anos de nossas vidas é ele quem nos governa. Ele funciona através do princípio do prazer imediato, dessa forma, luta para que os instintos primários governem a nossa conduta, independentemente das conseqüências a médio e longo prazo que a satisfação desses instintos possam acarretar. O id é considerado o “animal instintivo dos seres humanos”.

[3]. O Testador, vestido de branco e fluindo dentro de uma estranha e familiar luz, veio desafiar-me. Um verdadeiro ponto para descobrir a minha própria essência interior, a qual eu podia sentir. Eu disse[3]Lhe: “Anjo, o que você poderia dizer-me dos espinhos e da estrada menos viajada? Eu passei através do o sangue e ossos do meu irmão, para caminhar dentro de uma sombra na qual Eu sou o único Deus que é - sonhos alimentaram meus desejos e Eu estive, entre as Bestas dos campos - afastado de você, Eu não resignei meu caminho, buscava minha própria mãe que deseja cortar-me e despedaçar-me ou me levantar-me Deus. (THE BOOK OF CAIN (O LIVRO DE CAIN) de Michael W. Ford. Tradução livre e adaptada para o português do Brasil e apenas usado em níveis internos da CCS, por AZAZEL SEMJAZA QAYINN LVNAE DO CORVO SAGRADO, com a colaboração e ajuda: ERVS DIONISIVS SAKLAS LVNAE DO CORVO SAGRADO).

[4] Preferimos chamar o Anjo aqui de “superego”, ou seja, de sensor, que reprime todo desejo obscuro ou luxuria., em outras palavras é resultado da socialização (basicamente o que se aprende através dos pais) e da internalização das normas socialmente aceitas. É a entidade psíquica que supervisiona o cumprimento das regras morais. É por isso que o superego pressiona o indivíduo a fazer grandes sacrifícios no intuito de que a personalidade internalize o máximo possível a idéia de perfeição e bondade. Como o “id” rejeita a todo custo se submeter à moral e o ego, apesar de tentar suprimir os impulsos do id, é movido por objetivos egoístas, é papel do superego enfrentar os dois a fim de que não sejamos dominados pelos nossos instintos e nem movidos por objetivos puramente egoísta.

[5] Azazel falou da percepção e daquilo que pretendiam tornar-se e de realizarem seus próprios desejos, eles eram livres. Fez com que sua mente se tornasse como a da serpente, isolada e independente – assim como a Chama que era sagrada e bela, Azazel agora podiam compreender tanto o bem e o mal, a Sombra e a Luz. Lúcifer, meu Iniciador Angélico, minha Alma e meu Pai, compreendeu que ele era tanto um Demônio como um Anjo, que ele era a beleza e a feiúra.

[6]  extasiado, embevecido, enlevado..

[7] Nome alternativo para terra do pesadelo, as profundezas da terra, as áreas mais escuras onde nenhum ser de luz morou, também se refere ao “Id” da psicanálise Freudiana.

[8]Aqueles que caíram com Azazel, chamado Lúcifer, até aquele momento só tinham um vislumbre do fogo que Azazel tinha demonstrado para eles. Na passagem nas terras do pesadelo, onde se sentiam perdidos e seu fogo estava quase extinto. Azazel se despertou brilhantemente iluminado, uma Escura Estrela que viu o Fogo de Céu. Quando o fogo caiu do céu para a terra, vindo de meu pai eles perceberam então o mundo de carne, que ambos os planos Espiritual e Material foram ao mesmo tempo trazidos juntos em união” (THE BOOK OF CAIN (O LIVRO DE CAIN) de Michael W. Ford. Tradução livre e adaptada para o português do Brasil e apenas usado em níveis internos da CCS, por AZAZEL SEMJAZA QAYINN LVNAE DO CORVO SAGRADO, com a olaboração e ajuda: ERVS DIONISIVS SAKLAS LVNAE DO CORVO SAGRADO).

[9] "Cain, meu Filho dos Filhos, você vai encontrar a sua mãe e irmã amanhã, então você andará sobre o caminho da noite. Pela maré do sol do Meio-dia caminhou você, e com os escorpiões e serpentes das areias de deserto você renasceu como Deus. Seu sinal, que é o meu sinal na terra é o Forcado Negro dentro de um escaldante sol, essa antiga marca será a nossa de ser e de se tornar, Cain, meu filho, nosso parentesco será sempre profundo e eterno. Você é abençoado no fogo de Sathan, o Adversário. Muito será ensinado a você quando for o momento certo” (THE BOOK OF CAIN (O LIVRO DE CAIN) de Michael W. Ford. Tradução livre e adaptada para o português do Brasil e apenas usado em níveis internos da CCS, por AZAZEL SEMJAZA QAYINN LVNAE DO CORVO SAGRADO, com a colaboração e ajuda: ERVS DIONISIVS SAKLAS LVNAE DO CORVO SAGRADO).

 

quinta-feira, 13 de junho de 2024

  O PREGO QUE NUNCA ESFRIA - PARTE IV


O DIÁRIO DE AZAZEL - PAGINAS 2149 A 2151


"Observe Cain, a tigela [2] do crânio cheia de sangue, ela mostrará a você àquilo que é velado ao profano, então por meio desta máscara [3] o Caminho do Dragão Vermelho lhes será desvelado, você precisa esta sonhando [4] para ver dentro desta tigela, e eu vou esperar por você lá [5] - “encoberto [6] na cortina carmesim, ocultado dos olhos dos que não podem ver. Segure este crânio e veja os espíritos que caminham com você, pela Ego-Transformação, na reunião dos caminhos [7], esta será para sempre a sua marca - seu pai, o Dragão – O mais Antigo dos Djinn, sempre caminhará com você, e em extasiada meditação vamos transcender com nossas mãos o barro mortal [8]. Você terá sede de água e de sangue [9]; isso acontecerá no sonho por meio da Gnosi Dual. Eu seguro a Taça Dourada para os seus lábios, aquela taça que contém o elixir do Forte Dragão - Eu então darei a você a tigela do crânio com o fluido de meu sangue, a fim de que você possa saborear a doçura amarga deste beijo vermelho [10] - depois dentro de você teu Ecstasy e teu Phalus diabólicos elevados na direção do sol serão as línguas da serpentes que você deve inflamar para mim... [11]


Quando coloquei meus ouvidos na terra e ouvir o chamado para ir adiante, e pisei sobre a cruz as almas sob ela acordaram. Então, clamei aos meus antepassados, aqueles que vieram degredados, aqueles foram cruelmente escravizados e aqueles que habitaram aqui antes da chegada do homem europeu e foram dizimados - todos de algum modo adentraram aos círculos dos sete reinos de Sua santidade [1] 

A dúvida assolou-me por completo – será que me ouviriam após tê-los despertados todos ao banquete de Um?

Como a insônia persistia, dormir a base de chá de mulungu e alface, estava evitando os remédios – sim estava tão humanizado que as vozes e visões que ouvia e via, pareceu-me esquizofrenia as vezes – Também estava evitando o vôo noturno, pois este me deixava muito exausto no dia seguinte. 

Dormir aquele sono inquieto, meu corpo rendeu-se ao efeito da sonolência da beberagem, mas minha mente e minha alma, perturbavam meu espírito.

E sem as muletas, fui catapultado até a mata aqui perto de casa, onde há uma árvore frondosa, que esta sempre verde e que serve para que todos os praticantes de feitiçaria da região deixem seus feitiços feitos ou despachados – ela é um portal, uma encruzilhada de acesso aos vários mundos da arte da feitiçaria - havia uma névoa que cobria o chão, era como uma nevoa sob a relva em noites frias e enluaradas numa campina.

Da névoa ela se ergueu de sob o solo, translúcida, claramente seu rosto em luz tênue mostrava uma metade da face de uma mulher e a outra de uma caveira, uma linda rosa vermelha adornava seus cabelos negros, sabia ser ela um espírito, mas na projeção de uma alma que eu reconheceria.

Eu a reconheci de imediato – Rosa Caveira! 

Lembrei-me que a ultima vez que nos vimos daquele jeito foi nos portais do além, dentro da calunga do setor “C” da Cidade Industrial, numa linda festa com todas as correntes ancestrais.

Quando em vida carnal, ela fora um Sacerdotisa dos Mistérios da Arte do Diabo, havia trilhado várias sendas e adentrado por diversos véus de mistérios que permeiam a humanidade. Seus poderes era sem comparação, ela não tinha medo do além, nem mesmo dos seres que projetavam imagens tão horrendas que jamais passariam pela cabeça dos roteiristas de filmes de terror de Hollywood e se algum deles, por mero acidente, encontrasse uma dessas formas demoníacas por certo perderia completamente a noção do juízo. Mas ela não, ela trava as sombras que se esgueiravam como filhos, todas elas lhes era servis e dóceis. 

Ela havia me dito que confiava nos seres sombris porquê foi traída pelos vivos e enterrada viva pelos seus próprios parentes e amigos que temiam seus poderes sobrenaturais.

Eu a saudei como de costume, chamando-a como sempre o faço em seu fetiche [12] de minha mãe Rosa.

Ela falou-me – Filho! Não vim hoje, como quem trabalha na feitiçaria, mas como quem te guia na estrada. A propósito a família do além-túmulo, aqueles que estão abaixo de teus pés no Campo Santo, te mandam saudações e todos nós estávamos cientes e orgulhosos de como você superou a querela com os desgarrados.

Não pude deixar de observar que mesmo em projeção e em forma diáfana, ela ainda, estava cercada com os seres sombrios – fantasmas sem carnes, puras caveiras, demônios familiares em forma de cachorros - tal qual Hécate e sua matilha de cães e fantasmas.

Ela continuou: Azazel há duas armadilhas no caminho: a primeira delas é quando se adentra os campos do além-nao-visto sem se saber quem se é. A propósito. Você sabe quem você  é hoje?

A pergunta dela me pegou de calças curtas, porque eu sabia que havia mais naquela pergunta do que a mera argüição de “saber quem se é” no sentido comum. Saber quem é se é, na pergunta dela, era maior que pergunta em si mesma, por que continha uma encruzilhada para qual eu não tenho qualquer resposta ou direção certa a seguir:

Eu refletia em silêncio - Quem eu sou, reflete uma angústia de eu não saber se já fui algo, se fui alguém ou se já fui ou funcionei de algum modo diferente do que sou ou funciono hoje, ou se o que eu era antes de ser hoje, foi de algum modo eu mesmo, em algum ponto da linearidade, ai surge a dúvida:

- Em algum ponto da linha temporal, eu fui eu de verdade ou o eu de verdade nunca se mostrou. Quem sou eu pra mim é qual importância de ser eu antes e eu agora para os micro-mundos que orbitam meu sistema solar social?  - Eu sou hoje uma síntese de tudo que já fui?  - Fiquei sem resposta a pergunta – Mas minha mente fervia na tentativa de entender saber quem se é.

Ela então como que adivinhando meu limite de entendimento e a falta de palavras para expressar a resposta, disse-me: “Saber quem se é, requer contatos com o não-visivel, com os seres, deuses e demônios de outras dimensões ou espaços tempos, que agem na intercessão, no ponto central da encruzilhada, entre o nosso mundo e o mundo deles. Lídar com tais espaços e seres fora do espectro visível do filho do barro é uma questão de domínio da mente, Um filho do fogo, um Cainnita, que busca o caminho tortuoso da serpente, que trás a marca da bruxa – o sinal do Diabo – por certo vai encontrar um mestre certo, que o ajudará a desenvolver seu atavismo ressurgente [13] e a alcançar seus potenciais ao ponto do discípulo poder interagir e a usar esses poderes a seu favor, isso claro se o noviço for  persistente, para saber quem se é. Como bem lembra Michael W. Ford [14]”:

 "Então eu andarei a pé até o caminho de fogo de meu ego, pois ele ainda assim chama por mim. Eu Não vou desistir, embora, Eu esteja cansado e com frio - Você não me dobrará! Mesmo que Eu deva enfrentar a escuridão na eternidade sozinho, Eu irei! Eu nunca desistirei"

Ela continuou – a Segunda armadilha é aquilo chamado “amor”. Por que o amor verdadeiro não é aquele da visão dos filhos de barro. Você sabe o sentido do amor [15] Azazel?

Assenti com a cabeça e completei:

- Por mais que para essa pergunta sobre a armadilha do amor haja uma respostas simples – amor é vontade, mas também é troca – a prática da resposta em si mesma é absurdamente difícil.

Ela olhou-me – seus olhos se destacavam naquela aparência quase que transparente – e disse:

- Sim! Pior que o ego-inflado é o ego ferido e abandonado pelo ser amado, quando o amor é encarado da forma que os filhos de Abel o projeta na sociedade. Esse tipo de ego é um ego iludido com as formas de amor que o demiurgo insuflou nos descendentes de Abel.

Olhando ainda friamente nos olhos, quase congelando-me, disse:

- Um filho do fogo deve sentir e viver o amor Bestial-Desejo-Ardente ou Luxuria pela deusa-diabo-dentro-si-mesmo, e jamais cair no mesmo erro dos vigilantes de amar - - incondicionalmente excluindo a vontade -  as belas filhas e filhos dos homens de barro. Os Arcontes caíram não pela Luxúria e desejo do de possuir e adentrar as entranhas das filhas e filhos de Abel e sim porque foram tragados pela armadilha de “amar-não-vontade-sem-troca”.  

Ela flutuou sobre a névoa e chegando mais perto murmurou: - Podemos possuir e adentrar ou ser adentrado nas e pelas entranhas dos filhos e filhas do barro, mas isto deve ocorrer com completo esvaziamento de emoções e sentimentos –  apenas por amor sob a vontade e desejo de Luxuria Bestial, onde o Anjo e a Besta-Daemon – tornam-se um só - alimentando-se da carne e do sangue-semêm dos filhos de abel. Se assim não for, se nos imaginarmos ou nos deixarmos cair, por um milésimo se quer de segundos, seremos equiparados ao barro, saímos perdendo e por vezes nos tornando, ao menos por algum tempo brasas encobertas por cinzas, e como os Arcontes-Vigilantes, que caírem num autoprisão – num loop de desejos biológicos-não antropofágicos, em palavras simples, o barro é nosso alimento e não nossos companheiros de amor. Eles nos servem, e devem servir sempre,

Após todos esses paradoxos, Ela disse:  Meu pequeno lobo, escolher o caminho de Caim pode levar-te a auto-deificação ou a loucura, mas qualquer que seja o resultado – isso dependeria das escolhas que você fizer – a conseqüência seria a solidão. Sorver a taça-crânio de Abel, requer renúncias e exílios, as vezes forçados, ora autoimpotos.

Eu senti naquele momento que o Mestre do Aquerrale já via levado a Rosa a minha situação de apego e resistência ao chamado do prego que nunca esfria.

Por fim antes de desaparecer ela disse:

- Meu conselho é: Tu deves: descobrir qual é a tua Vontade.  Fazer a tua Vontade com:  unidade de propósito; desprendimento; paz, ou seja, abdica do amor regado de sentimentalismo e retornado ao primeiro amor. Liberta quem te prende e serás livre das amarras do barro. Abana as brasas sobre as cinzas e verás a flama-negra ressurgir iluminado seu destino.

Acordei pensativo e de decisão tomada. O prego nunca esfria, a partida se aproxima...

Autoria: Azazel Semjaza Qaiynn Lvnae

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O  texto é uma ficção e como tal ele  diz mentiras símeis aos fatos, “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobri-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encobre " ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade...


[1] Ser Supremo, cuja compreensão encontra-se além de descrições e representações exotéricas’. Na Quimbanda brasileira este ser é chamado de Maioral ( ...) se trata de uma força ordenadora/coordenadora do Reino de Exu; o grande governante e mantenedor daquele reino, que rege as legiões de Exus e Pombagiras; o vórtice central cuja energia se expande ou se concentra através da ação de Exu e Pombagira (...) seria algo – num pensamento mais moderno - equivalente ao conceito de “Sagrado Anjo Guardião (...)  algo como uma consciência deificada do praticante/adepto.;

[2] Tigela, cavidade, cuia, taça, feitos com o crânio (Gael).

[3] O autor usa a palavra “VEIL” que significa: véu, manta, xale, máscara, vendar, cobrir, capa, disfarce, manto, máscara (Gael).

[4] Hipynogogia, sonho induzido,(Gael).

[5] Depois do Véu do Sonho. (Gael)..

[6] O Autor usa no texto a palavra “CAULED”, óbvio erro de grafia, pois não é uma palavra da língua inglesa antiga  ou “Old Use Inglesh” , a palavra correta deveria ser  “CLAD” significando: encoberto, coberto, vestido, ocultado; esta última não pode ser usada devido a tê-la no contexto da frase (Gael)

[7] QTUB – o Centro, o ponto da Encruzilhada (Gael).[8] Ao pé da letra seria: “e em extasiada meditação vamos passar através do barro de mãos mortais"

 (Gael).

[9] Este parte do mistério revelado por detrás do “Vinho Tinto de Sangue": Acrescento que conforme “Ela” quer não pode ser nomeada me disse: 1) Quando usado do Sacramento de União, em partes privadas, evoca-se este aspecto de Qayin; 2) de forma pública isto deve ser feito pela  unão da taça e punhal para manter a máscar;3);  originalmente, a consumação privada era feita no crânio do “Senhor dos Dois Séculos”, com o adveto dos tempos modernos isto foi, substituido pelos Chifres do Bode ou Touro e hoje em dia pelos motivos já citados (2) pela taça e punhal. (Gael).

[10] O Autor usa a palavra “coppered” que vêm de “copper: significando Cobre”, portanto o sentido da palavra pelo contexto (sangue/vermelho)  é acobreado, no sentido de cor avermelhada que se assemelha à cor de cobre polido; ou metálico, o que ligaria Qayinn a Tubal-Qayinn e aos Mistérios dos Metais; também pode estar ligado a cor da brasa, o que ligaria Qayinn ao povo do Fogo, já que a brasa tem a cor semelhante a cobre. (Gael).

[11] The Book ff Cain” by Michael W. Ford  - Tradução completa  e adaptada para o português do Brasil por Lvpercvs Gael Azazel Semjaza Qaynn Lvnae do Corvo Sagrado e Ervs Dionisivs Saklas Lvnae do Corvo Sagrado, usado nos círculos internos da casa dos Corvos Sagrados;

[12]  Fetiche era palavra atribuída a um objeto enfeitiçado, que eram adorados ou que eram utilizados em cultos religiosos, em geral nos de origem africana, também se refere a assentamento.

[13] Em resumo, o atavismo é um fenômeno fascinante que mostra como características ancestrais podem ressurgir em um organismo após várias gerações. Ele desafia a ideia de que a evolução é um processo linear e progressivo, mostrando que a diversidade genética e os mecanismos genéticos podem levar ao reaparecimento de características antigas.;

[14] The Book of Cain.

[15] (...) Amor aqui traduz  (...) a Vontade é a Lei, a natureza dessa Vontade é Amor. Mas este Amor é como que um sub-produto daquela Vontade; não contradiz nem sobrepuja aquela Vontade; e se em qualquer crise uma contradição se erguer, é a Vontade que nos guiará corretamente. (...), não existe nele nada de Sentimentalismo. O Ódio mesmo é quase como o Amor! (...). O Amor (...) é sempre ousado, viril, mesmo orgiástico. (...) em outras palavras (...)Tu deves: (1) Descobrir qual é a tua Vontade. (2) Fazer a tua Vontade com: (a) unidade de propósito; (b) desprendimento; (c) paz. (Liber II - A Mensagem do Mestre Therion - Publicação da AA em Classe E - raduzido por Frater Adjuvo. (fonte; A Mensagem do Mestre Therion (hadnu.org)

 

terça-feira, 4 de junho de 2024

 PARADOXO I

O DIÁRIO DE AZAZEL - PAGINAS 2138 A 2139


Tenho tentado viver neste mundo louco onde tudo anda tão depressa, as coisas acontecem rápido demais e isso é perturbador, ao ponto de ter quase plena certeza de que vivo uma labirintite social, eu de fato, não consigo acompanhar as ondas do tempo, e ao contrário de um dos maiores dogmas da magia, eu me coloquei,  sem ao menos perceber, contra as correntes do tempo e isso tem me esmagado o espírito. 

Busco-me o tempo todo, mas não sei em que parte do caminho me perdi de mim mesmo, se soubesse, seria fácil achar-me outra vez, colocar-me em mim mesmo, sorver de mim para mim, e ser eu de novo. 

Mas esse é o paradoxo - perdi-me de mim, e parte de mim, de minha essência, ficou no caminho. Penso, seria o fato desse avatar que ocupo, está desgastando-se com a idade - já que todo carbono tende a findar-se em um organismo e reorganiza-se em novos corpos, ou de fato eu fiquei mentalmente fixado numa, digamos, era dourada psicológica?

Meus questionamentos são: de mim para mim, e talvez nada tenha haver com você.

Eu  falo da loucura do mundo, do vazio das pessoas. Raros param para observar o mundo real à sua volta.

Mas o mundo continua sua marcha lenta e irretornável para frente. Sem se preocupar comigo ou com você. Ele não para pela sua dor, alegria ou tristeza, ele não estagnou porque você está sorrindo ou sofrendo de amor. Ele pouco se importa se você está vivo ou morto.

Mas, mesmo assim, somos parte dele, vivemos nele e nem percebemos as coisas que ele nos mostra.

Quem viu o voo de um pássaro hoje e deixou-se levar  pela beleza que ele exprime?

Quem teve tempo para admirar uma simples flor nascendo entre lajotas e paralelepípedos na estrada?

Andamos tão depressa que não olhamos a necessidade do outro e às vezes confundimos as nossas necessidades reais por coisas pueris.

Mas sabe o que é novamente paradoxal, é que nós, independente de prestarmos atenção em como o mundo nos vê ou age em relação a nós, tendemos a repetir o mesmo processo do macro-mundo no nosso micro-mundo.

Em outras palavras, raramente paramos para observar como de fato se sentem os que estão ao nosso redor, nem mesmo os que conosco convivem sobre o mesmo teto. 

E plagiando, o mundo, nós continuamos nossa marcha egoica lenta e irretornável para frente, sem nos preocuparmos conosco mesmo - como deveríamos fazer, e muito menos com o outro que nos devota atenção e tempo.

Quando de verdade paramos pela dor, alegria ou tristeza do outro?

Quando de fato notamos que o outro necessita de um abraço, ou de um eu estou aqui de verdade?

Nós muitas vezes nos lamentamos, achamos que o mundo e a vida são injustos conosco, mas na verdade, somos reflexos do mundo em que vivemos, e tratamos o outro e natureza ao redor - nosso micro mundo - como vivemos, ou seja, como alienígenas, como se eles não fossem parte de nós, como se não estivessemos inseridos e limitados no mundo-macro. 

Quero fugir desse mundo, onde valemos o que temos e o que podemos ofertar -  materialmente  falando - e não pelo que somos como individualidades partes de um Todo-Mundo.

Quisera eu poder exprimir o que sinto na alma-psique e no espírito-flama, mas as limitações do mundo louco, me rodopiam e me assustam, pois por vezes, chama-me emocionado, exagerado, quando no fundo, a necessidade - ao menos momentânea - é uma abraço apertado e um real entender da minha alma-essência.

Voltamos ao paradoxo:

O mundo é real?

Qual deles?

O que pseudo-vivemos aleatoriamente, nos vitimizando pelas escolhas e pelas perceptíveis consequências que colhemos e quando desagradam-nos a colheita colocamos a culpa no azar ou em deus-diabo-macumba-feitiço alheio?

Ou, necessito, como diz o Filósofo Descarte “Cogito, ergo sum”.


Autoria: Azazel Semjaza Qiynn Lvnae


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Reflexão de uma mente desocupada.


domingo, 2 de junho de 2024

 O PREGO QUE NUNCA ESFRIA - PARTE III (1)


O DIÁRIO DE AZAZEL


 PAGINAS 2145 A 2148


Desde que retornei da Cidade Industrial para as fronteiras das terras do marquês, um fenômeno passou a ocorrer, todas as madrugadas por volta das 03h da manhã, eu  acordava sobressaltado, havia algo perturbando meu auto-exílio, eu sabia que aquilo não era normal, mas como havia fechado todos os portais de comunicação com o mundo do além-visível, com exceção da via-láctea ou mundos tântricos (2) e não conseguia detectar a fonte do contato. 


Em mais uma dessas madrugadas levantei da cama fui direto para a cozinha e em pouco tempo já estava tomando uma xícara de café amargo e forte, refletindo - a sensação interna era de um incômodo profundo, como se algo estivesse a instigar-me a seguir - afinal, nunca fui fã da estabilidade quando se trata de Toponimidade (3).  


Voltei a cama e sentei nela, já que o sono não chegava, toquei meus pés no chão frio - meus demônios-familiares estavam alertas ao meu lado - e displicentemente levei a mão e os olhos ao  smartphone e num ato vicial fui vasculhar as redes sociais. De repente me dei conta, que estava me tornando normal, comum, que estava voltando aos velhos tempos da cegueira, em que o mundo meramente superficial, pseudo-visível-palpável era a única realidade conhecida. 


De imediato, parei, respirei e percebi o Abel-ressurreto em minhas atitudes, o choque dessa percepção foi tão grande que congelei no tempo - Quem sou eu agora? - pensava e retoricamente respondia - eu era agora um limitador de mim mesmo - meu auto-exílio (4), criou  na minha mente uma represa para aquilo que acumulei e que deveria fluir em torrentes criando elos.

Onde estava minha flama-negra, meu legado qaiynnita?


Só havia um forma de buscar resposta, reabrir os velhos portais e comungar com aqueles que jazem abaixo de nossos pés, cujo sangue regou esta terra de pindorama  - ou seja, através da Abertura do Olho do Diabo (5) e do Feitiço do Encanto que induz a voar (6). Eu precisava voltar a penetrar os mistérios da iniciação (7).


Alguns dias depois, preparei o quanto era preciso para poder voar a noite e ir "Sabbat dos Feiticeiros", não sabia qual seria forma de recepção que teria do Aquerrale afinal eles sabiam da minha colaboração - mesmo que forçada - com os pálidos.


Aliás, a bem da verdade, meu auto-exílio era justamente por não querer enfrentar as consequências de minha colaboração com os sugadores de sangue. Sim, colaborei, com eles, por reter em minha alma ressentimentos com aqueles que ao meu ver foram omissos quando fui atacado pelos desgarrados.


Preparei o necessário para o võo licantrópico, deixei meus pequenos diabos-familiares (8) apostos - cantei o feitiço dancei a dança do atavismo ressurgente e o “lobo em mim” ressurgiu e nesta formar fui às campinas do diabo. 


O mestre em pessoa veio me receber - Meu pequeno lobo rebelde- disse ele em tom alegre - bom tê-lo novamente aqui, a alcateia espera você. Todos temos uivado diante de Diana para você reassuma seu lugar.


Fui levado ao centro do círculo de sangue e comunguei com vivos e mortos, diabos e anjos e caídos. Quando cantava o feitiço de retornar para aquém do palpável, o Mestre interrompeu e disse - Vocẽ sabe que o prego nunca esfria, você precisa por fim ao seu exílio, chegou o tempo de novamente partir, existem outros que precisam ser despertados para quem são e qual a sua origem. Enquanto não partires nos veremos todos os dias 03h da madrugada. A resposta estava dada.


Acordei do sonho-dormindo-acordado na certeza de que não adianta jogar água fria sobre o prego, ele nunca esfriará e seguirá quente movimentando, agonizando, esquentando quem nasceu nômade como Caim e insiste em permanecer fixo - como um dos fantamas de Abel - assombrando e estagnando o próprio destino. 


Recauculei a rota do exílio-auto-imposto, arranquei mapas mentais enraizados e coloquei meus ouvidos na terra e ouvir o chamado para ir adiante sob e sobre a cruz onde as almas me chamam e não posso reter-me mais...O prego nunca fria.


Autoria: Azazel Semjaza Qaiynn Lvnae

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O  texto é uma ficção e como tal ele  diz mentiras símeis aos fatos, “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobri-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encobre " ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade...

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  1. https://azazelsemjaza.blogspot.com/2017/11/o-prego-que-nunca-esfria-parte-i.html e https://azazelsemjaza.blogspot.com/2019/04/o-prego-que-nunca-esfria-parte-ii.html;

  2. Trata-se, na realidade, de uma tradição hindu de origem milenar, que se concentra na criação de uma conexão profunda e íntima entre o casal. O prazer tântrico é lento, meditativo e demorado. A proposta é que os praticantes da modalidade vivam o momento presente para aproveitar a jornada e as sensações em várias partes do corpo);

  3. De topônimo: substantivo masculino Designação de um lugar, de uma região geográfica (rio, vila, cidade, povoação, país, logradouro):

  4. https://azazelsemjaza.blogspot.com/2024/06/ 

  5. Refere-se uma ténica usada para indução de mágica : https://azazelsemjaza.blogspot.com/2011/01/danca-das-bruxas-abrindo-o-olho-do.html;

  6. Um texto referencial encontra-se em: https://www.tumblr.com/danibado/88799570714/o-unguento-de-voo-das-bruxas;

  7. Para melhor compreensão: https://azazelsemjaza.blogspot.com/2011/03/corrente-dourada-e-o-caminho-solitario.html e https://azazelsemjaza.blogspot.com/2011/03/corrente-dourada-e-o-caminho-solitario.html;

  8. O familiar é um espírito animal que compartilha um vínculo especial com uma bruxa, e atua como um companheiro leal.