Após a
transliterar (e não traduzir) o ensaio THE GOLDEN ESSENCE: Craft Mythology and the
Deep Theology of the Housle de Robin Artisson (2004) para a língua portuguesa
do Brasil, o que notamos nas primeiras páginas, é que a natureza é um modelo
perfeito do reflexo do Espelho do Ego, que ela ao contrário do que os pagãos
modernos pensam, não revela à Deusa da natureza, que faz as coisas brotarem,
ela revela a essência humana, aquela essência presa nas mais escuras cavernas
da psique humana (local da verdadeira queda da Luz de Nosso Senhor).
Ele fale
ainda de relance acerca de como o renovação foi entendida em seus primórdios
pelos humanos, e da percepção do homem antigo dos processos da natureza como
análogo aos da vida da tribo ou clã. Concordamos com isso, porém, teorizamos
que o processo como algo inerente a busca pelo Ego de fogo, deu-se
posteriormente, pois o lógico é que o sentido de renovação dos animais (após a
domesticação) e do plantio (após o domínio da agricultura), e o observar,
entender e interagir com o clima e demais processos da natureza toda ao redor,
foi um questão de sobrevivência da espécie.
Ele
continua relatando a necessidade de mudança da perspectiva da realidade,
exprimindo, que é preciso procurar o foco de uma visão não linear, de um tempo
não cronológico para a prática dos Ritos e para o viver o Ofício.
Ao se
referi ao Housle ou Banquete, o texto deixa claro que este é um ato básico da
Arte, não em sua forma externa, mas na sua essência mistérica, pois discorre
sobre os processos do grão e do fruto, como sendo análogos aos processos de
ordálias que levam a transcendência do barro mortal.
Se
analisarmos as etapas da semente temos:
Em
primeira estância os atos simples de preparar a terra, cavar a cova, jogar a
semente, bem como, o desafio de cuidar do processo de crescimento do broto,
evitando sua morte biológica prematura, as pragas e doênças, limpando o solo ao
redor e fazendo todos os atos necessários para que no futuro aquilo que era
inerte, dê frutos e a vida prossiga, ou seja, que Destino se cumpra (e o
círculo nunca se feche).
Em
segunda Estância, percebemos, que esses processos, quando encarados, sob e
sobre, o prisma do Espelho do Ego, dentro da área de sangue e na vida
cotidiana, reflete perfeitamente, a necessidade de mudança auto-assistida, ou
auto-policiada do Adepto, ou seja, leva-o a refletir sobre sua vida e sobre as
necessidades reais de trabalhar a magia da auto-transformação, preparando o
corpo e a mente, para encarar a cova ou descida aos infernos de mapas
enraizados, ali mesmo, nas escuras cavernas infernais onde demônios, habitam,
sim, demônios reais (pois as portas para Areruza ou Hades, a chave para o lugar
do pesadelo, é e são as profundidades da mente) e onde também estão presos os
demônios psicológicos (veículos de atuação dos reais) criados por forças caóticas,
que necessitam de candeias e algemas, pois sua liberação desenfreda colocaria a
mente e o corpo (e possivelmente as pessoas ao redor) em um processo de
destruição prematuro e desnecessário, como bem lembra o Michael W. Ford “muitas
vezes somos os nossos piores inimigos”. A própria Bíblia, se encarada não como
um livro teológico ( e se não tocar seu mapa enraizada de rede de segurança),
mas como escritos que ao longo do tempo, teve encaixado em seu bojo, verdades
veladas, corrobora com isso, assim lemos:
Em: Judas
6: “ E aqueles Anjos, que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram
o seu próprio domicílio nos céus, Deus tem guardado sob trevas, em algemas
eternas, para o juízo do grande Dia”.
É certo
que quando decidimos buscar os mistérios, devemos nos preparar para encararmos
a parte expulsa para o "Id", ou seja, aquilo que é rejeitado pela
sociedade e por nós mesmos (os demônios).
Os
Demônios ou Daemons são essa parte sombria, esses lobisomens, esses vampiros,
esses fantasmas, esses bichos-papões, esses traumas mau resolvidos, que são
parte de nossa essência mais profunda e estão presos em cadeias eternas e que
podem nos assombrar eternamente, por isso a Arte não é caminho para o vulgo,
pois pode levar tanto a auto-transformação como a loucura e a morte.
O texto
fala-nos em suas linhas introdutórias da necessidade de“consciência” plena para
tirarmos o máximo de benefício dos mistérios, e que os mistérios são uma
questão de “consciência” e profunda realização e não se resumem a ritos
iniciáticos, pois a verdadeira iniciação é feita sob e sobre a cruz, onde a
rosa sangra até a morte, a iniciação se processa, sob e sobre, o “Tau” da
Serpente, erguida ao sol, isso também pode ser visto, no broto, que inicia sua
vida no plano linear, ao erguer-se da escura terra, após suas raízes procurarem
as profundezas para alimentar-se.
Como a
semente que habita o limiar ou fronteira entre o que visto e não visto, ou
seja, sob e sobre, a terra (acima e abaixo), e como suas raízes depois do
Brotar caminha mais profundamente em direção ao que não é vista, a alma de um
Lvnae, que é uma Alma Luciferiana e Cainnita, que pertence ao não visto, ao
invisível, deve procurar no profundo poço de Caim, a Negra Magia de Lilith e
Naámah, onde a Luz está, para poder erguer-se e a cada encontro com a Rainha de
Elphame e sua Mãe-Escura.
A Alma
Lvnae continua profundamente descendo para sorver aquilo que é necessário à
sua existência em Destino, ou seja, o Fogo Sábio, aquela essência sagrada que
permeia todas as coisas e está no coração da realidade de todas as
coisas.
Mas, vale
um alerta, absorver o dejeto da psiquê, que o mundo de padrões humanos legou as
partes mais profundas da mente, tendo o super-ego como Guarda, que cuida de
manter sob eterna vigilância aquele local, para que os demônios não coloquem as
forças do caos em ação e destruam a sociedade ou mundo humano, não significa
ser escravizado por elas, ou tentar dominá-las, como alguns Magos medievais e
modernos tentaram (e alguns pseudos ocultistas e exotéricos ainda tentam), e
pagaram o preço terrível, pois esses poderes infernais ao cofrontarem-se com as
forças das correntes do mundo da ordem, foram exorcizadas, e não tendo vasão
livre, voltaram-se contra seu libertador.
O que
instamos, é a necessidade unir na consciência o bem e o mal, ou o Anjo e a
Besta. Ao tocarmos no Jardim do Paraíso, cabe-nos expressar, uma
compreensão pessoal a cerca da expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden, com o
que dizemos a cima, assim em Gênesis 3.24, lemos:
• “E o
Senhor expulsou-os (Adão e Eva); e colocou ao oriente do jardim do Éden
querubins armados de uma espada flamejante, para guardar o caminho da árvore da
vida”.
Ora, se
levarmos em conta que o Jardim do Éden era o local de Luz e Delícias, e nele
haviam toda sorte de animais e bestas, tanto da terra, como do ar, das águas e
de baixo da terra, bem como, toda espécie de plantas, grãos, árvores,
tubérculos e frutos, que alimentavam curavam (Anjo/Sublime), devemos por
analogia, perceber que ele tinha ( e tem) seu lado oculto, seu limite ou
fronteira de Sombra, Desgostos e de Morte (Besta/Sombra/Demônios). Devemos
supor, sem pestanejar, que o Éden, que ele contém um simil além da fronteira,
onde esconde em seu interior aquilo que é proibido, antinominiano, anti-moral,
aquilo que entorpece e mata, pois Nosso Senhor o Diabo, como a Serpente da
Tentação, habita bem no meio deste paraiso-infernal.
Assim, o
Jardim se torna um símbolo da psiquê humana e os Querubins, com suas espadas
flamejantes (do oriente ao Ocidente - Nascer e Morrer) podem ser encarados como
uma simbólica dos do Caminho Cruzado e uma imagem arcaica do super-ego.
Os
Querubins (como o super-ego) impedem o acesso do ser humano a este reino, pois
dentro da psiquê ou Jardim do Éden há tudo que pode dar vida e morte
(oriente/ocidente), em sentido iniciático e em sentido real.
Somente,
aqueles marcados, somente aqueles que carregam o Sangue da Serpente e andam
sobre o Caminho do Dragão, os proscritos, os peregrinos da Noite, os assassinos
de si-mesmo, como os Lvnae's são, tem acesso a este lugar, porque a estes a
promessa de Deus à Caim está viva e forte em cada gota de sangue de fogo Lvnae,
e nem mesmo os Querubins podem ferir Caim (a psiquê do buscador que transcendeu
o barro mortal), conforme a promessa Divina em Gênesis 4;14 e 15:
• “Eis
que me expulsais agora deste lugar, e eu devo ocultar-me longe de vossa face,
tornando-me um peregrino errante sobre a terra. O primeiro que me encontrar,
matar-me-á.” E o Senhor respondeu-lhe: “Não! Mas aquele que ferir ou tentar
matar Caim será punido sete vezes.” O Senhor pôs em Caim um sinal, para que, se
alguém o encontrasse, não o matasse ou ferisse”...
Voltando
ao foco do comentário em si, o que podemos perceber é que quando encaramos a
natureza, como sendo, o verdadeiro espelho do ego (com seus processos de
destruição, caos, ordem, renovação, ou seja, em constante mudanças e
transformações, mas sendo essencialmente a mesma, como a planta é em essência
outra coisa, porém também é a semente), e não como uma Deusa Bonachona de Luz e
Beleza (porque nunca queremos ver o lado maligno da natureza e nem aceitarmos
nosso lado sombrio, buscamos sempre o Bode Expiatório), percebemos a diferença
de consciência entre um Bruxo do Caminho sem Nome e aqueles que teimam em
nominar-se Bruxos neo-pagãos.
Essa
diferença se mostra mais clara, quando nós temos a coragem de descer as
profundezas infernais (como as raízes que nascem do broto) e encarar Nosso
Senhor da Morte, não apenas de forma símbolica, como fazem alguns pagãos em
relação a Descida da Deusa, mas de forma real, vívída, lúcida, pois sentimos o
açoite dele em Nossa Pele, ardendo dia após dia.
Quando
nós Lvnae's sorvemos a destruição de nosso invólucro (como a pele que recobre a
semente) e somos expostos (encaramos aquilo que somos e refletimos em nossa
mente e em nossas ações) a morte ou iniciação se processa de forma excruciante,
demorada, lenta, e, dentro desse processo alinear, cada momento é sentido e
vivenciado em sua plenitude. Após isso, erguemo-nos, como a Deusa (e o broto)
no Espelho do Ego, renovados e restaurados, desse Inferno iniciático,
psicológico e físico que as ordálias nos levam– Fazemos Novas todas as
Coisas.
E é isso
que o Banquete ou Bodo nos revela, a renovação tanto dos vivos, como dos
Mortos, ou seja, um rito que garante o cumprimento da promessa de renascimento
dentro do Sangue e do Clã.
O Texto
nos deixa entender, que a mudança de foco da realidade é a chave que é
garantida por São Pedro, ou seja, o que é necessário para a transformação, não
somente a forma ritual ou as pantomimas iniciáticas, mas o processo total
acontecendo de forma alinear, não padronizada pela ordem, ou seja, que
despertamos para a consciência no Aqui e Agora.
E o que
podemos tirar de lição para nós, tendo o texto proposto como base?
Que o
Banquete é o exemplo clássico que ensina em sua essência acerca do mistério da
transformação e renovação, que ele é uma porta de acesso a mudança da percepção
da realidade. Assim, insistimos, na concordância com as primeiras linhas
introdutórias do texto de Robin Artisson, no sentido de sua importância para
renovar os Mortos, pois a recompensa é o despertar para os mistérios, é o viver
os Ritos da Arte de forma plena e de sermos porta para a renovação da vida
(renascimento) pela transcarnacionalidade do povo pálido. Em síntese, a
introdução é simples e perfeita, como um explicação básica de todos os
mistérios.
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Usamos a versão em língua portuguesa para estudos internos do Clã, Caso haja interesse, analisaremos a possibilidade de disponibilizar a versão em português APENAS para uso pessoal. É terminantemente proibida a publicação do Ensaio em qualquer idioma, por qualquer meio sem a expressa autorização do autor (Robin Artisson).
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Usamos a versão em língua portuguesa para estudos internos do Clã, Caso haja interesse, analisaremos a possibilidade de disponibilizar a versão em português APENAS para uso pessoal. É terminantemente proibida a publicação do Ensaio em qualquer idioma, por qualquer meio sem a expressa autorização do autor (Robin Artisson).
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