sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

PRIMAVERA - UMA FESTA DE ASCENSSÃO DE NOSSA SENHORA DA INICIAÇÃO NO ESPELHO DO EGO

1. A PRIMAVERA – RESUMO.
A Festa da Primavera, comemorada entre os dias 21 e 22 de Setembro é um momento que marca para a comunidade neo-pagã do hemisfério Sul, o despertar da Terra de sua letargia do Inverno (qual?), o sol encontra-se diretamente sobre o equador, trazendo luz e trevas em igualdade, ou seja, noite e dia tem as mesmas durações míticas. Esse Festival marca o momento do plantio (para quem?) e do germinar, bem como, do crescimento dos primeiros brotos (de que lugar?), além disso, ele assinala o desabrochar das flores (onde?) que anuncia a Ascensão ou retorno da Deusa (Lua) em sua face de Donzela Primaveril, como a Jovem corça que busca o Gamo Rei. O Deus Chifrudo tornou-se um belo Jovem (Sol) e suas forças se refletem na vitalidade e crescimento das plantas.

No hemisfério Norte, a data é comemorada entre 21 e 22 de Março, o que coincide com o período da Páscoa Cristã e com as implicações do Coelhinho da Páscoa e seu simbolismo pagão atrelado ao mito da Deusa Eoster, por isso nesse período são decorados os tradicionais ovos que são distribuídos entre os Adeptos simbolizando a fertilidade e esperança de colheitas e procriações melhores (???). Outro tema que é apresentado é o prenuncio do Casamento Sagrado da Jovem Deusa da Lua com seu filho Deus do Sol (Beltane), que acontecerá em breve, pois ela o está seduzindo, fazendo-o sonhar com o doce sabor do Hierosgamus. Em breve o Verão chegará e com ele toda plenitude da Luz será sentida.

2. A PRIMAVERA - POR DETRÁS DA ASCENSSÃO DA DEUSA.
A Bruxaria como um culto mistérico, de existência histórica e com reminiscências nos diversos folclores e ethos, com ou sem distorções de seus detratores, desafetos e estudiosos eruditos, sempre obteve o “status quo” de arte ambígua, ou melhor, de ser ou poder ser utilizada para o “bem”(Luz) ou “mal”(Trevas) (de acordo com a moral religiosa vigente). No inicio da idade média, por exemplo, apesar das já manifestas perseguições, para o senso comum, ela era uma remediadora das mazelas sociais e resolutora de problemas pessoais e sentimentais, onde o poder público, cientifico ou religioso não tinham respostas ou negavam-se a realizar o que deveriam.

“...Se um filho estava doente e a família sem recursos para consultar um médico (que quase nunca tinha solução), recorria-se a Sorcery que com seus conhecimentos podia curar ou não; Se um marido estava rejeitando a mulher, trocando-a por amantes, esta independente da posição social, nível cultural ou fé, se embrenhava pela noite a fim de consultar a Bruxa, para que essa lhe remediasse esse mal, devolve-lhes o desejo e a fidelidade do marido; se a colheita ia mal, se o gado não procriava ou o leite coalhava, ou ainda se houve inundações, granizo e outras mazelas que afetasse a vida do cidadão, era a Feiticeira que procuravam (ou acusavam), para agradar ou castigar (com a morte) mudando-se assim a sorte (novenas e rezas de nada adiantava – se Deus e os Santos não respondiam, então vamos ao Diabo)...”.

Assim, a Bruxa, a Feiticeira, a Sorcery ou como dizemos em nossas terras tupiniquins a “mandingueira”, era procurada pelo “profano”, para prover “benefícios ou malefícios” (dependo da ótica de quem executa os atos, de quem sofre as ações e de quem observa a sua atuação):

Deste modo, podemos dizer que a Bruxa podia (e pode) garantir fertilidade, prosperidade, cura, sexualidade, amor, infertilidade, desgraça, doenças, impotência e separações amorosas, etc, pois à Bruxa pertencia (e pertence) a benção e a maldição; e ela era (e é) com freqüência uma Besta e um Anjo, ou para não ferir as consciências pseudo-pagãs, “Luz e Trevas”, “Boa ou Má”.

No século XXI a Bruxaria não pode ser (mais e) apenas encarada nos dias atuais (com toda tecnologia e avanços científicos), como remediadora de mazelas sociais e resolutora de problemas pessoais e sentimentais, devemos de uma vez por todas deixar de sermos a última fronteira entre eles (profanos) e a sua estupidez, ignorância e loucura de desejos e luxúrias, pois para tais coisas existem certas seitas da cristandade e os diversos centros e barraquinhas de esoterismo e pseudo-magia.

O nosso dever como Bruxos e Bruxas da Casa Corvos Sagrados e da Tradição Ibérica é prover às nossas crianças nascidas do puro sangue-bruxo de transmissão única, os meios para que possam viver nossa Arte de acordo com os “verdadeiros” mistérios que são transmitidos geração após geração e revelar-lhes o que há por detrás da ascensão de Perséfone, Inana, Isis ou qualquer nome-forma-símbolo-divinos, ou seja, que a primavera é muito mais que uma festa agrícola ou sazonal, ela marca a ascensão da Madona Negra, “Nossa Senhora dos Reinos Infernais” em seu aspecto de Luminosa-Serpente-da-Iniciação, na Consciência-Semente-Corpo do Buscador.

3. A PRIMAVERA - AS IMAGENS ARQUETIPICAS DA BRUXARIA NO ESPELHO DO EGO.
O Sabbat das Bruxas, com todas as suas conotações arquetipicas eivadas de imagens da psique coletiva da cristandade medieval, graças ou não aos escritos inquisitoriais, trás no seu bojo, um “focus” iniciatório capaz de levar o ser humano a auto-transformação e auto-deificação. Essas imagens arquetipicas (Lúcifer, Diabos, Anjos, Vampiros, Lobisomens, inferno, Céu, Caim, etc..) foram utilizadas e adaptadas a idiossincrasia da época medieval como forma de amedrontar os recém-convertidos do antigo paganismos (cujos Deuses já estavam mortos) e ameaça-los para que não desviassem da ortodoxia católica; porém, para um Praticante do Ofício:

“...Essas imagens devem ser encaradas como meras sombras emanadas do plano que se acha além do penetrável, no domínio que os olhos, a fala, a mente ou a piedade não alcançam... (Campbell)”

Por isso nos dias atuais dentro da Corrente da Gnosi Sabbática Luciferiana de matiz ibérica, os contornos assumidos por essas imagens arquetipicas presentes na psique, ganharam um sentindo “arcanum”, (i.e), o mito da queda do Anjo Lúcifer-Satã é transportado para um centro iniciatório que verbaliza no silêncio da iniciação o “Logos” da Auto-Transformação e Auto-deificação. Quando isso é encarado e encarnado do espelho do ego, dentro e fora da área de sangue, a benção e a maldição (ou a Luz e as Trevas) que no meio social tem um objetivo disforme, ganha novos contornos, ou seja, o sentido dessas ações “aparentemente” contraditórias uma à outra, quando encaradas sobre o prisma da Iniciação, é a fonte da auto-transformação do “profano barro mortal” perpetrado pelo fogo caído em “ser” de Luz e no espelho do Ego podemos ter a certeza, que mesmo tendo seu “Magistério” fincado a milhares de anos e sendo adaptado à necessidade de cada geração, a Bruxaria continua intacta em sua essência e a transmissão de poder contida na sabedoria da pedra esmeraldina da coroa do Senhor Sacrificado (em cada mito e lenda de cada povo), é carinhosamente cuidada por cada “Formulus” e de forma símil o “Arcanuum” dos mistérios da iniciação, é então desvelando apenas à aqueles capazes de suportar o beijo-vermelho de Nossa Senhora.

4.A PRIMAVERA E O MONOMITO: CANDELÁRIA X PRIMAVERA.

“...Quando Azazel caiu dos céus como uma grande estrela, entronizado com a Coroa de Esmeralda do aethyr mais alto, ele desceu em chamas como um ardente meteoro. Ele mergulhou para as profundezas da terra, para as áreas mais escuras onde nenhum ser de luz morou... Ele se despertou brilhantemente iluminado, uma Escura Estrela que viu o Fogo de Céu. Quando o fogo caiu do céu para a terra, vindo de meu pai ele percebeu então que o mundo de carne, e que os planos Espiritual e Material foram ao mesmo tempo trazidos juntos em união e existência... Entendendo, ele sentiu que este fogo foi iluminado no interior... sentiu um momento de triunfo, ao perceber que o Ego e Vontade existem em formas mais fortes - separados, isolados e belos[1]. Ele se levantou, ainda debilitado, ainda desafiante e satisfeito com o sucesso nesta terra de pesadelos, ele começou a suscitar os muitos que dormiam desde o choque da queda ao redor dele....Ele era fogo e seu reino era o ar, ele era morte e vida. Eu me lembro como meu pai possuindo Adão montou[2] em minha mãe Eva como um Dragão, conduzindo-se profundamente dentro do âmago dela, inflamado com o Espírito de Lilith. Estes, Adão e Eva, eram meus pais da terra, mas era o sangue de Azazel, frequentemente chamado Samael e de Lilith que corria nas minhas veias. Foi essa paixão e possessão que me trouxe para a existência, (Cain) o primeiro nascido do sangue bruxo no círculo da coroa de esmeralda do Dragão... Ele falou da percepção e daquilo que pretendiam tornar-se e de realizarem seus próprios desejos, eles eram livres. Fez com que sua mente se tornasse como a da serpente, isolada e independente – assim como a Chama que era sagrada e bela, Azazel agora podiam compreender tanto o bem e o mal, a Sombra e a Luz... Lúcifer, meu Iniciador Angélico, minha Alma e meu Pai, compreendeu que ele era tanto um Demônio como um Anjo, que ele era a beleza e a feiúra. Todos aqueles no círculo dos espíritos fizeram um pacto sagrado para entrar no Mundo de Horrores e fazer a sua vontade....Eu também tinha sido ensinado instintivamente, este era um dom de meu pai...E ele era o dragão. Ele era a essência da chama, que aperfeiçoou o barro vermelho com calor... estas são as chamas do Espírito que queima tão luminosa, essa é a tocha[3] (nos chifres do Bode) que deve ser revelada pelo meu Pai[4]..”. (Ford).

Por detrás das imagens contidas nessa narração, esconde-se o mistério de um Monomito e pelo que temos aprendido esse fato, originou as diversas mitologias de descidas aos reinos infernais; quer sejam agrícolas ou mistéricas, todos trazem como pano de fundo a queda “da Luz e do Fogo” nos mistérios escuros, mas porquê não vislumbramos tais coisas, ou o monomito original nas mitologias ou iconografias dos diversos povos? A resposta é que:

“...As mudanças que permeiam a escala simples do monomito desafiam descrição. Muitos contos isolam e ampliam grandemente um ou dois elementos típicos do ciclo completo...diferentes personagens ou episódios podem ser fundidos, assim como um elemento simples pode reduplicar-se e reaparecer sob muitas formas diferentes...As linhas gerais dos mitos e contos estão sujeitas a danos ou ao obscurecimento. As características arcaicas em geral são eliminadas ou reprimidas. Os elementos importados são revisados para si adequarem, à paisagem, os costume ou à crença locais e, no processo, sempre saem prejudicados. Além disso, no sem-número de recontagens de história tradicional, é inevitável a ocorrência de distorções acidentais ou intencionais...nos estágio posteriores de muitas mitologias, as imagens chaves se ocultam como agulhas num palheiro de anedotas secundarias e racionalizações; pois quando a civilização passa de um ponto de vista mitológico para um outro ponto de vista secular, as velhas imagens já não são sentidas ou muito aprovadas....para levar essas imagens a recuperar a vida, devemos procurar, não aplicações interessantes a temas modernos, mas indícios que nos tragam a Luz do passado inspirado. Quando esses indícios iluminadores são encontrados, vastas áreas de iconografias semi-mortas voltam a revelar seu sempiterno sentido humano...(Campbell) “.

Então na Casa dos Corvos Sagrados agora podemos aplicar o texto a Candelária e a Primavera e compreendemos que:

“...A Luz caiu das alturas dos céus para a terra do pesadelo (corpo/psique) iluminando o interior e refletindo no Espelho do Ego (Círculo/Vida) ás máscaras da Besta e do Anjo (Luz e Trevas / Bem e Mal) nos levando a compreensão de que devemos buscar o nosso Verdadeiro Eu ou essência de Fogo que produz Luz (angelical), pela nossa auto-transformação, atravessamos o limiar posto entre os mundos e os tempos, e encontramos o verdadeiro Sabbat do Sonho-Feito-Carne, por esse ato somos purificados e levados a apoteose da iniciação nos reinos do inefável..”.

E por tal compressão fica claro que fomos capazes de saborearmos por alguns instantes - “o trazer a consciência” - o “Eu e as Máscaras”, refletidos na área de sangue. Naquele momento enxergamos luminosidade da faísca do nosso Pai e de Nossa Mãe Espirituais – O Dragão e a Serpente – e a saga do primeiro Bruxo - Iniciadores da Linhagem do Sangue de Fogo. Temos certeza que quando nos lembrarmos de Prometheus roubando o fogo dos Deuses e dando aos humanos, ou quando refletimos sobre a descida de Inana e o Rapto de Perséfone, ou a busca de Isis por Osíris, ou mesmo lemos sobre aos mistérios de Apís ou Mitra, Jesus, Buda, Odim, do Deus Cornudo ou dos Reis Sacrificados e outras tantas mitologias e lendas conhecidas, nos lembraremos do monomito da queda da Luz.

5. A PRIMAVERA - O MITO DA ASCENSSÃO NO ESPELHO DO EGO

"... Foi um dia nos campos (pois eu era agricultor e ferreiro) que Eu (Cain) construí um altar na base de uma árvore e matei e ofertei as partes do corpo de meu irmão sobre este altar, Eu (o decapitei) levei o sangue dele e o seu crânio diante deste portal, e apelei para os meus verdadeiros pai e mãe...(Eles me disseram) Observe Cain, a tigela[5] do crânio (de seu irmão) cheia de sangue, ela mostrará a você àquilo que é velado ao profano, então por meio desta máscara[6] o Caminho do Dragão Vermelho lhes será desvelado, você precisa esta sonhando[7] para ver dentro desta tigela, e eu vou esperar por você lá[8] - “encoberto[9] na cortina carmesim, ocultado dos olhos dos que não podem ver. Segure este crânio e veja os espíritos que caminham com você, pela Ego-Transformação, na reunião dos caminhos[10], esta será para sempre a sua marca - seu pai, o Dragão – O mais Antigo dos Djinn, sempre caminhará com você, e em extasiada meditação vamos transcender com nossas mãos o barro mortal[11].(Ford)...”

O mito de Cain e Abel atrela a si, um sentindo iniciático, onde:

“...Abel é o Sacrificado Homem de Barro (O Ego Não-Iniciado) e (Caim) o Transformado Homem de Fogo (Iniciado e tornado Self) e Auto-transformado em homem da Luz (Um Iniciado Auto Existente ou Seth)...(Chumbley)”

O mito então revela que a luz que caiu na escura e profunda terra do pesadelo se despedaça sobre o barro mortal (Abel) e leva a morte o corpo e a mente do praticante e sobre seus restos mortais, forças internas e externas atuam e do cadáver um broto de fogo (Caim) desperta e força sua ascensão para fora do limiar entre a Luz e as Trevas rumo ao inefável, ele anseia pelos raios do sol de flamas negras da iniciação, e esta desejoso para sorver cada gota das nuvens de tempestade por onde cavalga o cavalo de oito patas de um ano e um dia e por receber o beijo vermelho do relâmpago da meia noite. Por enquanto é apenas um pequeno broto que luta para manter-se vivo num mundo novo, mas estranhamente familiar, mas, um dia será árvore crescida, gerará frutos e sementes (crianças-iniciados), tornando-se a matriz (Seth) cujas raízes estejam fincadas em Helen e a copa alcance os céus, por seu tronco o raio-serpente (Linhagem de transmissão única do sangue Bruxo) subirá enroscando-se após ter saboreado os humos contidos nos restos das arvores do passado (os ossos dos feiticeiros mortos).

“...Deste modo, o nascimento, a vida e a morte do individuo podem ser considerados como uma descida à inconsciência, seguida de um retorno. (Ele) Descobriu e abriu o caminho da luz, para além dos sombrios limites da nossa morte em vida (Campbell com acréscimos do autor)...”

Então ele ascenderá dia após dia, porém, deve deixar suas raízes afundarem cada vez mais na trevas-ktéis da Mãe-Destino Nossa Senhora “AZ”, onde a iniciação é a única porta de retorno à vida. No entanto sua ascensão traduz para o mundo a Luz-Falo que ilumina as trevas-ktéis re-lenbrando a ele que esse é apenas o primeiro passo, pois ele deve buscar compactuar com as forças despertas na queda da Luz-Fogo que agora habitam seu corpo e mente. Forças essas contrárias entre si, porém complementares e totalmente inertes, uma sem a outra, é preciso que ambas sejam posta em movimento e alcancem à consciência, seja como sonho ou ecstasy, ambas conduzem a “apoteose” iniciática e cada uma dessas forças são consideradas.

“... Forças que tocam e põe em jogo às energias vitais de toda psique humana... Elas não são apenas sintomas do inconsciente – como os são efetivamente todos os pensamentos e atos humanos. Mas também (são) declarações controladas e intencionais de determinados princípios de cunho espiritual (luz e trevas) que permanecem constantes ao longo do curso da história humana, como a forma e a estrutura nevrálgica da própria psique humana... Sua manifestação da psique é denominada libido... (Campbell com acréscimos do autor).”

As forças que metaforicamente ascendem, apesar da linguagem referencial, não são de fato os espíritos angélicos e demoníacos das religiões dominantes,

“...são resultados de, e os meios para, a manifestação física da realidade onírica de fora, além do Instante fracionado do Tempo Presente...(Chumbley)”

Elas são poderes que habitam o interior da psique cuja:

“... função conhecida consiste em servir como poderosa linguagem pictorial para fins de comunicação da sabedoria tradicional... Pois tocam... e põem em jogo as energias vitais de toda psique humana... Um Vínculo entre o inconsciente e os campos de ações práticas... (deste modo:) Deus e os Deuses (Anjos, Demônios, Espíritos, Fadas, Duendes, etc..) são apenas meios convenientes – eles mesmos compartilham da natureza do mundo de nomes e formas, embora sejam eloqüentes referências do inefável a que, em última analise levam. São meros símbolos destinados a despertar e por a mente em movimento... (são por assim dizer) metáforas reveladoras do destino do homem, bem como de sua esperança, fé e obscuro mistério... (Campbell, com acréscimos do autor)”.

Tal qual Cain, o primeiro-Bruxo, que matou e decapitou seu irmão (semente) para abrir os portais do limiar, o Adepto, deve entregar a Mãe Terra (Lilith) seu próprio invólucro (barro mortal) e sua psique enraizada na moral vigente em auto-sacrificio, porque somente:

“... Por meio deste Arcanum a Mente é libertada de obsessões vãs e purgada de crenças desnecessárias, que pela sua existência prolongada tornaram-se as doenças do corpo e os demônios da alma... (Chumbley)

Quando esse “arcanum” é realizado na vida, o sacrifício (morte-iniciação) é realizado, gerando a ascensão do verdadeiro “Eu”. Essa ascensão do “Eu” nos mitos e lendas do mundo é ocultada sob a forma de uma restauração, salvação, iluminação, vida e esperança da renovação e renascimento[12] para a sociedade trazida pelo ser-ressurreto. Assim, quando buscamos o alinhamento interior com essas forças, manifestamos no exterior, ou seja, nas práticas de iconostasis e de oração universal:

“ ...que engloba todas as crenças e é aceitável em todos os Templos Verdadeiros; sendo sua virtude (usada) para invocar todos os Deuses - tais como podem ser Convocados – e para transcender aquelas limitações que são impostas ao Artista pela estrutura da linguagem. Esta é a voz do EU com o Eu-Templo[13], As Milhões-de-Formas-de-Ser. É o Dialeto proferido no Grande Sabbat: A fonética articulada do Sagrado Alfabeto...(Chumbley)”
Por meio da realização prática desse “mistério” compreendemos a necessidade da descida ao inferno, como fizeram os Deuses e Deusas mitológicos, e encontramos “o fio de Ariadne” que nos conduz às ordálias iniciatórias. A realização deste “Arcanum” desvela o porquê de Perséfone ter provado as “sementes” de romã do Hades, justifica “Eva” no ato de provar o “fruto proibido” e lança uma luz sobre a “verdade” do pacto com o diabo medieval.

Se queremos ascender na encruzilhada de Nossa Senhora, devemos começar por invocá-la

“ ...no lugar de reunião de três estradas (Qtub). Este ensinamento é um hieróglifo, simbolizando o local de encontro ou junção dos três estados de Conscientização (dormindo, sonhando, acordado), onde o portal para a continuidade da existência está situado. Esta “continuidade” é a Deidade da qual a Deusa é o Aspecto feminino...(Chumbley)”
Quando ela é invocada e ascende no Qtub da encruzilhada é o momento onde o buscador necessita fazer um verdadeiro pacto entre o seu ego e essas forças que se erguem com a Deusa, a fim de que ele possa libertar-se dos mapas enraizados. Porém, no momento na ascensão, se o pacto não é feito e se feito é quebrado pelo buscador, o Ego não é direcionado e o isolamento e beleza da liberdade não é compreendido, a ascensão é nula e leva a loucura e a morte do invólucro corporal em que Nossa Senhora da Iniciação verdadeiramente deve ascender das trevas infernais.

Por tudo isso, as flores, danças, ovos coloridos, perdem a pueridade, mas ganha um sentindo arcano, e assim:

“...Entre estas flores pule e dance! Coroado! Sua pele em chamas no brilho colorido do pavão! Seus olhos como fogo negro no coração da tempestade!...(Chumbley)
E por meio disso podemos encarar na área do sangue, a ascensão de Nossa Senhora dos Reinos Infernais, como a ascensão da luminosa-serpete-raio-da-iniciação que busca a superfície da consciência do Praticante.

Não é esse o mistério anunciado na Primavera?

Não vislumbramos aqui um mesmo principio mistérico contido no monomito da Candelária até a Primavera?

Sim ou não. E essa é toda a essência de nossa Festa da Primavera. Ao bom entendedor meia palavra basta. Por OZ e AZ e por Qayinn. Amém.

® Azezel semjaza Qayinn Lvnae.
Dado em Vilas de Abrantes 21 de Setembro de 2009. 00h01min.


Nâo é preciso plagiar este texto, pois o AUTOR autoriza a reprodução dele, contando que seja respeitada a integridade do mesmo, bem como, sejam dados os devidos créditos (Autor e Link da postagem original).

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[1]No sentido de ser, de existência individual, separada no mundo da forma do todo. Com um corpo, com mente própria, com vontade.
[2]No sentido de cópula sexual.
[3] A Tocha entre os chifres do Bode Sabbatico, revela a essência divina dele e dos que trazem a marca (barro vermelho), demonstrando, que mesmo tendo um corpo de corrupção (lei-se material e animal) estes trazem dentro de si aquela chama, aquele vislumbre da luz caída que nos eleva a Luz Ilimitada (Gael).
[4]A Estrela é um termo arcanum para seres divinos ou sagrados, os habitantes do limiar: Deuses, Anjos, Djinns e Daemons; A Luz é a Serpente-conhecimento-semente, a Razão, o inicio, o principio de vida que contém o gérmen da morte. A Escura Terra de pesadelo é o corpo, a psique e por extensão, o útero da Deusa e o Suco cavado para receber a semente; enquanto que o fogo é o elemento transformador por excelência, molda e modela, destrói e constrói, ilumina e reflete a si - mesmo no espelho do Ego; O Rastro da Luz ou Relâmpago é o forcado, o cajado, o arado que abre o sulco e por analogia o Pênis ou falo - divino que penetra o útero (terra) da Grande Deusa Mãe (Mater = Matéria = Existência = Destino); o Dragão (Samael/Leviatã) é o Caminho Tortuoso da Iniciação com suas ordálias, freqüentemente, ele é também um anjo (Azal’Ucel), revelando que por detrás da aparente forma medonha uma eterna e iluminada forma de luz que nos guarda, ele é Adversário-Opositor da Via e o Arcanum dos Arcanum da Iniciação.
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[5] Tigela, cavidade, cuia, taça, feitos com o crânio (Gael).
[6] O autor usa a palavra “VEIL” que significa: véu, manta, xale, máscara, vendar, cobrir, capa, disfarce, manto, máscara (Gael).
[7] Hipynogogia, sonho induzido, (Gael).
[8] Depois do Véu do Sonho. (Gael)..
[9] O Autor usa no texto a palavra “CAULED”, óbvio erro de grafia, pois não é uma palavra da língua inglesa antiga ou “Old Use Inglesh” , a palavra correta deveria ser “CLAD” significando: encoberto, coberto, vestido, ocultado; esta última não pode ser usada devido a tê-la no contexto da frase (Gael)
[10] QTUB – o Centro, o ponto da Encruzilhada (Gael).
[11] Ao pé da letra seria: “e em extasiada meditação vamos passar através do barro de mãos mortais"
(Gael).
[12]Em linguagem Luciferiana, Autotransformação e Auto-Deificação.
[13] A palavra usada no original “SELF-PANTHEON”, sendo que a tradução ao pé da letra seria “EU-MESMO-TEMPLO”; no entanto, vale salientar que a palavra Panteão é de origem grega (PÁNTHEION), tendo entre outros o significado: 1 Templo, de forma redonda, dedicado a todos os deuses. 2. Conjunto de deuses de uma mitologia. Portanto a palavra usada por nós na tradução como “EU-TEMPLO” deve, a nosso ver ser entendida, até pelo contexto, como sendo ‘EU-TEMPLO-DE-TODOS-OS-DEUSES”.

***Todas as citações de Joseph Campbell, foram extraídas da obra: “O Herói de Mil Faces”.
***Todas as citações de Michael W. Ford foram extraídas das obras: “The Book Of Cain” e “Vox Sabbatum”.
***Todas as citações de Andrews D. Chumbley foram extraídas da obra: “The Azoetia”.

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