quinta-feira, 13 de junho de 2024

  O PREGO QUE NUNCA ESFRIA - PARTE IV


O DIÁRIO DE AZAZEL - PAGINAS 2149 A 2151


"Observe Cain, a tigela [2] do crânio cheia de sangue, ela mostrará a você àquilo que é velado ao profano, então por meio desta máscara [3] o Caminho do Dragão Vermelho lhes será desvelado, você precisa esta sonhando [4] para ver dentro desta tigela, e eu vou esperar por você lá [5] - “encoberto [6] na cortina carmesim, ocultado dos olhos dos que não podem ver. Segure este crânio e veja os espíritos que caminham com você, pela Ego-Transformação, na reunião dos caminhos [7], esta será para sempre a sua marca - seu pai, o Dragão – O mais Antigo dos Djinn, sempre caminhará com você, e em extasiada meditação vamos transcender com nossas mãos o barro mortal [8]. Você terá sede de água e de sangue [9]; isso acontecerá no sonho por meio da Gnosi Dual. Eu seguro a Taça Dourada para os seus lábios, aquela taça que contém o elixir do Forte Dragão - Eu então darei a você a tigela do crânio com o fluido de meu sangue, a fim de que você possa saborear a doçura amarga deste beijo vermelho [10] - depois dentro de você teu Ecstasy e teu Phalus diabólicos elevados na direção do sol serão as línguas da serpentes que você deve inflamar para mim... [11]


Quando coloquei meus ouvidos na terra e ouvir o chamado para ir adiante, e pisei sobre a cruz as almas sob ela acordaram. Então, clamei aos meus antepassados, aqueles que vieram degredados, aqueles foram cruelmente escravizados e aqueles que habitaram aqui antes da chegada do homem europeu e foram dizimados - todos de algum modo adentraram aos círculos dos sete reinos de Sua santidade [1] 

A dúvida assolou-me por completo – será que me ouviriam após tê-los despertados todos ao banquete de Um?

Como a insônia persistia, dormir a base de chá de mulungu e alface, estava evitando os remédios – sim estava tão humanizado que as vozes e visões que ouvia e via, pareceu-me esquizofrenia as vezes – Também estava evitando o vôo noturno, pois este me deixava muito exausto no dia seguinte. 

Dormir aquele sono inquieto, meu corpo rendeu-se ao efeito da sonolência da beberagem, mas minha mente e minha alma, perturbavam meu espírito.

E sem as muletas, fui catapultado até a mata aqui perto de casa, onde há uma árvore frondosa, que esta sempre verde e que serve para que todos os praticantes de feitiçaria da região deixem seus feitiços feitos ou despachados – ela é um portal, uma encruzilhada de acesso aos vários mundos da arte da feitiçaria - havia uma névoa que cobria o chão, era como uma nevoa sob a relva em noites frias e enluaradas numa campina.

Da névoa ela se ergueu de sob o solo, translúcida, claramente seu rosto em luz tênue mostrava uma metade da face de uma mulher e a outra de uma caveira, uma linda rosa vermelha adornava seus cabelos negros, sabia ser ela um espírito, mas na projeção de uma alma que eu reconheceria.

Eu a reconheci de imediato – Rosa Caveira! 

Lembrei-me que a ultima vez que nos vimos daquele jeito foi nos portais do além, dentro da calunga do setor “C” da Cidade Industrial, numa linda festa com todas as correntes ancestrais.

Quando em vida carnal, ela fora um Sacerdotisa dos Mistérios da Arte do Diabo, havia trilhado várias sendas e adentrado por diversos véus de mistérios que permeiam a humanidade. Seus poderes era sem comparação, ela não tinha medo do além, nem mesmo dos seres que projetavam imagens tão horrendas que jamais passariam pela cabeça dos roteiristas de filmes de terror de Hollywood e se algum deles, por mero acidente, encontrasse uma dessas formas demoníacas por certo perderia completamente a noção do juízo. Mas ela não, ela trava as sombras que se esgueiravam como filhos, todas elas lhes era servis e dóceis. 

Ela havia me dito que confiava nos seres sombris porquê foi traída pelos vivos e enterrada viva pelos seus próprios parentes e amigos que temiam seus poderes sobrenaturais.

Eu a saudei como de costume, chamando-a como sempre o faço em seu fetiche [12] de minha mãe Rosa.

Ela falou-me – Filho! Não vim hoje, como quem trabalha na feitiçaria, mas como quem te guia na estrada. A propósito a família do além-túmulo, aqueles que estão abaixo de teus pés no Campo Santo, te mandam saudações e todos nós estávamos cientes e orgulhosos de como você superou a querela com os desgarrados.

Não pude deixar de observar que mesmo em projeção e em forma diáfana, ela ainda, estava cercada com os seres sombrios – fantasmas sem carnes, puras caveiras, demônios familiares em forma de cachorros - tal qual Hécate e sua matilha de cães e fantasmas.

Ela continuou: Azazel há duas armadilhas no caminho: a primeira delas é quando se adentra os campos do além-nao-visto sem se saber quem se é. A propósito. Você sabe quem você  é hoje?

A pergunta dela me pegou de calças curtas, porque eu sabia que havia mais naquela pergunta do que a mera argüição de “saber quem se é” no sentido comum. Saber quem é se é, na pergunta dela, era maior que pergunta em si mesma, por que continha uma encruzilhada para qual eu não tenho qualquer resposta ou direção certa a seguir:

Eu refletia em silêncio - Quem eu sou, reflete uma angústia de eu não saber se já fui algo, se fui alguém ou se já fui ou funcionei de algum modo diferente do que sou ou funciono hoje, ou se o que eu era antes de ser hoje, foi de algum modo eu mesmo, em algum ponto da linearidade, ai surge a dúvida:

- Em algum ponto da linha temporal, eu fui eu de verdade ou o eu de verdade nunca se mostrou. Quem sou eu pra mim é qual importância de ser eu antes e eu agora para os micro-mundos que orbitam meu sistema solar social?  - Eu sou hoje uma síntese de tudo que já fui?  - Fiquei sem resposta a pergunta – Mas minha mente fervia na tentativa de entender saber quem se é.

Ela então como que adivinhando meu limite de entendimento e a falta de palavras para expressar a resposta, disse-me: “Saber quem se é, requer contatos com o não-visivel, com os seres, deuses e demônios de outras dimensões ou espaços tempos, que agem na intercessão, no ponto central da encruzilhada, entre o nosso mundo e o mundo deles. Lídar com tais espaços e seres fora do espectro visível do filho do barro é uma questão de domínio da mente, Um filho do fogo, um Cainnita, que busca o caminho tortuoso da serpente, que trás a marca da bruxa – o sinal do Diabo – por certo vai encontrar um mestre certo, que o ajudará a desenvolver seu atavismo ressurgente [13] e a alcançar seus potenciais ao ponto do discípulo poder interagir e a usar esses poderes a seu favor, isso claro se o noviço for  persistente, para saber quem se é. Como bem lembra Michael W. Ford [14]”:

 "Então eu andarei a pé até o caminho de fogo de meu ego, pois ele ainda assim chama por mim. Eu Não vou desistir, embora, Eu esteja cansado e com frio - Você não me dobrará! Mesmo que Eu deva enfrentar a escuridão na eternidade sozinho, Eu irei! Eu nunca desistirei"

Ela continuou – a Segunda armadilha é aquilo chamado “amor”. Por que o amor verdadeiro não é aquele da visão dos filhos de barro. Você sabe o sentido do amor [15] Azazel?

Assenti com a cabeça e completei:

- Por mais que para essa pergunta sobre a armadilha do amor haja uma respostas simples – amor é vontade, mas também é troca – a prática da resposta em si mesma é absurdamente difícil.

Ela olhou-me – seus olhos se destacavam naquela aparência quase que transparente – e disse:

- Sim! Pior que o ego-inflado é o ego ferido e abandonado pelo ser amado, quando o amor é encarado da forma que os filhos de Abel o projeta na sociedade. Esse tipo de ego é um ego iludido com as formas de amor que o demiurgo insuflou nos descendentes de Abel.

Olhando ainda friamente nos olhos, quase congelando-me, disse:

- Um filho do fogo deve sentir e viver o amor Bestial-Desejo-Ardente ou Luxuria pela deusa-diabo-dentro-si-mesmo, e jamais cair no mesmo erro dos vigilantes de amar - - incondicionalmente excluindo a vontade -  as belas filhas e filhos dos homens de barro. Os Arcontes caíram não pela Luxúria e desejo do de possuir e adentrar as entranhas das filhas e filhos de Abel e sim porque foram tragados pela armadilha de “amar-não-vontade-sem-troca”.  

Ela flutuou sobre a névoa e chegando mais perto murmurou: - Podemos possuir e adentrar ou ser adentrado nas e pelas entranhas dos filhos e filhas do barro, mas isto deve ocorrer com completo esvaziamento de emoções e sentimentos –  apenas por amor sob a vontade e desejo de Luxuria Bestial, onde o Anjo e a Besta-Daemon – tornam-se um só - alimentando-se da carne e do sangue-semêm dos filhos de abel. Se assim não for, se nos imaginarmos ou nos deixarmos cair, por um milésimo se quer de segundos, seremos equiparados ao barro, saímos perdendo e por vezes nos tornando, ao menos por algum tempo brasas encobertas por cinzas, e como os Arcontes-Vigilantes, que caírem num autoprisão – num loop de desejos biológicos-não antropofágicos, em palavras simples, o barro é nosso alimento e não nossos companheiros de amor. Eles nos servem, e devem servir sempre,

Após todos esses paradoxos, Ela disse:  Meu pequeno lobo, escolher o caminho de Caim pode levar-te a auto-deificação ou a loucura, mas qualquer que seja o resultado – isso dependeria das escolhas que você fizer – a conseqüência seria a solidão. Sorver a taça-crânio de Abel, requer renúncias e exílios, as vezes forçados, ora autoimpotos.

Eu senti naquele momento que o Mestre do Aquerrale já via levado a Rosa a minha situação de apego e resistência ao chamado do prego que nunca esfria.

Por fim antes de desaparecer ela disse:

- Meu conselho é: Tu deves: descobrir qual é a tua Vontade.  Fazer a tua Vontade com:  unidade de propósito; desprendimento; paz, ou seja, abdica do amor regado de sentimentalismo e retornado ao primeiro amor. Liberta quem te prende e serás livre das amarras do barro. Abana as brasas sobre as cinzas e verás a flama-negra ressurgir iluminado seu destino.

Acordei pensativo e de decisão tomada. O prego nunca esfria, a partida se aproxima...

Autoria: Azazel Semjaza Qaiynn Lvnae

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O  texto é uma ficção e como tal ele  diz mentiras símeis aos fatos, “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobri-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encobre " ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade...


[1] Ser Supremo, cuja compreensão encontra-se além de descrições e representações exotéricas’. Na Quimbanda brasileira este ser é chamado de Maioral ( ...) se trata de uma força ordenadora/coordenadora do Reino de Exu; o grande governante e mantenedor daquele reino, que rege as legiões de Exus e Pombagiras; o vórtice central cuja energia se expande ou se concentra através da ação de Exu e Pombagira (...) seria algo – num pensamento mais moderno - equivalente ao conceito de “Sagrado Anjo Guardião (...)  algo como uma consciência deificada do praticante/adepto.;

[2] Tigela, cavidade, cuia, taça, feitos com o crânio (Gael).

[3] O autor usa a palavra “VEIL” que significa: véu, manta, xale, máscara, vendar, cobrir, capa, disfarce, manto, máscara (Gael).

[4] Hipynogogia, sonho induzido,(Gael).

[5] Depois do Véu do Sonho. (Gael)..

[6] O Autor usa no texto a palavra “CAULED”, óbvio erro de grafia, pois não é uma palavra da língua inglesa antiga  ou “Old Use Inglesh” , a palavra correta deveria ser  “CLAD” significando: encoberto, coberto, vestido, ocultado; esta última não pode ser usada devido a tê-la no contexto da frase (Gael)

[7] QTUB – o Centro, o ponto da Encruzilhada (Gael).[8] Ao pé da letra seria: “e em extasiada meditação vamos passar através do barro de mãos mortais"

 (Gael).

[9] Este parte do mistério revelado por detrás do “Vinho Tinto de Sangue": Acrescento que conforme “Ela” quer não pode ser nomeada me disse: 1) Quando usado do Sacramento de União, em partes privadas, evoca-se este aspecto de Qayin; 2) de forma pública isto deve ser feito pela  unão da taça e punhal para manter a máscar;3);  originalmente, a consumação privada era feita no crânio do “Senhor dos Dois Séculos”, com o adveto dos tempos modernos isto foi, substituido pelos Chifres do Bode ou Touro e hoje em dia pelos motivos já citados (2) pela taça e punhal. (Gael).

[10] O Autor usa a palavra “coppered” que vêm de “copper: significando Cobre”, portanto o sentido da palavra pelo contexto (sangue/vermelho)  é acobreado, no sentido de cor avermelhada que se assemelha à cor de cobre polido; ou metálico, o que ligaria Qayinn a Tubal-Qayinn e aos Mistérios dos Metais; também pode estar ligado a cor da brasa, o que ligaria Qayinn ao povo do Fogo, já que a brasa tem a cor semelhante a cobre. (Gael).

[11] The Book ff Cain” by Michael W. Ford  - Tradução completa  e adaptada para o português do Brasil por Lvpercvs Gael Azazel Semjaza Qaynn Lvnae do Corvo Sagrado e Ervs Dionisivs Saklas Lvnae do Corvo Sagrado, usado nos círculos internos da casa dos Corvos Sagrados;

[12]  Fetiche era palavra atribuída a um objeto enfeitiçado, que eram adorados ou que eram utilizados em cultos religiosos, em geral nos de origem africana, também se refere a assentamento.

[13] Em resumo, o atavismo é um fenômeno fascinante que mostra como características ancestrais podem ressurgir em um organismo após várias gerações. Ele desafia a ideia de que a evolução é um processo linear e progressivo, mostrando que a diversidade genética e os mecanismos genéticos podem levar ao reaparecimento de características antigas.;

[14] The Book of Cain.

[15] (...) Amor aqui traduz  (...) a Vontade é a Lei, a natureza dessa Vontade é Amor. Mas este Amor é como que um sub-produto daquela Vontade; não contradiz nem sobrepuja aquela Vontade; e se em qualquer crise uma contradição se erguer, é a Vontade que nos guiará corretamente. (...), não existe nele nada de Sentimentalismo. O Ódio mesmo é quase como o Amor! (...). O Amor (...) é sempre ousado, viril, mesmo orgiástico. (...) em outras palavras (...)Tu deves: (1) Descobrir qual é a tua Vontade. (2) Fazer a tua Vontade com: (a) unidade de propósito; (b) desprendimento; (c) paz. (Liber II - A Mensagem do Mestre Therion - Publicação da AA em Classe E - raduzido por Frater Adjuvo. (fonte; A Mensagem do Mestre Therion (hadnu.org)

 

10 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom

Anônimo disse...

Queria ter esse dom de me expressar tão bem com a escrita, sem palavras adorei

Anônimo disse...

Sete Reinos ligado a sete universos e também a sete chacras conecta a forma mortal humana, o texto demonstra facilmente o dragão interno que carregamos. O núcleo da terra, o magnetismo, me pergunto ? depois do magnético fundo da terra que os principais noticiários reportam e criam suas notas. O que é está acontecendo ? O Sol saindo máscaras coronais ou névoa escura, pra voltar o brilho de uma estrela, lestrela qual é ligado sempre a Orion ou Sírius do céu Neptuno e escuro, constelações mas visíveis da terra. O magnético a mãe Gaya ajuda e colabora com os filhos escolhidos do zodíaco, apresenta ao teu pai, resolva-se na sua estelar pois esse portal não te pertence e não convém de sua energia.
Passei do portal do Lúcifer sair do The wanking dead e fui responsável em chamar atenção do Criador da Mitologia Grega e me faz a minha Cicriacao. Lembro como hoje dentro de uma porta criando simbologia com o sagrado e geometria e perguntei ao velho Oddin
Lúcifer e a Caveira não irei ficar entre a Matrix e o Covid, em imediato uma teia plástica foi desfazendo do meu rosto e rompendo da Matrix e saindo desse entrelaçados me colocando e moldando meu ser para uma cápsula ou Nave.

E agora entendo ou você é player e imagem semelhança de Deus ou do homem ligado a tecnologia.
Alguém querendo dominar o mundo, se fazendo de rei, achando o poder o dinheiro infinito.

Vou nessa nave e irei pra outra constelação, carrego o Universo como astronauta cósmico, quando chegar ao alinhamento, para um reino dentro do outro o .indo se expandindo se dilatando e voltando a normalidade. Religando a árvore genealógica todo o Cosmo e 12 constelações se apresentando e sendo realinhadas.

E nada é por acaso, do sobrenatural desconhecido para a progressão humana como Rei Salomão ou príncipe Gengiskan da descendência de Aquiles e Hércules. Amorosidade para o planeta, a conta é fácil, o verdadeiro Ultimato como no filme dos Vingadores quando a metade da humanidade foi embora ou Volta ?

ANTINOMIAS DE AZAZEL disse...

Mano, agradeço, mas o texto fala de tomada de decisões, de escolher seguir em frente ouvindo o sussurro dos antepassados ou ficar estagnado na mestiça do vitimismo.

ANTINOMIAS DE AZAZEL disse...

Ele está aí, dentro de você, basta achar o caminho certo, a forma de expressar o que sente, usando a linguagem de duas experiências em vários mundos.

ANTINOMIAS DE AZAZEL disse...

Ele está aí, dentro de você, basta achar o caminho certo, a forma de expressar o que sente, usando a linguagem de duas experiências em vários mundos.

ANTINOMIAS DE AZAZEL disse...

Gratidão.

Áxis disse...

O jeito como você se expressa com palavras é incrível. Sou seu fã 👏🏻👏🏻

Áxis disse...

Acho incrível a forma como consegue se expressar com as palavras. Sou seu fã. 👏🏻👏🏻

ANTINOMIAS DE AZAZEL disse...

Obrigados