sábado, 12 de agosto de 2017

ALEA JACTA ESTE - PARTE VIII


O DIÁRIO DE AZAZEL - PAGINAS 1789 A 1793

Ola querido Diário, quero deixar em teu corpo um dialogo símil aos fatos, preste atenção: simplesmente ele lançou as perguntas e queria respostas imediatas.

Respirei fundo... e já ia responder – mas ele, de pronto, fez aquela cara de Magister  com aquele ar de quem sabe nos deixar no meio de uma poça de areia movediça, disse: “Nada de respostas elaboradas, cheias de símbolos, nem regada com aquele ar pseudo-mistérico, quero respostas simples e que de fato possa traduzir o que você pensa”.

Juro que deu vontade de pular naquele pescoço fino e esganá-lo até ele pedir arrego, depois bater nele com um gato morto até o gato miar ressuscitado, mas sendo seu pupilo, meu regresso no seio da família está em suas mãos. 

Contive meu ímpeto de matá-lo, pois os sinais do atavismo era bem nítido em mim e se viessem a superfície ali seria catastrófico, há tempos sentia falta de um covil pois há muito havia deixado a minha antiga matilha e levado o meu antigo conciliábulo para além do véu, afinal numa matilha quando a lealdade é posta em dúvida é porque os laços de sangue estão abalados e é preciso dissolve-la para que os demais membros possam ser livres para buscarem seus próprios destinos. Alguns dos meus antigos aliados diziam que a marca do lobo proscrito estava cada vez mais forte e que não estavam pronto para a flama negra.

Ele interrompeu minha distração e como se soubesse o que eu pensava ele arrematou: djavú ou devaneios são âncoras.

Engoli em seco, e resignei-me ao seu olhar de Ferreiro que batia o ferro em brasa, ele continuo – já não está na hora de jogar água no prego que nunca esfria? – e sem esperar minha resposta, repetiu as perguntas. Por que escolheu a Bruxaria e não outra religião?

Respondi de pronto: Logo de inicio percebe-se duas contradições primária acerca da Arte Sábia e que tem sido motivo de confusão entre os praticantes das chamadas religiões neo reconstrucionistas pagãs.

Ele disse-me: Explique.

Continuei minha resposta: A Primeira coisa é entender, que ao contrário da opinião da maioria dos pagãos (que na sua maioria são anti-cristãos), é que Bruxaria não é Religião.

Ele contra argumentou: Simplifique.

Continuei: a palavra religião, como é entendido na nossa sociedade atual, vem da junção de dois termos latinos: Religio + onis  significando um conjunto de sistema culturais e de crenças, além de visões do mundo, que estabelece os símbolos que relacionam a humanidade com a espiritualidade e seus próprios valores morais, neste sentido, aplicar-se  a religião a palavra Religare,  ou seja, ela  tem por objetivo religar o ser humano ao sagrado e através disso dita as regras morais da convivência social.

Então – disse ele e prosseguiu – em palavras simples, você está dizendo que ela dita toda a vida e convivência em sociedade?

Completei minha resposta anterior dizendo: O Bruxo ou Bruxa tem consciência que o sagrado não só permeia a natureza toda ao redor, mas a si mesmo, e este si-mesmo-bruxo, está sempre em harmonia simbiótica e comunhão com a natureza-divina. Portanto, o Bruxo percebe-se ligado ao divino, e como parte do divino, do incomensurável, do indomável e do amoral de UM-ACIMA. Assim, sabe que já veio ao mundo por meio de um ato sagrado de sexo. Ele sente e vive, o vir a este mundo - que apesar da moral vigente ver como algo ruim - com uma forma expressão do sagrado e como manifestação de sua raça. Apesar de saber que vive neste sagrado, tem também, ao mesmo tempo, consciência de que sua raça é das estrelas, e, assim, sua compreensão do sagrado e do divino, não se resume apenas ao nosso planeta, mas também a todos os mundos visíveis e invisíveis, que já habitou e que vai habitar.

Ele parou, pensou um pouco, e então falou: Você está então dizendo que o Bruxo é uma manifestação do sagrado, é um filho do sagrado, e que ele mesmo é sagrado?

Exatamente isso – respondi e completei - Por isso, para eles não há sentido em religar-se aquilo que já nasceu ligado, do qual faz parte e que é expressão e manifestação. De igual modo, a palavra escolheu, na pergunta, fica sem aplicação, porque para se fazer parte de uma religião é necessário na maioria delas um ato público de conversão, ou seja, que se associa-se a seu credo de fé, as sua regras e a sua moral, e que a veja, como a única e verdadeira e que as demais são erradas.

Ele concordou balançando a cabeça e eu desta feita foi minha vez de arrematar: ipsis verbis.

Quando achei que ele estava satisfeito, ele lançou a segunda pergunta: é preciso estender um pouco o sentido das palavras escolheu  e escolhido, como visto na pergunta anterior, então responda, você escolheu ou foi escolhido por ela?

Prossegui na resposta: nas religiões, inclusive - apesar de seus adeptos não gostarem no termo - as pagãs reconstrucionistas, é preciso um ato público de conversão, e quando este ato não é público, o novo convertido o torna - na maioria das vezes nas redes sociaisexpressando suas crenças em vestes, textos, criticas as demais crenças e/ou em discussões intermináveis e sem sentido, nas quais se  digladiam, para provar que o outro está errado,

Ele acendeu um cigarro, baforou, então provocou-me:  ou seja, usam uma forma chula de psicologia reversa para demonstrar que a sua forma de praticar a religião é única e verdadeira ?

Não me intimidei com a pergunta e rebati de pronto - isso mesmo, eles busca provar o erro do outro – segundo o seu ponto de vista – e assim acham que demonstram que a sua forma é a certa.

Mas muitos que se dizem Bruxos Tradicionais também agem assim e ai? – Ele disse com aquele ar de quem me botou contra parede.

Não discordo disso – falei e continuei – o que falta tanto em uns como outros, é entender que a Bruxaria é uma herança dos caídos aos seus descendentes. Outra coisa não percebida, ou ao menos ignorada pela maioria é que por não ser religião, a Bruxaria, produz em todos os credos religiosos Bruxos, quer estes se denominem ou não assim, quer sejam ou não conscientes disso, e sendo como já disse, a Bruxaria uma herança dos Guardiões dos Céus a seus filhos, é certo que e estes se procuram, se encontram e se juntam aos seus semelhantes.

Ele então perguntou na lata: Se a Bruxaria não é religião, como saber e se reconhecer um Bruxo?

Respondi de bate pronto: a Bruxaria é uma herança, ela esta relacionada aos poderes e dons com os quais se nasce, portanto, que não se adquire ao se converter a uma religião ou se adentrando a um grupo que se denomine Bruxo. Bruxaria tem mais haver com poderes do que com culto a Divindades e Status Sacerdotais.

Deixa eu ver se entendi direito – disse e prosseguiu -  você está me dizendo que o Bruxo nasce Bruxo?

Significo quid sentio - falei abusando das poucas frases prontas de latim e continuei – No meu entender, ninguém se converte a Bruxaria para ser Bruxo, se nasce Bruxo, e o nascimento de um Bruxo é uma manifestação do sagrado. E é sempre cercado de augúrios e sinais, ele nasce com os dons trazidos dos céus, esta é sua herança sagrada, e na maioria das vezes vem ao mundo sob a coifa de Lilith e sempre  marcado com sinal de Caim.

Como assim Caim e Abel?  - Perguntou e sentenciou em seguida – É muito cristianismo, não acha?

Meu caro! – exclamei e sem titubear falei: É preciso que a maioria que se autodenominam Bruxos desenraize o cristianismo de sob a psique. Serei mais claro, muitos que criticam o fé da cristandade não tem só mapas enraizados os quais na horas de aflições buscam se segurar, mais que isso, eles têm brotos morais que surgem além do inconscientes e se manifestam em suas ações e opiniões. Muitos que se dizem guardiões de agregados culturais da antiga religião (qual?) das bruxas europeias, usam na maior cara de pau as coisas - erva para banhos e defumações, feitiços, e ebós - do solo tupiniquins em suas aulas e pseudos ensinos herdadas de suas avós-monomastequitomizadas celtas - como se fosse coisas vindas do velho continente (e  pior tem gente que paga por isso) – então o que precisam de fato é ao invés de perderem tempo em suas eternas guerras para querer provar  - ao modo dos fanáticos evangélicos que tanto criticam – que seguem a antiga (na verdade neo) religião pagã das bruxas e deixarem o mito bíblico de Caim e Abel para a cristandade, e, abrirem-se aos símbolos contidos (ou ao menos reconhecidos)  nesta mitologia pelos praticantes da Arte Sábia e do Caminho Tortuoso do Homem de Barro Vermelho (Abel) e do homem de Fogo e Luz (Qyann/Seth), se assim agirem um dia compreenderão a Bruxaria Tradicional muito além de um agregado do antigo paganismo Europeu.

Agora foi a vez dele abusar das frases prontas ao afirmar: Ego idem sentio ac tu  - e finalizou – de fato a compreenderão um dia como herança dada aos descendentes dos Nephlilins e quem sabe deixem de criticarem e denigrem Bruxos Tradicionais, Cainnitas e Luciferianos.

Completei dizendo: Oxalá, chegue o dia em que ao invés de dizerem amém a seus super poderosos e poderosas Sacerdotes e Sacerdotisas, procurem ler um pouco mais que os livros pseudos-sagrados-verdadeiros indicados por estes, ou no  mínimo, perca a vergonha ou medo de decepcioná-los e pergunte a um Qaynnita ou a um Luciferiano sobre suas práticas.

Perguntou ele: Em resumo?

Respondi: Ninguém se converte a Bruxaria, o fato de fazer parte de um grupo ou religião reconstrucionistas ou de pagar mensalidades por aulas, e receber ritos e símbolos de iniciação, não faz ninguém Bruxo, apenas lhe confere graus dentro do grupo ou religião, ou lhe faz Sacerdote ou Sacerdotisa daquilo grupo ou religião. O Bruxo nasce Bruxo, o Bruxo é Bruxo por possuir o Sangue Bruxo, quer se aceite ou não isso, então, ninguém se torna Bruxo por se converter a uma religião, quer seja essa conversão realizada através de uma cerimônia de iniciação pública ou privada, pois não há a tal religião de Bruxaria e nunca houve. Em palavras simples, não existe se escolher ser Bruxo, mas sim, se nasce Bruxo e o sangue bruxo guiará cada um para reencontrar os seus no aqui e agora neste mundo e no mundo além do véu. Por fim, afirmo sem medo de Receber pedradas, chamar de Sabá celebração sazonal ou os pontos dos quartos cruzados na roda é um equivoco. O verdadeiro sabá é quele-do-sonho-feito-carne e isto é mistério.

Quando achei que arrasei nas respostas ele me lança mais uma pergunta dizendo a ser a ultima por hoje - Me responda fora do sentido acadêmico e da definição dada pelo falecido Magister do Cultus Sabático Andrew Chumbley - facilmente encontrado na internet, o  quem é a bruxaria para você e o que você busca nela?

Sob a promessa de ser a pergunta final respondi: Bruxaria é o uso de poderes, ditos sobrenaturais – não para o Bruxo – para mudar a realidade toda ao redor, é a ressurgência e o uso consciente dos dons herdados atavicamente falando dos guardiões, para mudar as coisas, portanto, é uma forma de arte ou oficio trabalhado conscientemente.

Mas - ele falou - a quem discorde que a Bruxaria é Ofício ou Arte, e há quem diga, por ser ela isto, ela pode ser aprendida, como sair desta sinuca de bico?

Acontece – falei e dei continuidade - que ao se aplicar a palavra Oficio ou Arte a Bruxaria, é preciso entender que as palavras tem o sentido ou deve ser entendida como quem tem o dom natural, ou seja, de quem nasce geneticamente – com a marca  e o sangue Bruxo  – propenso a determinado Ofício.

Dei-me um exemplo pueril disso – Ele falo.

Certo, darei – e prossegui -  todos nós percebemos quando um ator ou atriz nasce propenso à arte de atuar, quer seja no palco ou na mídia ou quando são medíocres; Outro exemplo claro é todos nós conhecemos alguém que é bom em alguma coisa e que por mais que tentemos não conseguimos fazer aquilo que outro faz com a mesma facilidade, por fim, há ainda um exemplo final, quem de nós não conheceu na vida alguém que desenha perfeitamente sem nuca ter tomado um curso se quer na sua existência?  Ou seja, quem nunca presenciou alguém com dom natural a determinada coisa? 

Ela falou: deixe mais claro.

Continuei: nesta ultima linha de exemplo, posso ainda citar que muitos pintores famosos tiveram seus quadros perfeitamente copiados, mas que apenas um simples olhar de um especialista para verificar que a obra, por mais perfeita que aparente, é apenas uma cópia sem valor, o especialista é capaz de distinguir uma cópia do original, mesmo que o imitador use as formas, modos, linhas, cores e pinceladas idênticas ao do artistas, seu trabalho não será mais que imitação, então o que diferencia aos olhos do especialista em arte a cópia do original? 

Ele respondeu: O dom do pintor torna sua arte única.

Exato - disse e completei -  é isto que o diferencia do imitador, ou seja, existe no original sinais e características próprias e uma propensão para aquela arte e aquele oficio, já sobre quem fez a cópia fica evidente que não tinha o dom natural, não nasceu com aquele dom e por mais que tenha estudado sua arte será sempre imitação. Assim, em palavras simples, posso afirmar que nos sabemos diferenciar aqueles que nascem com o dom para Arte Sábia e os que tentam aprender ser.  

Ele levantou-se e antes de sair disse: em resumo, o Bruxo nasce Bruxo.

O Daimon do Diário falou: Adsumus. 

Finalizei o texto em seu corpo com “Alea jacta este”.

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.....Texto construído a partir da reflexão entre um Mestre e seu Pupilo, ele é uma mentira símeil aos fatos... “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobri-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encobre. Ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade”.....

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