quarta-feira, 18 de setembro de 2013

COMENTÁRIO AO ENSAIO: THE GOLDEN ESSENCE

Após a transliterar (e não traduzir) o ensaio THE GOLDEN ESSENCE: Craft Mythology and the Deep Theology of the Housle de Robin Artisson (2004) para a língua portuguesa do Brasil, o que notamos nas primeiras páginas, é que a natureza é um modelo perfeito do reflexo do Espelho do Ego, que ela ao contrário do que os pagãos modernos pensam, não revela à Deusa da natureza, que faz as coisas brotarem, ela revela a essência humana, aquela essência presa nas mais escuras cavernas da psique humana (local da verdadeira queda da Luz de Nosso Senhor).

Ele fale ainda de relance acerca de como o renovação foi entendida em seus primórdios pelos humanos, e da percepção do homem antigo dos processos da natureza como análogo aos da vida da tribo ou clã. Concordamos com isso, porém, teorizamos que o processo como algo inerente a busca pelo Ego de fogo, deu-se posteriormente, pois o lógico é que o sentido de renovação dos animais (após a domesticação) e do plantio (após o domínio da agricultura), e o observar, entender e interagir com o clima e demais processos da natureza toda ao redor, foi um questão de sobrevivência da espécie. 

Ele continua relatando a necessidade de mudança da perspectiva da realidade, exprimindo, que é preciso procurar o foco de uma visão não linear, de um tempo não cronológico para a prática dos Ritos e para o viver o Ofício. 

Ao se referi ao Housle ou Banquete, o texto deixa claro que este é um ato básico da Arte, não em sua forma externa, mas na sua essência mistérica, pois discorre sobre os processos do grão e do fruto, como sendo análogos aos processos de ordálias que levam a transcendência do barro mortal. 

Se analisarmos as etapas da semente temos:

Em primeira estância os atos simples de preparar a terra, cavar a cova, jogar a semente, bem como, o desafio de cuidar do processo de crescimento do broto, evitando sua morte biológica prematura, as pragas e doênças, limpando o solo ao redor e fazendo todos os atos necessários para que no futuro aquilo que era inerte, dê frutos e a vida prossiga, ou seja, que Destino se cumpra (e o círculo nunca se feche).

Em segunda Estância, percebemos, que esses processos, quando encarados, sob e sobre, o prisma do Espelho do Ego, dentro da área de sangue e na vida cotidiana, reflete perfeitamente, a necessidade de mudança auto-assistida, ou auto-policiada do Adepto, ou seja, leva-o a refletir sobre sua vida e sobre as necessidades reais de trabalhar a magia da auto-transformação, preparando o corpo e a mente, para encarar a cova ou descida aos infernos de mapas enraizados, ali mesmo, nas escuras cavernas infernais onde demônios, habitam, sim, demônios reais (pois as portas para Areruza ou Hades, a chave para o lugar do pesadelo, é e são as profundidades da mente) e onde também estão presos os demônios psicológicos (veículos de atuação dos reais) criados por forças caóticas, que necessitam de candeias e algemas, pois sua liberação desenfreda colocaria a mente e o corpo (e possivelmente as pessoas ao redor) em um processo de destruição prematuro e desnecessário, como bem lembra o Michael W. Ford “muitas vezes somos os nossos piores inimigos”. A própria Bíblia, se encarada não como um livro teológico ( e se não tocar seu mapa enraizada de rede de segurança), mas como escritos que ao longo do tempo, teve encaixado em seu bojo, verdades veladas, corrobora com isso, assim lemos:

Em: Judas 6: “ E aqueles Anjos, que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio nos céus, Deus tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande Dia”.

É certo que quando decidimos buscar os mistérios, devemos nos preparar para encararmos a parte expulsa para o "Id", ou seja, aquilo que é rejeitado pela sociedade e por nós mesmos (os demônios). 

Os Demônios ou Daemons são essa parte sombria, esses lobisomens, esses vampiros, esses fantasmas, esses bichos-papões, esses traumas mau resolvidos, que são parte de nossa essência mais profunda e estão presos em cadeias eternas e que podem nos assombrar eternamente, por isso a Arte não é caminho para o vulgo, pois pode levar tanto a auto-transformação como a loucura e a morte. 

O texto fala-nos em suas linhas introdutórias da necessidade de“consciência” plena para tirarmos o máximo de benefício dos mistérios, e que os mistérios são uma questão de “consciência” e profunda realização e não se resumem a ritos iniciáticos, pois a verdadeira iniciação é feita sob e sobre a cruz, onde a rosa sangra até a morte, a iniciação se processa, sob e sobre, o “Tau” da Serpente, erguida ao sol, isso também pode ser visto, no broto, que inicia sua vida no plano linear, ao erguer-se da escura terra, após suas raízes procurarem as profundezas para alimentar-se. 

Como a semente que habita o limiar ou fronteira entre o que visto e não visto, ou seja, sob e sobre, a terra (acima e abaixo), e como suas raízes depois do Brotar caminha mais profundamente em direção ao que não é vista, a alma de um Lvnae, que é uma Alma Luciferiana e Cainnita, que pertence ao não visto, ao invisível, deve procurar no profundo poço de Caim, a Negra Magia de Lilith e Naámah, onde a Luz está, para poder erguer-se e a cada encontro com a Rainha de Elphame e sua Mãe-Escura.

A Alma Lvnae continua profundamente descendo para sorver aquilo que é necessário à sua existência em Destino, ou seja, o Fogo Sábio, aquela essência sagrada que permeia todas as coisas e está no coração da realidade de todas as coisas. 

Mas, vale um alerta, absorver o dejeto da psiquê, que o mundo de padrões humanos legou as partes mais profundas da mente, tendo o super-ego como Guarda, que cuida de manter sob eterna vigilância aquele local, para que os demônios não coloquem as forças do caos em ação e destruam a sociedade ou mundo humano, não significa ser escravizado por elas, ou tentar dominá-las, como alguns Magos medievais e modernos tentaram (e alguns pseudos ocultistas e exotéricos ainda tentam), e pagaram o preço terrível, pois esses poderes infernais ao cofrontarem-se com as forças das correntes do mundo da ordem, foram exorcizadas, e não tendo vasão livre, voltaram-se contra seu libertador. 

O que instamos, é a necessidade unir na consciência o bem e o mal, ou o Anjo e a Besta. Ao tocarmos no Jardim do Paraíso, cabe-nos expressar, uma compreensão pessoal a cerca da expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden, com o que dizemos a cima, assim em Gênesis 3.24, lemos:

• “E o Senhor expulsou-os (Adão e Eva); e colocou ao oriente do jardim do Éden querubins armados de uma espada flamejante, para guardar o caminho da árvore da vida”.

Ora, se levarmos em conta que o Jardim do Éden era o local de Luz e Delícias, e nele haviam toda sorte de animais e bestas, tanto da terra, como do ar, das águas e de baixo da terra, bem como, toda espécie de plantas, grãos, árvores, tubérculos e frutos, que alimentavam curavam (Anjo/Sublime), devemos por analogia, perceber que ele tinha ( e tem) seu lado oculto, seu limite ou fronteira de Sombra, Desgostos e de Morte (Besta/Sombra/Demônios). Devemos supor, sem pestanejar, que o Éden, que ele contém um simil além da fronteira, onde esconde em seu interior aquilo que é proibido, antinominiano, anti-moral, aquilo que entorpece e mata, pois Nosso Senhor o Diabo, como a Serpente da Tentação, habita bem no meio deste paraiso-infernal. 

Assim, o Jardim se torna um símbolo da psiquê humana e os Querubins, com suas espadas flamejantes (do oriente ao Ocidente - Nascer e Morrer) podem ser encarados como uma simbólica dos do Caminho Cruzado e uma imagem arcaica do super-ego. 

Os Querubins (como o super-ego) impedem o acesso do ser humano a este reino, pois dentro da psiquê ou Jardim do Éden há tudo que pode dar vida e morte (oriente/ocidente), em sentido iniciático e em sentido real. 

Somente, aqueles marcados, somente aqueles que carregam o Sangue da Serpente e andam sobre o Caminho do Dragão, os proscritos, os peregrinos da Noite, os assassinos de si-mesmo, como os Lvnae's são, tem acesso a este lugar, porque a estes a promessa de Deus à Caim está viva e forte em cada gota de sangue de fogo Lvnae, e nem mesmo os Querubins podem ferir Caim (a psiquê do buscador que transcendeu o barro mortal), conforme a promessa Divina em Gênesis 4;14 e 15:

• “Eis que me expulsais agora deste lugar, e eu devo ocultar-me longe de vossa face, tornando-me um peregrino errante sobre a terra. O primeiro que me encontrar, matar-me-á.” E o Senhor respondeu-lhe: “Não! Mas aquele que ferir ou tentar matar Caim será punido sete vezes.” O Senhor pôs em Caim um sinal, para que, se alguém o encontrasse, não o matasse ou ferisse”...

Voltando ao foco do comentário em si, o que podemos perceber é que quando encaramos a natureza, como sendo, o verdadeiro espelho do ego (com seus processos de destruição, caos, ordem, renovação, ou seja, em constante mudanças e transformações, mas sendo essencialmente a mesma, como a planta é em essência outra coisa, porém também é a semente), e não como uma Deusa Bonachona de Luz e Beleza (porque nunca queremos ver o lado maligno da natureza e nem aceitarmos nosso lado sombrio, buscamos sempre o Bode Expiatório), percebemos a diferença de consciência entre um Bruxo do Caminho sem Nome e aqueles que teimam em nominar-se Bruxos neo-pagãos. 

Essa diferença se mostra mais clara, quando nós temos a coragem de descer as profundezas infernais (como as raízes que nascem do broto) e encarar Nosso Senhor da Morte, não apenas de forma símbolica, como fazem alguns pagãos em relação a Descida da Deusa, mas de forma real, vívída, lúcida, pois sentimos o açoite dele em Nossa Pele, ardendo dia após dia. 

Quando nós Lvnae's sorvemos a destruição de nosso invólucro (como a pele que recobre a semente) e somos expostos (encaramos aquilo que somos e refletimos em nossa mente e em nossas ações) a morte ou iniciação se processa de forma excruciante, demorada, lenta, e, dentro desse processo alinear, cada momento é sentido e vivenciado em sua plenitude. Após isso, erguemo-nos, como a Deusa (e o broto) no Espelho do Ego, renovados e restaurados, desse Inferno iniciático, psicológico e físico que as ordálias nos levam– Fazemos Novas todas as Coisas. 

E é isso que o Banquete ou Bodo nos revela, a renovação tanto dos vivos, como dos Mortos, ou seja, um rito que garante o cumprimento da promessa de renascimento dentro do Sangue e do Clã.
O Texto nos deixa entender, que a mudança de foco da realidade é a chave que é garantida por São Pedro, ou seja, o que é necessário para a transformação, não somente a forma ritual ou as pantomimas iniciáticas, mas o processo total acontecendo de forma alinear, não padronizada pela ordem, ou seja, que despertamos para a consciência no Aqui e Agora. 

E o que podemos tirar de lição para nós, tendo o texto proposto como base?

Que o Banquete é o exemplo clássico que ensina em sua essência acerca do mistério da transformação e renovação, que ele é uma porta de acesso a mudança da percepção da realidade. Assim, insistimos, na concordância com as primeiras linhas introdutórias do texto de Robin Artisson, no sentido de sua importância para renovar os Mortos, pois a recompensa é o despertar para os mistérios, é o viver os Ritos da Arte de forma plena e de sermos porta para a renovação da vida (renascimento) pela transcarnacionalidade do povo pálido. Em síntese, a introdução é simples e perfeita, como um explicação básica de todos os mistérios.
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Usamos a versão em língua portuguesa para estudos internos do Clã, Caso haja interesse, analisaremos a possibilidade de disponibilizar a versão em português APENAS para uso pessoal. É terminantemente proibida a publicação do Ensaio em qualquer idioma, por qualquer meio sem a expressa autorização do autor (Robin Artisson).

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