sábado, 18 de novembro de 2017

O PREGO QUE NUNCA ESFRIA - PARTE I

O DIÁRIO DE AZAZEL - PAGINAS 1888 A 1893

A Madrugada ia já alta, eu dormia pesadamente, mas por mais estranho que pareça, eu tinha total consciência no meu próprio sono. Dormia, mas estava acordado na consciência, sonhava, um sonho, que sabia ser sonho, mas não um sonho comum, não era uma experiência de imaginação do inconsciente no período de sono, era bem diferente disso,

Eu sabia que estava dormindo, e mas ao mesmo tempo que estava passando pela experiência que chamo sonho-acordado. A principio,, ele era recheado de pavores e Eu estava em minha própria forma - este foi um dos raros sonhos em que nenhum sinal de ressurgência atávica[1] licantropica [2], ou mesmo a metamorfose em animal, se manifestou.

Em seguida, o êxtase tomou conta de meu corpo e mente, e abriram-se campos verdes sobre os quais eu flutuava a poucos metros da relva e dos arbustos. Meu corpo sobre a cama havia sido possuído por outra consciência que não era a minha, enquanto minha consciência (alma) se expandiu além do limite possível e espectro visível, mas ainda tendo total consciência de que estava ligado a meu corpo, mas não podia controlar as ações, palavras e pensamentos dele, ou que através dele fluía. Ah!!!, é assim a possessão, ou acostar, este é o verdadeiro estado de ser possuído, a consciência não é apagada, mas tomada e levada a habitar o corpo imaterial do ser que momentaneamente está acostado em meu corpo. Deste modo, há uma permuta, um intercambio entre meu corpo carnal e o corpo sutil além do véu que é a morada da Alma (consciência viva) daquele que possui meu corpo.

Uma melodia de tambores, ritmado, compassado, acompanhado por vozes, como de águas a cair, e vento a sobrar sobre as folhas, exaravam palavras num língua ancestral já muito esquecida e morta deste lado palpável da cortina:

Há momentos de silenciar e ouvir a voz do Tempo,
O fluxo e refluxo que Destino move e remove
No interior de cada um e seguir em frente e seguir em frente.

Quando a força de mudar te move e você resiste,
Insiste em permanecer na sua velha e boa zona de conforto,
Enrolado no coberto da mesmice, da dormência do corpo,
Sua alma fica inquieta e movimenta as correntes
Que te levam para frente, observe, pense,
É hora de silenciar e ouvir a voz do Tempo,
O fluxo e refluxo que Destino move e remove
No interior de cada um e seguir em frente.

Quando o medo te domina, e te cegas como antes,
E já não consegues ler no teu passado remoto,
O que tua resistência a mudança te causou
E já não consegues fazer a analogia, entre o ontem, o agora
E o que te espera amanhã, observe, pense,
E hora de silenciar e ouvir a voz do Tempo,
O fluxo e refluxo que Destino move e remove
No interior de cada um e seguir em frente.

Quando os teus planos são frustrados, o amor escapa,
O relacionamento acaba, e, nas sombrias horas da madrugada
Quando estender o braço e ele já não alcançar o abraço,
Ou o lugar ao lado já não estiver ocupado pelo ser amado,
Bate aquele o frio e solidão, palpita o coração,
A angustia e escuridão, se anunciam e se prenunciam
Num silencio ensurdecedor gritado sem som, observe, pense,
É hora de silenciar e ouvir a voz do Tempo,
O fluxo e refluxo que Destino move e remove
No interior de cada um e seguir em frente.

Quando o pavor se faz presente
E a única saída seria dando cabo a vida,
Achando que se resolve a querela,
Grotesco erro seria aniquilar aquilo que um dia,
Te foi dado, de bom grado,
Pois a morte não resolve os teus problemas
Criam outros para os que te amam, por isso,
É neste momento que é preciso
Silenciar e ouvir a voz do Tempo,
O fluxo e refluxo que Destino move e remove
No interior de cada um e seguir em frente.

Em seguida, o intercambio foi desfeito, meu corpo foi desacostado, despossuído, cair para dentro de mim, e a mente foi envolvida pelo breu, no escuro, sono profundo - nenhum vislumbre ou faísca que tanta ansiava se fez presente - e somente, a certeza vívida que eu dormia o sono do justo, e mesmo mergulhado neste sono eu sabia que eu estava dormindo, e aquela estado de despertar no sono não acordava meu sono e repouso do corpo -  Eu estava dormindo. 

Estranho explicar, traduzir em palavras este sono profundo do corpo, e ao mesmo tempo, a consciência latente e vibrante, em dois lugares – no aqui no corpo na total certeza do sono e lá por detrás da barreira do próprio sono, eu estava entre um estado de espécie de dormir, sonhando, acordado, dormindo.

Os dois estágios deste sono – sono de possessão e consciência do eu por detrás do sono – têm em comum, a ciência de saber que se está ligado ou possuindo um, o corpo do outro.

No segundo caso, o meu eu tem plena consciência de que está dormindo e de que o meu corpo não está possuído, portanto, palavras, e ações, ou até reverberações que aconteçam nele, é conseqüência dos contatos que minha Alma (personalidade, Ego ou Eu) têm nestes estágios. 

No primeiro, tratando-se de permuta de Almas-Conscientes, entre o corpo imaterial (Alma Conscientes, Espírito, Guia, etc..) e corpo material, ou seja, entre o Ente de além e o Eu de aquém, onde ambos mantemos a consciência dos nossos próprios corpos pessoais, mas não temos consciência dos atos e palavras que cada Personalidade praticou, ou seja, não controlamos as ações e palavras em cada mundo quando há permuta de personalidades, assim, um é responsável pelo corpo do outro e pelas ações e palavras que emitirem em cada mundo que se manifestem por esta via.

Em palavras simples, há a ligação, para que a permuta aconteça, sim, os semelhantes se atraem e nisso há varias imbricações, que não há como discorrer, pois cada um sabe a estrada que trilha e com quais forças ou mundo está assemelhado. 

No Segundo caso, acontece é que minha mente busca os atalhos que a mantém alerta para os contatos alem do que pode ser mensurável, e ali e aqui, são trazidos augúrios, presságios, visões, alertas, ensinos, encontros com seres e pessoas as quais me dizem tudo ficará ai na Alma-Consciência e virão a superfície da mente no corpo no momento certo.

Todo este assunto, introdutório foi para contar às experiências que venho passando: Nesta noite, sonhei, um sonho de não possessão, era um destes que vem em forma de augúrios que somente a mente que viaja sem muletas – através da Abertura do Olho do Diabo e do Feitiço do Encanto que induz a voar – compreende:

Estava na cidade de Jerusalém, próximo à páscoa Judia, por volta do ano 23 ou 24, Israel estava sobre o domínio Romano. Havia rumores de que haveria um levante, pois um profeta Judeu havia sido preso e condenado a crucificação, o Governador Romano queria que sua morte fosse um espetáculo e assim levar terror, pavor e medo aos seus seguidores.

Meu pai havia armado sua tenda de Ferreiro fora dos muros da Cidade Santa, de certo modo, eu sabia que não era dali e que não tinha lugar ou pátria certa, pois quase sempre quem passava nos dirigia impropérios e cuspiam no chão, nos chamando de “Racas” e “Gitanis” ou algo assim. Nós éramos diferentes daquele povo, nossa pele era mais escura, devido ao forte sol e as mudanças de lugar, éramos um povo sem nação. Minha Mãe era uma escrava liberta Africana e meu Pai descendia de Judeus dispersos, mas tornara-se, como diriam hoje um adorador de imagens, porém, era um exímio ferreiro, fazia ídolos e tudo que o metal pudesse proporcionar. Não ligávamos para os xingamentos, desde que pagassem pelos serviços de ferreiro, e em tempos de festa religiosa como aquela, não nos faltavam pedidos e as moedas caiam e enchiam o baú de meu Pai. 

Foram tantas encomendas, que não havia mais metal para ser trabalhado, por volta de 03h00, fomos acordamos por um Centurião, que trazendo trinta moedas de pratas, ele disse simplesmente para o meu Pai, “...este é o preço da traição, tome e forje quatro pregos, agora!!!...”. De imediato, a forja foi acessa, e as pressas quatro pregos, estavam sendo forjados, martelo na bigorna, batendo o ferro em brasa, o sol já ia surgindo, enquanto três pregos estavam prontos, e um quarto na forja em brasa. O centurião interrompeu o trabalho do meu pai e disse, “o quarto, leve-o ao Monte Caveira” e saiu apressado, meu pai, com a pinça, mergulhou o quarto prego na água, mas ele não esfriou, pelo contrário fico incandescente, num descuido entrei na tenda e esbarrei em meu pai, ele deixou o prego cair e este afundou na terra e desapareceu. Meu pai assustou-se, e ordenou que fossemos embora depressa, enquanto o cortejo da crucificação saía, nós estávamos a caminho do Egito, antes da partida meu Pai jogou as trinta moedas de pratas no chão e disse, isto é preço de sangue de um justo. Estamos amaldiçoados. E toda vez que firmávamos a tenda em outro lugar, e já estava na hora de partir, o prego emergia de sob a terra, o prego que nunca esfria.  

Passaram as épocas, anos e décadas e em fim no seu leito de morte meu pai me disse: 

“...Filho, toda vez que o prego ressurgir – o prego que nunca esfria - mude de lugar, pois o perigo está por vir, sempre veja este augúrio, este é o teu sinal. Aquele que foi morto na cruz com os três pregos e MelekTaaus, ele é nosso parente por meio da linhagem de Qayinn, mas para este povo ele assumiu a forma do avatar de profeta judeu, e, para nós ele será sempre o Anjo-Pavão, o Deus Lobo, Azazel o Caído no Ventre da Virgem do Paraíso, segura o arco e a flecha que te garanta sustento e proteção, leva contigo espelho onde vemos o futuro e as cosias do outro mundo e é neste momento que é preciso, silenciar e ouvir a voz do Tempo, o fluxo e refluxo que Destino move e remove, no interior de cada um e seguir em frente. 

Fechou os olhos e foi-se habitar junto aos meus antepassados".

Quando o sonho ia já por fim, uma voz familiar - voz que não ouvia a mais de 15 anos – me trouxe de volta ao mundo do breu e....

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Texto construído a partir da reflexão de meu sonho, por isso o texto tornou-se mentiras símeis aos fatos... “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobri-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encobre " ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade.....
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[1] No folclorelicantropia é a capacidade ou maldição caída sobre um homem que se transforma em um lobo. Em psiquiatria, é um distúrbio onde o indivíduo pensa ser ou ter sido transformado em qualquer animal. O termo provém do grego lykánthropos (λυκάνθρωπος): λύκος, lýkos ("lobo") + άνθρωπος, ánthrōpos ("homem").

[2] Atavismo (do latim atavus, "ancestral") é o reaparecimento de uma certa característica no organismo depois de várias gerações de ausência. Em biologia, atavismo é uma reminiscência evolutiva, como reaparecimento de traços que tiveram ausentes em várias gerações. Pode ocorrer de várias maneiras. Uma maneira é quando genes para características previamente fenotípicas existentes são preservadas no DNA, e estes tornam-se expressar através de uma mutação que quer nocautear os genes primordiais para os novos traços ou fazer os traços antigos substituírem os atuais).
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Um comentário:

Danilo disse...

Verdade Gael! E ainda estamos entre o cinismo e ingenuidade. Nos 'seduziram' com dor e o martírio de homem, de homem que o chamaram de Deus!