O PREGO QUE NUNCA ESFRIA - PARTE III (1)
O DIÁRIO DE AZAZEL
PAGINAS 2145 A 2148
Desde que retornei da Cidade Industrial para as fronteiras das terras do marquês, um fenômeno passou a ocorrer, todas as madrugadas por volta das 03h da manhã, eu acordava sobressaltado, havia algo perturbando meu auto-exílio, eu sabia que aquilo não era normal, mas como havia fechado todos os portais de comunicação com o mundo do além-visível, com exceção da via-láctea ou mundos tântricos (2) e não conseguia detectar a fonte do contato.
Em mais uma dessas madrugadas levantei da cama fui direto para a cozinha e em pouco tempo já estava tomando uma xícara de café amargo e forte, refletindo - a sensação interna era de um incômodo profundo, como se algo estivesse a instigar-me a seguir - afinal, nunca fui fã da estabilidade quando se trata de Toponimidade (3).
Voltei a cama e sentei nela, já que o sono não chegava, toquei meus pés no chão frio - meus demônios-familiares estavam alertas ao meu lado - e displicentemente levei a mão e os olhos ao smartphone e num ato vicial fui vasculhar as redes sociais. De repente me dei conta, que estava me tornando normal, comum, que estava voltando aos velhos tempos da cegueira, em que o mundo meramente superficial, pseudo-visível-palpável era a única realidade conhecida.
De imediato, parei, respirei e percebi o Abel-ressurreto em minhas atitudes, o choque dessa percepção foi tão grande que congelei no tempo - Quem sou eu agora? - pensava e retoricamente respondia - eu era agora um limitador de mim mesmo - meu auto-exílio (4), criou na minha mente uma represa para aquilo que acumulei e que deveria fluir em torrentes criando elos.
Onde estava minha flama-negra, meu legado qaiynnita?
Só havia um forma de buscar resposta, reabrir os velhos portais e comungar com aqueles que jazem abaixo de nossos pés, cujo sangue regou esta terra de pindorama - ou seja, através da Abertura do Olho do Diabo (5) e do Feitiço do Encanto que induz a voar (6). Eu precisava voltar a penetrar os mistérios da iniciação (7).
Alguns dias depois, preparei o quanto era preciso para poder voar a noite e ir "Sabbat dos Feiticeiros", não sabia qual seria forma de recepção que teria do Aquerrale afinal eles sabiam da minha colaboração - mesmo que forçada - com os pálidos.
Aliás, a bem da verdade, meu auto-exílio era justamente por não querer enfrentar as consequências de minha colaboração com os sugadores de sangue. Sim, colaborei, com eles, por reter em minha alma ressentimentos com aqueles que ao meu ver foram omissos quando fui atacado pelos desgarrados.
Preparei o necessário para o võo licantrópico, deixei meus pequenos diabos-familiares (8) apostos - cantei o feitiço dancei a dança do atavismo ressurgente e o “lobo em mim” ressurgiu e nesta formar fui às campinas do diabo.
O mestre em pessoa veio me receber - Meu pequeno lobo rebelde- disse ele em tom alegre - bom tê-lo novamente aqui, a alcateia espera você. Todos temos uivado diante de Diana para você reassuma seu lugar.
Fui levado ao centro do círculo de sangue e comunguei com vivos e mortos, diabos e anjos e caídos. Quando cantava o feitiço de retornar para aquém do palpável, o Mestre interrompeu e disse - Vocẽ sabe que o prego nunca esfria, você precisa por fim ao seu exílio, chegou o tempo de novamente partir, existem outros que precisam ser despertados para quem são e qual a sua origem. Enquanto não partires nos veremos todos os dias 03h da madrugada. A resposta estava dada.
Acordei do sonho-dormindo-acordado na certeza de que não adianta jogar água fria sobre o prego, ele nunca esfriará e seguirá quente movimentando, agonizando, esquentando quem nasceu nômade como Caim e insiste em permanecer fixo - como um dos fantamas de Abel - assombrando e estagnando o próprio destino.
Recauculei a rota do exílio-auto-imposto, arranquei mapas mentais enraizados e coloquei meus ouvidos na terra e ouvir o chamado para ir adiante sob e sobre a cruz onde as almas me chamam e não posso reter-me mais...O prego nunca fria.
Autoria: Azazel Semjaza Qaiynn Lvnae
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O texto é uma ficção e como tal ele diz mentiras símeis aos fatos, “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobri-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encobre " ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade...
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https://azazelsemjaza.blogspot.com/2017/11/o-prego-que-nunca-esfria-parte-i.html e https://azazelsemjaza.blogspot.com/2019/04/o-prego-que-nunca-esfria-parte-ii.html;
Trata-se, na realidade, de uma tradição hindu de origem milenar, que se concentra na criação de uma conexão profunda e íntima entre o casal. O prazer tântrico é lento, meditativo e demorado. A proposta é que os praticantes da modalidade vivam o momento presente para aproveitar a jornada e as sensações em várias partes do corpo);
De topônimo: substantivo masculino Designação de um lugar, de uma região geográfica (rio, vila, cidade, povoação, país, logradouro):
Refere-se uma ténica usada para indução de mágica : https://azazelsemjaza.blogspot.com/2011/01/danca-das-bruxas-abrindo-o-olho-do.html;
Um texto referencial encontra-se em: https://www.tumblr.com/danibado/88799570714/o-unguento-de-voo-das-bruxas;
Para melhor compreensão: https://azazelsemjaza.blogspot.com/2011/03/corrente-dourada-e-o-caminho-solitario.html e https://azazelsemjaza.blogspot.com/2011/03/corrente-dourada-e-o-caminho-solitario.html;
O familiar é um espírito animal que compartilha um vínculo especial com uma bruxa, e atua como um companheiro leal.
3 comentários:
👏🏻👏🏻👏🏻
Desculpa a demora, afazeres tomaram meu tempo. Uma narrativa muito boa, leitura prazerosa. Você é um excelente escritor.
Obrigado, vindo de um Professor me sinto elogiado de verdade.
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